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Tire suas dúvidas sobre a novela da bateria explosiva do Galaxy Note 7

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Imagem: Divulgação

Do UOL, em São Paulo

15/09/2016 06h00Atualizada em 12/10/2016 13h11

A bateria de íon-lítio é uma mão na roda para dispositivos móveis atualmente por ser leve e com grande capacidade de energia, mas quando funciona mal causa problemas. A Samsung é a vítima da vez, já que uma falha na fabricação das baterias do recém-lançado Galaxy Note 7 está causando uma série de explosões e incêndios.

Dois especialistas ouvidos pelo UOL Tecnologia analisaram o caso: a pesquisadora Maria de Fátima Rosolem, da área de Sistemas de Energia do CPqD (Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações), e João Carlos Lopes Fernandes, professor de engenharia elétrica e de computação do Instituto Mauá de Tecnologia.

Com as respostas deles e as informações disponíveis até agora, entenda algumas das questões envolvendo o problema do Note 7.

  • Como começou o caso?

    O Galaxy Note 7 foi anunciado globalmente no dia 2 de agosto deste ano. Três semanas depois, no dia 24, surgiu na rede social Baidu o primeiro relato de um Note 7 ter explodido enquanto carregava. No dia 31, um caso idêntico foi noticiado na Coreia do Sul. No dia 2 de setembro, a Samsung admitiu oficialmente o problema com um comunicado que citava até então ao menos 35 casos em todo o mundo.

  • O que são baterias de íon-lítio?

    Bateria constituída por uma única célula de íon-lítio, que é recarregável e começou a ser vendida comercialmente desde 1991 pela Sony. Ao longo dos anos, tornou-se a mais utilizada para dispositivos eletrônicos portáteis. Além do aumento da vida útil se comparada às pilhas de níquel (pode durar mais de 20 anos), se destaca pela baixa condutividade elétrica e pela redução drástica de tamanho e peso em relação aos antigos modelos.

  • Como essa bateria é produzida?

    O processo de fabricação das células de lítio-íon é muito sofisticado e automatizado, de acordo com Maria de Fátima. "Existe a questão das matérias-primas para sua produção. Eventualmente, algum lote poderia conter contaminantes não detectados pelo processo de qualidade. A questão da pureza dos materiais e do processo de fabricação é um item muito crítico para a bateria de íon-lítio. Para se ter uma ideia, a fase final de produção das células é realizada em ambientes extremamente limpos e secos (dry-rooms), onde é proibida a presença humana".

  • Como ocorre o superaquecimento em uma bateria de íon-lítio?

    Segundo João Carlos Lopes Fernandes, este tipo de bateria demanda um cuidado maior por parte dos usuários, pois altas temperaturas podem causar danos definitivos e até mesmo a explosão. "O aquecimento ocorre quando o usuário está jogando ou falando ao telefone por longos espaços de tempo, pois para suprir está demanda a bateria começa a aquecer para fornecer a energia necessária. O fato de o celular esquentar não é razão para preocupação; eles são projetados para trabalhar dessa maneira. Mas se o aquecimento é excessivo, fique atento. Uma bateria aquece aproximadamente até 135 ºC, mais do que isso ela pode explodir".

  • Por que uma bateria de íon-lítio explode?

    Diz Maria de Fátima: "O elemento químico lítio é um metal que, em contato com água ou oxigênio, inicia um processo de combustão espontâneo extremamente violento. Assim, a bateria de lítio-íon utiliza sais e óxidos de lítio, em vez do lítio metal, e substitui o meio condutor aquoso (eletrólito) por um solvente orgânico misturado com um sal de lítio, para evitar que eventual formação indesejada de lítio metálico nas suas reações eletroquímicas tenha contato com um meio aquoso, o que imediatamente provocaria explosão. Este solvente é estável numa faixa estreita de tensão e temperatura: se determinados valores de sobretensão, subtensão e temperatura forem ultrapassados, reagirá com liberação de calor que poderá levar a bateria a pegar fogo ou mesmo explodir".

  • Qual é o procedimento padrão de segurança para celulares e suas baterias?

    Há entidades internacionais de certificação de produtos, como a UL e IEEE, que estabelecem exaustivos requisitos de segurança para as baterias de íon-lítio. No Brasil, a Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) regulamentou a Resolução 481, que define os procedimentos de ensaios e os requisitos de segurança e desempenho elétrico que as baterias de celulares devem atender. São avaliados a retenção de carga (auto-descarga); a recuperação da capacidade após estocagem em estado parcial de carga; o desempenho frente a ciclos de carga e descarga (durabilidade); e a carga prolongada. Todas as baterias utilizadas nos celulares no Brasil, sem exceção, devem ser submetidas a esse processo. Leia mais

  • Qual é o problema da bateria do Galaxy Note 7?

    Em seu primeiro comunicado sobre o caso, a Samsung foi pouco clara, referindo-se ao problema como "uma questão referente à bateria". No aviso seguinte, no dia 10 de setembro, a descrição pouco mudou: "um problema com a célula da bateria". Mas segundo informações obtidas pela agência de notícias Bloomberg, o superaquecimento da célula de bateria ocorreu quando ânodo e cátodo --os pólos negativo e positivo da bateria, respectivamente-- entraram em contato um com o outro, evidenciando um erro muito raro no processo de fabricação. Leia mais

  • Quantas pessoas já foram vítimas do problema até agora?

