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REPORTAGEM

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Sexo e códigos: a primeira peça escrita por um robô é erótica

Cena de "I.A.: Quando um robô escreve uma peça" - Divulgação/ Alena Hrbková
Cena de "I.A.: Quando um robô escreve uma peça" Imagem: Divulgação/ Alena Hrbková

Felipe Germano

05/03/2021 04h00Atualizada em 05/03/2021 18h59

A primeira vez que falaram a palavra "robô" foi numa peça. E na República Tcheca. Mérito do Karel Capek, um autor que em 1920 cunhou o termo e já aproveitou para batizar sua obra mais famosa: R.U.R. (sigla para Rosumovi Univerzální Roboti, ou "Robôs Universais Rossum", em português). Nada mais justo, então, que quando um grupo de pesquisadores resolveu comemorar esse centenário bolou uma... peça. Mas, dessa vez, o texto seria escrito, olha só, por um robô. E deu certo!

Só que uma coisa não estava programada: a quantidade de sacanagem que a máquina iria conceber.

Com o autoexplicativo título "I.A.: Quando um robô escreve uma peça", a obra se tornou a primeira peça escrita por uma inteligência artificial. Fruto de uma pesquisa da Universidade Carolina de Praga, o texto narra a história de um robô que tenta entender a humanidade andando por aí em saltos plataforma. Um Frankenstein, mas com um quê de Ney Latorraca na novela "Vamp".

A questão é que o protagonista quase sempre acaba encontrando mulheres, e essas interações não raramente envolvem gemidos e cenas não só sugestivas como sexuais de fato.

"Qualquer cena que ele escrevia, não importando quais personagens envolvia, acabava ou com violência ou com sexo.", contou à BBC inglesa David Kostak, o humano encarregado de supervisionar os textos da peça robótica.

Cartaz divulga estreia online da peça teatral - Divulgação - Divulgação
Cartaz divulga estreia online da peça teatral
Imagem: Divulgação

Para dar o tom: em uma cena, o protagonista fala sobre os lábios de "mel quente" de uma de suas pretendentes, logo antes de dizer que quer "fazer amor por todo corpo" dela. Em outra, ele inveja seu par dizendo querer poder "ter um corpo como esse". O ápice, no entanto, talvez seja o trecho onde um homem tira as calças para a máquina humanoide e diz "você tem um dedo na minha bunda". Arte.

O robô, no entanto, pode botar a culpa em ninguém menos que Elon Musk, e o bilionário com certeza tem como repassar essa bucha para o restante de nós.

O texto foi todo escrito pelo GPT-2, ferramenta de inteligência artificial idealizada pelo chefão da Tesla. Mas, para funcionar, a tecnologia se baseia na forma como nós, humanos, escrevemos. A fonte de inspiração (e má influência) é toda nossa.

"É interessante porque se virmos as obras que nós [humanos] escrevemos, seja sci-fi ou romance, o sexo e a violência inevitavelmente acabam aparecendo", afirmou Kostak. "Então, claro, faz sentido. Mas também gera uma reflexão".

Coube aos pesquisadores apertar os gatilhos. A máquina pedia uma frase e, a partir dela, gerava até 1.000 palavras. Coisa pra caramba, diga-se de passagem, esse texto todo tem menos de 600. O primeiro trechinho usado para inspirar a ferramenta foi: "Olá, sou um robô e é um prazer convidar vocês para ver a peça que escrevi".

No total, a peça é composta por oito cenas, cada uma com cerca de cinco minutos, que acompanham o robô protagonista. Para elas funcionarem, no entanto, mãos humanas tiveram que entrar na jogada. Os pesquisadores editaram o texto para retirar falas repetidas e consertar algumas sentenças que não faziam sentido. Os envolvidos clamam que o resultado é 90% máquina e 10% gente.

A peça, caso você esteja na curiosidade, foi exibida no último dia 26, e garantiu um público bom: transmitida numa live, alcançou 18.500 visualizadores. Mas o vídeo não está mais disponível, e para ver a peça de novo só quando a pandemia acabar. E, ah, no teatro Svanda, em Praga.

Pra mim é meio fora de mão, mas caso você esteja passando pelas redondezas, fica a dica.