O conteúdo que você envia por apps de bate-papo ou publica em redes sociais é uma bela prova de como essas ferramentas são populares. Tanto que as empresas não hesitam em criar as mais mirabolantes métricas para mostrar o nível de uso de suas plataformas. Para facilitar, costumam chamar isso de engajamento. Contrariando todas elas, o WhatsApp resolveu nesta semana tirar a força de um dos recursos que fazia usuários se engajarem. Na prática, o serviço de comunicação instantânea mais usado do Brasil quer reduzir a capacidade que você tem de mandar mensagens. Mas isso, veja bem, é por uma boa causa — ainda mais em tempos de pandemia, quando as informações falsas e prejudiciais à saúde se disseminam mais rápido do que o coronavírus. O que rolou?Entenda, o WhatsApp não tenta restringir o poder das pessoas mandarem mensagem simplesmente porque alguém no Vale do Silício abomina os GIFs-figurinhas-montagens de "bom dia" que circulam nos grupos da sua família. O objetivo é minar a facilidade com que mensagens falsas e correntes de desinformação se espalham. O alvo são conteúdos reenviados, aqueles encaminhados de um usuário para outro. E não é de hoje que o WhatsApp declarou guerra a eles. O primeiro capítulo dessa briga é antigo, já que: - Até julho de 2018, um usuário podia repassar um conteúdo a 250 contatos de uma só vez. Naquele mês, o número caiu para 20 em resposta ao que rolou na Índia, onde...
- ... Mais de 20 indivíduos foram mortos após mensagens no WhatsApp os identificarem como ladrões e abusadores sexuais que sequestravam crianças. Não funcionou, já que...
- ... A limitação foi ampliada meses depois. Em janeiro de 2019, o app reduziu para cinco reenvios. A briga continuou, já que agora...
- ... Os conteúdos altamente replicados só poderão ser encaminhados para apenas uma pessoa, grupo ou lista de transmissão de cada vez.
Por que é importante?Veja bem, o WhatsApp não proibiu ninguém de criar mensagens, imagens ou vídeos e transmiti-los a seus amigos. O golpe foi dado contra os encaminhamentos. Não é difícil entender, afinal boa parte das notícias falsas e teorias da conspiração são espalhadas assim. É por isso que o alvo serão as mensagens encaminhadas com frequência. Não sabe como elas são ou onde achá-las? Basta abrir o app e procurar aqueles conteúdos que possuem duas setas ao lado da sinalização "encaminhada". Isso indica que elas já foram reenviadas mais de cinco vezes. Eu aposto que foi assim que chegou até você um vídeo de 2015 da TV italiana Rai mostrando como chineses criaram um tipo de coronavírus em laboratório. Ou aquela mensagem de um suposto médico infectologista indicando beber água de 15 em 15 minutos para fazer o vírus ir direto para o estômago, onde ele não sobreviveria ao suco gástrico. É para dar risada, mas estes conteúdos — tirado de contexto no primeiro caso e mentiroso, no segundo - acabam inviabilizando um combate mais efetivo contra a emergência de saúde. Não é bem assim, mas está quase láDiante de tudo, as viúvas do passado logo se assanham. Não dá para conjecturar que a ação do WhatsApp chega atrasada. Tem gente que acredita que, caso tivesse sido implementada antes das eleições de 2018, o resultado seria outro. Afinal, naquela corrida eleitoral, as máquinas de disparo automático de mensagens deitaram e rolaram. Sei não. A CPMI das Fake News, que rola no Congresso Nacional, mostra a cada sessão que as "máquinas de disparo" eram complexas o suficiente para não se dependerem apenas do reenvio. A decisão do WhatsApp serve menos para revisarmos o passado e mais para que, no futuro, não ocorram novos linchamentos, de pessoas ou da verdade técnico-científica. PUBLICIDADE | | |