Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Como influenciadores deturparam caso das galáxias que não deveriam existir
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Na semana passada, eu acompanhei toda a discussão nas redes sociais sobre as tais "galáxias que não deveriam existir". Explico.
O telescópio espacial James Webb, em mais um de seus resultados importantes, descobriu algumas galáxias que parecem ser grandes demais para a época em que viviam. Lembrando: como estão a cerca de 13 bilhões de anos-luz de distância, estamos observando como elas eram quando o universo tinha apenas 500 ou 600 milhões de anos de idade.
E essas galáxias já eram enormes, segundo o artigo liderado por Ivo Labbé, da Universidade de Swinburne, Austrália. Mesmo tão cedo, elas já possuiriam 100 bilhões de estrelas, algo comparável à nossa própria Via Láctea, indicando um crescimento inicial muito rápido. O trabalho foi aceito para publicação na revista Nature.
É verdade, se confirmado, o resultado desafia o nosso entendimento sobre como galáxias se formam.
Nossos modelos mais tradicionais preveem galáxias pequenas, ainda em fase de crescimento, e é difícil explicar como tantas estrelas podem ter se formado tão rápido.
Temos que considerar a possibilidade de que as estruturas cresçam de forma mais eficiente no começo do Universo, e por isso mesmo dizemos que essas galáxias enormes, pelo menos segundo nossa compreensão atual mais conservadora, "não deveriam existir."
Um trabalho interessantíssimo, sem dúvida. E na verdade esse é um trabalho entre vários que vêm aparecendo nas últimas semanas, com resultados semelhantes obtidos com o mesmo telescópio.
Mas vamos com calma.
Primeiro, é preciso confirmar esses números. Esse tipo de medida é notoriamente difícil, e os próprios autores afirmam que devem observar estas galáxias com mais instrumentos para ter certeza de que são realmente tão grandes e massivas quanto parecem.
Isso é a discussão científica, e o debate gerado na comunidade acadêmica é saudável.
O que não é saudável, por outro lado, é a famosa treta de internet, que afoga a notícia em um mar de sensacionalismo.
O grande problema aqui é como os chamados influencers de ciência buscam, a todo custo, atrair cliques e likes com manchetes que em nada refletem o verdadeiro conteúdo da pesquisa. Pior, muitas vezes não são especialistas no assunto, e não conseguem distinguir o joio do trigo.
A consequência? Uma série de argumentos sobre a veracidade do Big Bang, e se o universo não teria nascido em uma época diferente.
Como estudioso da formação de galáxias, venho dizer para vocês:
Entendemos muito melhor a idade do universo do que o nascimento de galáxias nesta época. Sabemos bem onde estão as incertezas, e o James Webb está aí justamente para nos ajudar a entender essa formação —não para colocar em dúvida o Big Bang.
Vejam bem, não acho que a divulgação científica deva ser feita apenas por especialistas no assunto, muito pelo contrário. Afinal, muitos divulgadores sabem muito mais sobre a comunicação que os cientistas, que, convenhamos, muitas vezes são péssimos na frente de uma câmera ou uma plateia.
Mas a verdadeira divulgação científica vem da sinergia entre esses grupos, comunicadores e cientistas.
As redes sociais, no entanto, às vezes parecem deturpar essa ideia, misturando a figura de divulgador e especialista em apoio a um exacerbado culto à personalidade.
Quem sofre é o público, desprovido de informação confiável.
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