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"Ultrapobre": brasileiros encontram uma das estrelas mais raras do universo
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Um projeto astronômico brasileiro anunciou essa semana a descoberta de uma das estrelas mais pobres em carbono já observadas. O resultado desafia nosso entendimento sobre a origem das primeiras estrelas, contrariando os modelos de formação mais comuns.
Vinícius Placco é o brasileiro líder do estudo e trabalha atualmente no Laboratório Nacional de Pesquisas Astronômicas no Óptico e Infravermelho dos Estados Unidos. Ele ressalta como as estrelas ultrapobres em metais são raras:
"Atualmente, o grupo de estrelas ultrapobres em metais é composto por apenas 35 estrelas", diz.
A origem dos metais
Ao contrário dos químicos, astrônomos chamam quase todos os elementos de "metais", com exceção do hidrogênio e do hélio. Fazemos isso porque esses dois átomos foram produzidos no Big Bang, mas a maior parte dos outros elementos conhecidos foi formada no interior de estrelas.
As estrelas produzem energia graças à fusão nuclear, ou seja, a "junção" de átomos de hidrogênio. Essa fusão produz elementos cada vez mais complexos, incluindo aqueles necessários para a existência de vida na Terra, como carbono, oxigênio, ferro etc.
Dessa forma, podemos entender como as primeiras estrelas eram praticamente puras em hidrogênio e hélio. Apenas após a sua morte, o material produzido em seu interior pode ser lançado de volta ao espaço, de forma que a geração seguinte, ao ser formada desse material "poluído", será composta por outros elementos.
Nesse contexto, o estudo de estrelas ultrapobres em metais é fundamental para entendermos as origens dos elementos químicos.
Essas estrelas são aquelas que se formaram há muito tempo, quando ainda havia poucos "metais" no universo, e assim nos oferecem pistas importantes para podermos investigar essa primeira geração de astros. São como fósseis vivos.
O resultado de Placco é interessante porque uma estrela com essa composição, e em particular com tão poucos átomos de carbono, seria uma estrela de segunda geração, formada após a explosão de uma única estrela com cerca de 30 vezes a massa do Sol.
Até hoje não se sabe se essa primeira geração poderia ter menos de 100 vezes a massa do Sol, e o trabalho indica fortemente que a resposta é sim.
Um projeto nacional
A descoberta foi possível graças à utilização do S-PLUS, um projeto brasileiro de mapeamento do céu liderado por Claudia Mendes de Oliveira, da Universidade de São Paulo. O telescópio conta com uma câmera de quase 100 megapixels, capaz de observar grande parte do céu de uma vez só, o que facilita a busca por objetos raros.
Além disso, o projeto é capaz de observar com filtros especializados na medição da quantidade de metais em estrelas e galáxias. Dessa forma, ao contrário da técnica tradicional que depende da observação cuidadosa de cada estrela individualmente, a equipe pôde avaliar 700 mil estrelas de uma vez, selecionando cuidadosamente os objetos mais interessantes para estudos mais aprofundados.
A equipe se mostra animada com a perspectiva de encontrar mais objetos semelhantes. Segundo eles, a descoberta abre portas para a busca efetiva por estrelas ultrapobres em metais com projetos semelhantes. Que venham mais estrelas velhas por aí!
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