    Na segunda-feira (12), um site do governo do Canadá deixou escapar a informação (e depois retirou do ar) de que mais de 70 aparelhos foram afetados apenas nos Estados Unidos. Pelo menos dois relatos viraram notícia: o do bombeiro Wesley Hartzog, que colocou um Note 7 para carregar dentro da garagem em Horry County, Carolina do Sul, EUA, e a garagem pegou fogo. Em outro caso, Nathan Dornacher, de São Petersburgo, Flórida, deixou o Note 7 no carro para carregar. Seu jipe acabou em chamas. Houve ainda um terceiro caso envolvendo a queimadura de um menino em Nova York, mas depois descobriu-se que o modelo foi um Galaxy Core e não o Note 7.

  • O que acontece quando a bateria do celular explode em alguém?

    "A bateria pode causar sérias queimaduras e, em caso extremo, até amputação de dedos", diz João Carlos. "Pode projetar, com as chamas, seus materiais metálicos internos a altas temperaturas sobre a pele. Os eletrodos são lâminas metálicas de cobre e de alumínio recobertos com os materiais ativos da bateria", completa Maria de Fátima.

  • Como a Samsung está reagindo ao problema até agora?

    Diz o comunicado mais recente: "A Samsung identificou o lote afetado e interrompeu as vendas e remessas desses smartphones. Nós estamos também colaborando com as agências regulatórias nacionais. Os clientes que possuem o Galaxy Note 7 podem trocar seu aparelho atual por um novo, de acordo com a disponibilidade local. Recomendamos aos usuários do Galaxy Note 7 que entrem em contato com o lugar de compra ou liguem para a central de atendimento indicada na região o mais brevemente possível". Além disso, alternativas mais drásticas estariam sendo estudadas, como desativar os celulares remotamente ou limitar o carregamento total da bateria a 60%. Mas não foram confirmadas pela empresa.

  • Isso afetou o lançamento do Galaxy Note 7 no Brasil?

    Antes da crise, a venda mundial do telefone começou em 19 de agosto. No Brasil, a pré-venda começou no dia 22, com o aparelho a preço sugerido de R$ 4.299. A previsão era que na primeira quinzena de setembro o celular já estivesse nas lojas. Mas o lançamento no país acabou sendo adiado e até agora não há uma nova data prevista. Leia mais

  • Como tem sido a reação pelo mundo?

    A companhia aérea australiana Qantas já proíbe que o smartphone seja carregado no avião, e a FAA (Administração Federal de Aviação dos EUA, similar à Agência Nacional de Aviação Civil no Brasil) aconselha os passageiros a não ligar nem carregar esses dispositivos a bordo de aeronaves, e não os colocar em bagagens despachadas. No Brasil, a Anac emitiu um comunicado orientando que as empresas aéreas "alertem os passageiros quanto aos riscos no transporte do aparelho nas aeronaves". Leia mais

  • Já houve casos como estes no passado?

    Desde os anos 90 que as baterias de íon-lítio explodem. Em 1995, o PowerBook 5300 da Apple já trazia essa bateria, e dois exemplares do notebook explodiram. Empresas como Nokia e Motorola enfrentaram problemas parecidos na década passada com seus smartphones, com perdas materiais e feridos. Mas quase sempre foram casos isolados. "Entre os fabricantes conceituados de células de lítio-íon, a taxa de falha 'aceita' é de um a cada dezenas de milhões de células. No caso do Galaxy Note 7 da Samsung, foram produzidos 2,5 milhões de aparelhos e foram reportados 35 casos de explosões até 1º de setembro, ou seja, cerca de 1 a cada 70 mil aparelhos", diz Maria de Fátima.

  • A Samsung pode ser processada por quem foi prejudicado?

    Segundo o Procon, em caso de haver perda do Note 7 após explosão, a Samsung é obrigada a entregar um novo aparelho ou devolver o valor gasto pelo consumidor mediante apresentação da nota fiscal. Se a explosão causar perdas materiais ou ameaça à saúde, o consumidor pode mover uma ação contra a empresa na Justiça, em um juizado especial ou pela Justiça comum, para ser ressarcido.

  • Como os usuários devem se antecipar à chance desse problema ocorrer?

    O professor João Carlos Fernandes sugere utilizar sempre acessórios e baterias originais e verificar se o tempo sem uso (modo stand-by) do telefone apresenta aquecimento. "Caso perceba alguma irregularidade procure uma assistência técnica autorizada. Nunca siga orientações de amigos ou post da internet, pois podem danificar o telefone", diz ele. Maria de Fátima complementa: "Evite expor o celular em temperatura elevada por um período de tempo prolongado, deixar recarregando durante a noite e não deixe exposto a condições de extrema umidade, como dentro de saunas ou no chuveiro, pois a umidade pode danificar a bateria".