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Thiago Gonçalves

REPORTAGEM

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

Matéria escura de buracos negros pode ter gerado crateras na Lua

Imagem da cratera Schmidt obtida pela missão Apollo 10 - Nasa
Imagem da cratera Schmidt obtida pela missão Apollo 10 Imagem: Nasa

09/12/2021 04h00

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Esse talvez seja o título mais clickbait que você verá hoje em um artigo científico. Ainda assim, posso garantir que a ciência aqui é real, ainda que talvez um pouco especulativa.

Explico: um trabalho publicado esse ano por Almog Yalinewich, do Instituto Canadense de Astrofísica Teórica, e Matthew Caplan, da Universidade Estadual de Illinois, propõe uma observação inusitada para testar um modelo de matéria escura.

A matéria escura, como sabemos, é um componente abundante no universo, responsável pelo excesso de gravidade que observamos na dinâmica de galáxias e aglomerados, por exemplo. No entanto, por ser absolutamente invisível a qualquer instrumento (como o próprio nome indica), não sabemos exatamente de que tipo de partícula ela é composta.

Temos várias hipóteses, ainda não confirmadas. Vários experimentos já foram feitos, sem sucesso, restringindo cada vez mais a lista de modelos que podem explicar as observações. Com isso, algumas propostas mais exóticas acabam sendo mais atraentes, entre elas a de buracos negros primordiais.

Os buracos negros são objetos conhecidos da astronomia. Podem ser gerados a partir da morte de estrelas ou formados no centro de galáxias. Mas alguns cientistas acreditam também que miniburacos negros podem ter sido criados no começo do universo, menos de um segundo após o Big Bang.

Embora o modelo não seja definitivo, é possível que a matéria escura seja composta justamente por esses buracos negros — afinal, eles não produzem luz. Seriam esferas pequenas, menores que uma bola de pingue-pongue, mas com massas comparáveis à de um planeta como a Terra.

O interessante é que, embora não saibamos do que a matéria escura é feita, sabemos sim quanto dela existe. Podemos então inferir quantas dessas pequenas esferas estão vagando por aí, e qual a chance de que tenham possivelmente se chocado com um corpo no Sistema Solar ao longo dos seus bilhões de anos de existência.

Esse choque, devido às propriedades particulares dos buracos negros, geraria uma cratera muito particular, com um formato distinto das crateras geradas pelo impacto de meteoros. A mineralogia da cratera também seria única, devido à grande pressão do choque com um corpo tão compacto e denso.

Segundo os pesquisadores, a chance de que algo assim tenha se chocado com a Lua é de cerca de 10%. A Lua é um excelente candidato, tendo em vista a ausência de atmosfera, o que preservaria as características da cratera por muito tempo.

As chances são muito baixas, mas o mesmo raciocínio pode ser aplicado para outros corpos rochosos e sem atmosferas no Sistema Solar. Assim, podemos pensar em uma busca interplanetária por traços dessas colisões, o que poderia confirmar a hipótese dos buracos negros primordiais como componentes da matéria escura.

Para ser sincero, acho pouco provável que isso se confirme, devido a várias evidências observacionais que tornam o modelo improvável.

Por outro lado, gosto de como o trabalho apresenta um raciocínio rigorosamente científico: uma hipótese teórica, que pode ser testada experimentalmente no futuro a partir de observações diretas. Um exemplo de como o método científico pode ser aplicado em diferentes ocasiões.