Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
China descobriu sinais de civilização extraterrestre? Não é bem assim
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Talvez você tenha lido essa semana que a China teria encontrado sinais de civilizações extraterrestres. No entanto, a história não é bem essa. Vou tentar explicar da melhor maneira possível.
A melhor fonte original que consegui encontrar, no "Diário de Ciência e Tecnologia" do ministério chinês, dizia que o professor Zhang Tongjie encontrou diversos sinais de rádios que são possíveis candidatos a emissões de civilizações extraterrestres. Na minha opinião, uma frase exagerada, mas não é nem de longe a evidência conclusiva que algumas manchetes podem dar a entender.
O cientista afirmou que ainda seria necessário investigar cuidadosamente os sinais. Afinal, ele próprio admite que provavelmente são fontes de ruído oriundas da própria Terra.
O instrumento usado no trabalho foi o FAST, que é atualmente o maior telescópio da Terra, com um diâmetro de 500 metros. Se quisermos buscar sinais de vida inteligente, ele realmente é um grande aliado, com sensibilidade incomparável. Mas a experiência com projetos semelhantes mostra que é sempre necessário tomar muito cuidado com descobertas espúrias.
Por exemplo, já escutei a história de cientistas em um radiotelescópio que estavam detectando estranhas fontes periódicas, sempre ao redor do meio-dia. Algum tempo depois, descobriram que o instrumento era tão sensível que estava captando o abrir e fechar do forno de microondas do escritório na hora do almoço.
A imprensa e o telefone sem fio
Mesmo com todas as ressalvas, a notícia se espalhou rapidamente. Manchetes cada vez mais bombásticas afirmavam que a China teria encontrado sinais de civilizações extraterrestres — e apenas o final do texto mostrava que não era bem assim.
O problema é que a imprensa frequentemente segue o modelo da brincadeira de telefone sem fio. Ao invés de verificar as fontes, usam a história original de um jornal estrangeiro para reproduzir uma matéria com tons mais alarmistas. É uma filosofia de caça-cliques, não de jornalismo investigativo.
Isso para mim é um pouco sintomático também da visão comum sobre o trabalho em astronomia. Muito embora grandes avanços tenham sido possíveis com a pesquisa astronômica, incluindo o GPS e as câmeras digitais, essa ciência ainda é vista em jornais e por grande parte do público como uma curiosidade, uma fonte adicional de entretenimento.
Embora isso às vezes ajude a colocar a astronomia na imprensa, às vezes também acaba por estigmatizar a pesquisa, perpetuando a sensação de "para que isso serve?". Acreditem, já ouvi essa pergunta muitas vezes.
Essa visão atrapalha muito quando devemos buscar apoio do governo para projetos que custam centenas de milhões de dólares; afinal, como investir tanto dinheiro em malucos que acham que estão vendo ETs?
Se quisermos mudar nossa perspectiva sobre a pesquisa em astronomia, devemos lutar um pouco mais para mostrar também os benefícios tecnológicos, os grandes avanços e a parceria com a indústria de ponta. A astronomia de ponta é muito mais que uma excentricidade.
Para isso, precisamos dar o valor merecido aos nossos pesquisadores na mídia. Para que sejam entrevistados, para que possamos verificar as informações que chegam distorcidas de noticiários estrangeiros, e para que a sociedade possa conhecer o talento nacional e a ciência de ponta sendo desenvolvida em território nacional.
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