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Trabalho premiado: como astrônomos fizeram os melhores mapas da Via Láctea
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A União Astronômica Internacional anunciou esta semana que os pesquisadores Lennart Lindegren, da Universidade de Lund, na Suécia, e Michael Perryman, da Universidade de Dublin, na Irlanda, são os ganhadores do prestigioso prêmio Shaw de Astronomia deste ano.
Os dois foram reconhecidos pelo seu trabalho nas missões espaciais Hipparcos e Gaia, que produziram os melhores mapas que temos de nossa galáxia, o que considero uma boa oportunidade para explicar um pouco como esses dados são obtidos e utilizados.
As duas missões foram lançadas pela agência espacial europeia: o Hipparcos em 1989, e o Gaia, seu sucessor, em 2013. Enquanto a primeira missão catalogou pouco mais de 100 mil estrelas, a segunda deve observar e acompanhar 1 bilhão de objetos.
Ambos funcionam de forma semelhante, medindo com altíssima precisão a posição de cada estrela catalogada. Essa lista então se torna uma importante referência para o resto da comunidade astronômica, que agora pode usar esses catálogos como mapa para determinar a posição de outros objetos em suas imagens.
O Gaia foi muito mais longe, graças à sua capacidade de observar objetos mais fracos. Assim, ao contrário do Hipparcos, ele não estava restrito à vizinhança solar, e conseguiu medir até mesmo a posição de estrelas em galáxias vizinhas, a centenas de milhares de anos-luz de distância.
No entanto, o poder destes telescópios é ainda maior. Ele não apenas mede a posição das estrelas, mas é também capaz de medir a distância até elas, algo que sempre representa um desafio.
Estrelas, para os astrônomos, são sempre pequenos pontos brilhantes no céu, e é impossível medir diretamente a distância até elas. Para um determinado brilho aparente, poderia ser uma estrela muito luminosa e muito distante, ou pouco luminosa e mais próxima.
Para resolver o problema, uma das principais técnicas utilizadas é a da paralaxe. Imagine que você está vendo um avião no céu; um avião levantando voo, próximo ao solo, parece se mover muito mais rapidamente que um avião no céu, devido à grande distância entre vocês.
O Hipparcos e o Gaia usavam o mesmo princípio geométrico, mas usando a mudança aparente na posição das estrelas enquanto a Terra gira ao redor do Sol. Quando mais próxima a estrela, mais ela parece se mover no céu ao longo do ano.
Vejam bem, essa mudança é muito pequena. Algo equivalente a um amigo seu que desse dois passos para o lado... no planeta Vênus! Imagine poder detectar uma mudança de posição tão sutil. Esse é o poder do satélite Gaia.
Como sabemos exatamente a distância da Terra ao Sol, podemos fazer uma triangulação para determinar a distância a cada estrela no catálogo, criando, efetivamente, um mapa tridimensional de um bilhão de estrelas ao nosso redor.
Não é apenas um feito impressionante, mas algo de extrema utilidade para todas as áreas da Astronomia.
Um prêmio merecido, e um belo reconhecimento a estes projetos de altíssimo impacto. E no ano que vem, quem será que ganha? Talvez os responsáveis pela imagem do buraco negro?
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