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No sertão da Paraíba, telescópio vai investigar o setor escuro do universo
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Foi lançada a primeira pedra! Ou nesse caso, os primeiros artigos científicos. Astrônomos brasileiros publicaram uma série de trabalhos descrevendo o radiotelescópio Bingo, que será construído no sertão da Paraíba e tem data prevista de inauguração para o primeiro semestre de 2023.
O telescópio vai observar a emissão de átomos de hidrogênio no universo a distâncias de bilhões de anos-luz de nós, com o objetivo de investigar o chamado "setor escuro" do universo —sobretudo a presença da misteriosa energia escura.
Essa substância enigmática responde por cerca de 70% de toda a composição do universo, mas não entendemos sua origem ou comportamento. Podemos identificá-la apenas através do efeito sobre outros observáveis, como por exemplo a expansão do universo. Não há nada que explique o fato de o universo se expandir cada vez mais rápido, de forma acelerada, com a exceção da presença da energia escura.
Outra consequência mensurável é a distribuição de matéria no universo, e é exatamente isso que o Bingo vai observar. Um mapeamento detalhado de como o hidrogênio se distribui no espaço — através da emissão de ondas de rádio pelos átomos desse elemento— nos fornece pistas importantes sobre a abundância e propriedades da energia escura.
Eu conversei com Carlos Alexandre Wuensche, pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais e um dos líderes do projeto, para que nos contasse um pouco mais sobre o projeto.
Por que colocar o telescópio no sertão da Paraíba?
Wuensche: Porque Aguiar (PB) é o lugar com o menor nível de contaminação em radiofrequência, dentre todos os sítios visitados. Foram analisadas as emissões de 14 sítios no Uruguai, os sites do Inpe em Santa Maria (RS) e Cachoeira Paulista (SP), um sítio em Goiás, e cerca de 15 locais em diversos pontos do estado da PB. Aguiar, dentro da Serra da Catarina, no Vale do Piancó, foi o local mais bem avaliado.
Como você considera a importância do Bingo para a astronomia brasileira?
Wuensche: O Bingo é, provavelmente, o maior projeto ligado à radioastronomia já executado no Brasil, com liderança brasileira e a maior parte de seus subsistemas projetados e construídos no Brasil. Ele envolve hoje cerca de 100 pessoas em vários países do mundo, sendo que cerca de 40% dos membros são brasileiros.
O Bingo formará cientistas qualificados na área de cosmologia, instrumentação em radioastronomia e análise de dados cosmológicos. Ele é um projeto que deverá durar, certamente, mais de uma década, e permitirá a formação de algumas gerações de astrônomos com a experiencia de análise de dados em rádio.
Adicionalmente, o trabalho de extensão e divulgação feito pela Universidade Federal de Campina Grande despertará o interesse de jovens e crianças para a área científica e tornará o estado da Paraíba um polo de pesquisa em radioastronomia e cosmologia, descentralizando essa atividade da região Sudeste do país.
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