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Artemis 2 leva representatividade à Lua, e o que vai trazer para a Terra?
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Há alguns anos, uma colega me contou, animadíssima, como estava levando sua filha para assistir a uma concorrida palestra de Mae Jamison, a primeira astronauta negra a viajar para o espaço. Essa colega, astrofísica na Nasa de origem indiana, estava ansiosa para mostrar à filha uma astronauta que fosse mais parecida com ela.
É esse tipo de impacto que espero que a equipe da missão Artemis 2, que acaba de ser anunciada, tenha.
- Cristina Koch, engenheira e com longa experiência em viagens espaciais, será a primeira mulher a orbitar a Lua
- Victor Glover será o primeiro astronauta negro em uma viagem à Lua
Esse tipo de iniciativa é visto com ceticismo por algumas pessoas mais cínicas, mas não devemos descartar a importância da representatividade em missões de grande visibilidade como essa.
Inspirando jovens de origens diversas, podemos esperar atrair mais talentos para a ciência espacial no futuro.
Meu ceticismo, por outro lado, reside com a própria missão, como já havia discutido um pouco na coluna da semana passada.
No caso da Artemis, ainda tenho um pouco mais de confiança, tendo em vista que o projeto é um programa de agências espaciais governamentais, mas devemos cobrar que o retorno de investimentos públicos seja efetivamente revertido para a população de alguma forma.
O programa Artemis foi desenvolvido de formas diferentes ao longo das últimas décadas, mas a programação atual prevê uma missão tripulada (Artemis 3) na superfície da Lua em 2025, a primeira em mais de 50 anos.
A Artemis 1 foi lançada apenas com bonecos no ano passado, e a Artemis 2, cuja tripulação acaba de ser anunciada, será uma órbita ao redor do satélite natural da Terra em 2024.
O objetivo a longo prazo é estabelecer uma base permanente na Lua, e eventualmente servir de estágio inicial para uma ambiciosa missão tripulada a Marte.
Devemos, no entanto, manter uma visão crítica no que diz respeito aos benefícios colhidos com essas iniciativas.
Não há dúvidas de que o retorno científico de uma base na Lua pode ser positivo e interessante. Já há, por exemplo, diversos projetos para observatórios astronômicos do lado oposto da Lua, com o enorme benefício da ausência de uma atmosfera, de tal forma que o telescópio seria equivalente a um observatório no espaço.
No entanto, a estabilidade conferida pelo solo lunar permite desenhos muito mais ambiciosos.
Os projetos preliminares mais simples contam apenas com alguns fios dispostos em uma cratera, que serviria de antena para um radiotelescópio lunar.
Seria um excelente primeiro passo, e que seria muito mais fácil de atingir com a presença de uma estação científica já estabelecida lá.
Mas esse não será necessariamente o principal retorno dessas missões.
Sob forte pressão do interesse econômico de empresas privadas, o programa pode facilmente se converter em uma jornada colonialista de extração de recursos com benefício imediato a empresários milionários.
Seria esse então o melhor investimento de recursos públicos?
Dessa forma, é preciso estar vigilante para que a diversidade representada pela tripulação da missão Artemis 2 seja refletida também nos beneficiários das missões.
Afinal, seria uma pena que um programa espacial ambicioso como esse sirva apenas para o enriquecimento dos mesmos homens brancos privilegiados que compunham as equipes das missões nas décadas de 60 e 70.
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