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Thiago Gonçalves

REPORTAGEM

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Brasileira me mostrou por que o planeta que ajudou a descobrir é diferentão

Ilustração artística do planeta GJ 1132 b. A atmosfera é representada por uma fina camada azulada, tal qual seria vista se estivéssemos mais próximos ao planeta - Nasa/ ESA/ R. Hurt (IPAC/Caltech)
Ilustração artística do planeta GJ 1132 b. A atmosfera é representada por uma fina camada azulada, tal qual seria vista se estivéssemos mais próximos ao planeta Imagem: Nasa/ ESA/ R. Hurt (IPAC/Caltech)

18/03/2021 04h00

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Na última semana, cientistas de uma equipe internacional anunciaram a descoberta de um planeta com uma atmosfera reciclada, algo nunca visto antes. A equipe conta com duas brasileiras: Raissa Estrela, do Laboratório de Propulsão a Jato (JPL) da Nasa, e Adriana Valio, da Universidade Presbiteriana Mackenzie.

A descoberta incluiu observações do planeta GJ 1132 b com o telescópio espacial Hubble, além de complexos modelos químicos teóricos. Segundo os modelos, o planeta teria sido criado como um planeta um pouco menor que Netuno, mas a intensa radiação de sua estrela hospedeira teria causado a perda de sua atmosfera, composta sobretudo por hidrogênio e hélio.

No entanto, a equipe liderada por Mark Swain, também do JPL conseguiu detectar uma atmosfera remanescente, composta por substâncias mais complexas como cianeto de hidrogênio e metano. Segundo os modelos, essas substâncias teriam sido criadas pela atividade vulcânica do próprio planeta, que absorveu parte dos gases presentes inicialmente e os reprocessou.

Eu conversei com a Dra. Estrela, que discute a importância da descoberta: "o interessante é que o planeta tem aproximadamente a mesma idade e densidade que a Terra. No entanto, sua história evolutiva é distinta, por orbitar uma estrela anã vermelha, diferente do nosso Sol."

As observações não são simples. Como o próprio planeta praticamente não emite nenhum tipo de radiação, os cientistas são obrigados a esperar o momento em que ele passa em frente à estrela, e medir a pequena modificação na luz da estrela devido à radiação que atravessa a atmosfera planetária. Essa modificação nos dá as pistas necessárias sobre a composição química da atmosfera.

Embora mesmo com o Hubble as observações representem um desafio técnico, as coisas serão diferentes com a chegada do telescópio espacial James Webb, no final do ano.

"A maior cobertura espectral do James Webb nos permitirá identificar outras moléculas na atmosfera de GJ 1132 b, como a água ou o dióxido de carbono, por exemplo", diz Estrela.

Com mais dados, os cientistas podem tirar conclusões mais precisas sobre o processo de reciclagem da atmosfera.

No final, um dos principais objetivos é entender a formação de atmosferas planetárias, um campo que ainda é jovem devido à falta de dados, mas que deve sofrer uma importante revolução na próxima década com o advento do James Webb e outros telescópios terrestres gigantes.

Um dos maiores desafios do campo é entender a distinção entre sub-Netunos e super-Terras, e a possível perda da atmosfera. Ao investigar planetas mais jovens, talvez possamos encontrar o elo perdido dessa evolução.

"Atmosferas mais ricas em hidrogênio são mais 'inchadas', cobrindo uma parte maior da estrela de fundo e configurando melhores alvos para as observações", afirma Estrela. Atmosferas como a da Terra, por outro lado, são mais ricas em nitrogênio, mais compactas, e mais difíceis de serem observadas.

Estou aqui torcendo para que Raissa Estrela, Adriana Valio e mais pesquisadores brasileiros continuem fazendo suas importantes descobertas para sabermos mais sobre a formação das atmosferas de planetas no futuro!