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Thiago Gonçalves

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

A passagem do tempo e necessidade de humanos buscarem simetrias no Universo

A cada nova volta ao redor do Sol, o ser humano precisa se adaptar e entender os ciclos naturais para sobreviver - NASA/GSFC/SDO
A cada nova volta ao redor do Sol, o ser humano precisa se adaptar e entender os ciclos naturais para sobreviver Imagem: NASA/GSFC/SDO

10/01/2023 10h05

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Mais um ano, mais uma volta ao redor do Sol. E nós, humanos, temos de nos adaptar à passagem do tempo, como fazemos há milênios. Afinal, desde os primórdios da história, dependemos da natureza para nossa sobrevivência, e entender os ciclos naturais é fundamental para nos planejar para o futuro próximo: saber quando plantar, quando colher etc.

O interessante é que o ser humano faz uso da matemática para expressar as repetições periódicas de dias e anos, e temos uma tendência a buscar a ordem na natureza.

Por exemplo, percebemos há muito tempo que os anos têm aproximadamente 360 dias. Isso serviu de inspiração aos babilônios para determinar que um círculo tem também 360 graus. Ao percorrer esse ângulo, damos início a uma nova volta, como um novo ano que começa.

Da mesma forma, os meses, definidos a partir do ciclo lunar (ou seja, o tempo entre duas luas cheias), duram aproximadamente 30 dias. Dividindo o ano igualmente, temos 12 meses no calendário. Doze também são os períodos de dia e noite, completando 24 horas em um dia.

Tudo parece muito simétrico, muito ordenado. O grande problema é que a natureza não se comporta tão bem assim.

Somos nós que tentamos buscar as simetrias matemáticas, mas nem sempre o Universo corresponde às nossas expectativas. Devemos, então, adaptar nossos calendários de acordo: são as famosas gambiarras.

O ano, por exemplo, determinado como o tempo necessário para que a Terra dê uma volta completa ao redor do Sol, não tem 360 dias e, sim, um pouco mais. Contamos 365 dias, mas o valor é mais próximo de 365,25. Dessa forma, a cada quatro anos, devemos adicionar um dia ao calendário; é o ano bissexto.

Pior, essa aproximação também tem erros. O número é mais próximo de 365,2425, o que causou um acúmulo de dias no calendário Juliano, utilizado desde a época do Império Romano, em 45 a.C. Devido ao erro, o equinócio - data em que o Sol está sobre o Equador, iluminando ambos os hemisférios de forma uniforme, fundamental para a agricultura - estava acontecendo dez dias antes do esperado.

A gambiarra da vez foi pular do dia 4 de outubro de 1582 para o dia 15 de outubro, além de determinar que os anos múltiplos de 100 não são bissextos, com exceção dos anos múltiplos de 400. Assim, o ano 2000 foi bissexto, mas o ano 2100 não será. Pode parecer complicado, mas, com essa determinação, o Papa Gregório XIII garantiu que o próximo erro de um dia no equinócio só acontecerá daqui a aproximadamente 7 mil anos. Quando precisaremos de uma nova gambiarra.

Há muitos casos semelhantes: os ciclos lunares, por exemplo, duram, na verdade, 29 dias, 12 horas, 44 minutos e 3 segundos. Podemos buscar as simetrias e padrões repetidos na natureza, mas o universo pode não ser tão matematicamente bem comportado como gostaríamos.

Simétrico ou não, podemos também aproveitar o ano novo de forma mais pessoal, menos matemática. Afinal, independentemente da duração do ano, é uma oportunidade de aproveitar e pensar no que gostaríamos para os próximos 365,2425 dias. Assim, fica aqui o meu desejo de um excelente 2023 para todas as leitoras e leitores!