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Ricardo Cavallini

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Google foi rápido para encarar o ChatGPT? Não caia nessa. Aqui está a real

Google é uma das empresas mais fortes quando o assunto é inteligência artificial - Gerd Altmann/ Pixabay
Google é uma das empresas mais fortes quando o assunto é inteligência artificial Imagem: Gerd Altmann/ Pixabay

09/02/2023 04h00

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Se acompanha a minha coluna (ou qualquer outra publicação) já deve ter ouvido falar do tal ChatGPT. O chat que responde usando inteligência artificial (IA). Um sucesso absurdo que bateu recordes de número de usuários. Abocanhou um milhão em apenas uma semana e 100 milhões em dois meses do lançamento.

A Microsoft já integrou a solução com sua plataforma Teams para, entre outras coisas, fazer atas das reuniões automaticamente. Muito em breve poderemos perguntar para o Teams quantas vezes o estagiário falou besteira ou quantas vezes o tiozão precisou ser avisado que estava falando no mute.

Sem perder tempo, a Microsoft também anunciou que vai integrar a solução em seu sistema de busca, o Bing.

Com todo o impacto na mídia, muitas atenções se voltaram para o Google. Eu mesmo falei sobre isso.

Mas o gigante acordou.

A empresa anunciou a volta de seus fundadores Larry Page e Sergey Brin e até tivemos matérias apontando que Sergey voltou a programar. Em duas semanas anunciaram o Bard, o concorrente do ChatGPT.

Caramba, como o Google foi rápido para responder ao desafio.

Besteira.

Nada disso é feito de última hora. É tudo storytelling. Aliás, é perfeito. Até os heróis voltaram a programar. Que legal. Daria um bom roteiro para documentário da Netflix.

Gente, o Google já tem soluções há muito tempo. O Google é uma das empresas mais fortes quando o assunto é IA.

Porém, como qualquer outra grande empresa, não fazia sentido para o Google acelerar uma tecnologia que vai impactar sua receita e seu lucro.

Eles esperaram o máximo possível para fazer isso. Esperaram inclusive a repercussão, não apenas em número de usuários mas também da imprensa e do mercado financeiro.

No momento que a água bateu na bunda, pronto, em duas semanas tinha um concorrente pra divulgar.

Podemos até discutir se a estratégia é boa ou não, mas isso não é falta de estratégia, esta é a estratégia.

E é assim que o mercado inteiro funciona.

Existe um padrão que é colocado como patamar aceitável. Como um leilão da mediocridade, ganha quem der o menor lance, o menor incremento, a menor melhoria.

De vez em quando, alguém lança uma inovação relevante. Quando isso acontece, o mercado apenas muda sua régua, passando a lançar cópias deste produto.

O exemplo mais óbvio é o iPhone. Hoje, passados mais de 15 anos, continuamos tendo apenas melhorias incrementais, seja da Apple ou dos outros fabricantes. Uma tela maior, uma tela com mais resolução, uma câmera a mais, duas, três... Nada diferente das melhorias incrementais e ordinárias que já eram feitas antes do patamar aceitável mudar de nível.

Algumas indústrias fazem isso com maestria, lançando versões novas de produtos cujas mudanças são apenas cosméticas ou de nenhuma relevância. Uma cor nova, uma leve mudança no design ou alguma feature nova nada relevante.

A Apple aliás, parece ter já seus óculos de realidade virtual há um tempo. Mas quando vão lançar o produto que pode prejudicar parte das vendas do iPhone? Enquanto a maior parte do lucro do mercado de smartphones for para o seu bolso, não existe muito motivo para isso.