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Thiago Gonçalves

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

ChatGPT vai substituir astrônomo? Um 'detalhe' impede IA de virar cientista

Emprego de cientista, em qualquer área de pesquisa e desenvolvimento, está a salvo da inteligência artificial - Stefan Stefancík/ Unsplash
Emprego de cientista, em qualquer área de pesquisa e desenvolvimento, está a salvo da inteligência artificial Imagem: Stefan Stefancík/ Unsplash

26/04/2023 04h00

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A inteligência artificial está na moda, não há dúvidas. Várias companhias e empresas planejam usar os seus recursos para tornar sua produção mais eficiente, e cientistas da computação imaginam como podem usar a IA na análise de diversos bancos de dados.

Na internet, a inteligência artificial é usada até para produzir conteúdo de entretenimento, e talvez a ferramenta mais popular hoje seja o ChatGPT. Faça uma pergunta, qualquer pergunta, e veja como o robô responde.

Mas será que há limites para a capacidade desses programas?

Pensando nessa possibilidade, um jornalista perguntou recentemente ao próprio ChatGPT sobre a substituição de cientistas pela inteligência artificial. A resposta? Astrônomos teriam seus dias contados, sendo deixados de lado nos próximos cinco anos.

Aqui eu posso afirmar, categoricamente e com toda a segurança do mundo, isso é uma bobagem.

Pela própria natureza da inteligência artificial, é muito difícil que substitua cientistas no futuro próximo.

Digo isso porque a inteligência artificial nada mais é que uma forma de treinar um programa para reprocessar dados e juntar isso de uma maneira diferente. Em resumo, o que sai depende do que entra.

Em termos técnicos, temos por exemplo uma amostra de treinamento, que é o conjunto de informações oferecido ao programa para que ele possa classificar os dados.

A coisa pode ser mais complicada, mas de uma forma geral o resultado continua dependendo muito do que oferecemos ao programa.

Da mesma forma, os resultados do ChatGPT dependem fundamentalmente da informação que ele recebe —de livros ou artigos à sua disposição online. Ele é incapaz de criar algo totalmente novo.

A própria capacidade de processar a informação já é bastante limitada, tendo em vista o oceano de dados que é a internet e a dificuldade de filtrar o que é pertinente.

Para conferir, basta perguntar ao ChatGPT sobre você mesmo; a probabilidade de que a resposta esteja errada é altíssima. Acreditem, eu já tentei e os resultados foram, no mínimo, cômicos.

Por isso mesmo o emprego de cientistas —não apenas astrônomos, mas qualquer atividade de pesquisa e desenvolvimento, em qualquer campo— está a salvo da inteligência artificial.

Nosso trabalho não se resume ao processamento de dados, mas o mais importante é a dedução lógica.

Veja bem, cientistas não reproduzem conhecimento, nós criamos conhecimento.

Nosso trabalho é fundamentalmente criativo, não estamos fazendo provas e tirando boas notas.

Os melhores cientistas não são aqueles com as melhores respostas, mas sim as melhores perguntas, aquelas que avançam nosso entendimento sobre o universo, a natureza, e nós mesmos.

Como a inteligência artificial seria capaz de formular hipóteses como a relatividade geral, se ninguém houvesse pensado nisso antes?

Por isso o trabalho de cientistas é tão importante, e ao mesmo tempo por isso necessitamos tantos anos de estudo; afinal, fazemos as perguntas que nunca ninguém havia feito antes, construindo conhecimento em cima da fundação estabelecida por nossos antecessores e antecessoras.

Isso é muito diferente, por exemplo, de um jogo de xadrez. O computador sabe muito bem onde quer chegar, e pode planejar com antecedência várias jogadas, inclusive aprendendo novos movimentos com seus oponentes.

Na ciência, o ponto final não é tão claro. Estamos explorando os limites do conhecimento humano, e para isso dependemos de nosso intelecto, nossa curiosidade.

Faço aqui um desafio aos leitores: aposto que nenhum programa de computador será capaz de nos tornar obsoletos nos próximos cinco anos. Alguém quer apostar comigo?