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Thiago Gonçalves

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Fotos de Júpiter feitas pelo James Webb tiveram ajuda de astrônoma amadora

Júpiter capturado pela NIRCam do telescópio espacial James Webb - NASA, ESA, CSA, Jupiter ERS Team
Júpiter capturado pela NIRCam do telescópio espacial James Webb Imagem: NASA, ESA, CSA, Jupiter ERS Team

27/08/2022 04h00

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Vocês devem ter visto as lindas imagens de Júpiter produzidas pelo telescópio espacial James Webb. As fotos coloridas mostram diversas propriedades do gigante gasoso de forma inédita, já que nunca havíamos visto tantos detalhes no infravermelho.

Os anéis de Júpiter, por exemplo, são muito mais claros no infravermelho que na luz visível. Por isso aparecem de forma tão impressionante nas imagens do James Webb.

Da mesma forma, a visão das auroras nos polos do planeta é bem evidente nas imagens. Vale lembrar que o campo magnético de Júpiter —responsável pelo fenômeno— é cerca de 20 vezes mais intenso que o da Terra, deixando nossas auroras no chinelo.

Mas para mim, o mais interessante dessa imagem é que ela não foi feita pela Nasa. Claro, as imagens foram obtidas pelo telescópio, em projeto liderado pela pesquisadora Imke de Pater, da Universidade de Califórnia em Berkeley. Mas o processamento foi feito por Judy Schmidt, astrônoma amadora sem qualquer associação formal com a agência espacial norte-americana.

Isso é possível porque as imagens de Júpiter, assim como diversas imagens do James Webb já divulgadas até agora, são públicas. Isso faz parte do programa de Ciência de Lançamento Antecipado do observatório (Early Release Science, no original em inglês).

Esses projetos são escolhidos justamente como casos científicos de grande interesse pela comunidade, que servem para demonstrar o poder do telescópio desde o começo — e Júpiter é uma excelente escolha nesse contexto.

As imagens chegam com diversos artefatos, problemas, ruído, coisas que devem ser tratadas antes de utilizá-las com fins científicos. É um processo comum na astronomia, e algo que estamos acostumados a fazer.

Com as imagens do programa de lançamento antecipado, qualquer cientista no planeta pode pensar em uma forma inovadora de usar os dados e produzir mais descobertas por conta própria.

Claro, o programa permite também que amantes da ciência como Judy Schmidt possam produzir as imagens por conta própria. Nesse caso, o tratamento é muito mais estético que científico, com o objetivo de fazer as imagens bonitas.

A limpeza é semelhante, mas inclui também algumas escolhas de como produzir as cores a partir de diferentes imagens, por exemplo.

Vale lembrar que isso é possível não apenas para esse programa, mas para todas as imagens produzidas por telescópios. A diferença é que, geralmente, astrônomos responsáveis pelas observações têm um período de 12 meses de exclusividade, para que possam utilizar os dados sem medo de competição. Depois disso, estão disponíveis para o resto do mundo.

Por isso, por enquanto apenas os dados preliminares do James Webb estão abertos ao público. Para o resto dos projetos científicos, ainda devemos esperar o período de exclusividade terminar.

Mas você pode ir hoje mesmo no site do Hubble procurar pelo seu objeto favorito e brincar com as imagens no seu computador. É a Astronomia ao alcance de todos!