Cápsula espacial da Boeing sofre anomalia e voltará à Terra em 48 horas
A cápsula espacial Starliner, da Boeing, lançada hoje de Cabo Canaveral, nos Estados Unidos, em um teste crucial para a Nasa (agência espacial americana), não irá acoplar na Estação Espacial Internacional (ISS) e voltará à Terra, informou a companhia americana.
A Starliner decolou sem problemas, mas uma anomalia informática aconteceu após sua separação do foguete.
O problema afetou o contador de "tempo decorrido", explicou o chefe da Nasa, Jim Bridenstine, durante uma entrevista coletiva no centro espacial Kennedy.
"Por causa dessa anomalia, o veículo registrou um tempo diferente do tempo real", acrescentou.
O piloto automático da cápsula a levou a tentar mudar de posição, mas consumiu muito combustível na tentativa.
Os engenheiros da Boeing colocaram a nave em uma nova órbita, o que lhe permitirá retornar à Terra em 48 horas, disse Jim Chilton, vice-presidente da empresa.
A Starliner é um dos modelos encomendados pela Nasa para levar seus astronautas de volta ao espaço a partir de 2020. Crew Dragon, a cápsula fabricada pela SpaceX, teve sucesso em sua missão de teste não tripulada em março.
O fracasso da missão desta sexta-feira é terrível para a reputação da Boeing, já envolvida em uma crise devido a acidentes com seu modelo de aeronave 737 MAX, e para a Nasa, que precisará alterar seu calendário.
Apenas um manequim chamado Rosie e uma pelúcia do Snoopy estão a bordo da cápsula.
Os primeiros minutos do voo transcorreram normalmente, com uma separação bem-sucedida do primeiro andar, de acordo com as imagens transmitidas pela Nasa.
Contudo, a inserção orbital foi "não nominal", disseram a Boeing e a Nasa, o que significa que a cápsula não alcançou a trajetória adequada para alcançar a ISS.
A Nasa contratou a Boeing e a SpaceX em 2014 para desenvolver cápsulas para transportar astronautas entre os Estados Unidos e a Estação Espacial Internacional, uma função que apenas os foguetes russos da Soyuz exercem desde 2011, quando Washington encerrou seu programa de ônibus espaciais.
O projeto Starliner está com dois anos de atraso, e a agência espacial americana esperava enviar astronautas no primeiro semestre de 2020, caso os testes finais acontecessem sem incidentes.
Sob a presidência de Barack Obama, a agência espacial americana concedeu bilhões de dólares à Boeing e à SpaceX para desenvolver cápsulas espaciais fabricadas nos Estados Unidos."No início do próximo ano, lançaremos astronautas americanos em foguetes americanos do solo americano pela primeira vez desde a retirada dos ônibus espaciais em 2011", disse ontem o administrador da Nasa, Jim Bridenstine, no Centro Espacial Kennedy.
A cápsula da SpaceX, empresa de Elon Musk, completou com sucesso em março uma missão semelhante à que a Starliner realizaria hoje. A nave, chamada Crew Dragon, decolou com outro manequim a bordo, Ripley, acoplou-se à ISS e retornou à Terra sem inconvenientes.
Para o astronauta da Boeing Chris Ferguson, a espera foi longa demais. Ferguson comandou em julho de 2011 o último voo do programa Space Shuttle e liderará o primeiro voo tripulado do Starliner.
"Mas aqui estamos, no limiar de estarmos prontos para fazê-lo. Não uma, mas duas empresas", disse.
Essas cápsulas não são iguais às usadas no programa Artemisa, que planeja levar homens e mulheres à superfície lunar em 2024. Essas viagens serão feitas com outra cápsula, Orion, projetada para viagens espaciais profundas e cuja fabricação está a cargo da Lockheed Martin.
Noventa milhões de dólares
Em uma mudança de filosofia, a Nasa já não será proprietária de seus veículos como no passado, mas pagará às empresas pelo serviço de transporte. Essa modalidade foi decidida durante o governo Obama para reduzir os custos da agência.
As empresas deverão garantir seis viagens com quatro astronautas cada, até 2024.
Em troca, a Nasa pagará mais de US$ 8 bilhões no total.
Assim, uma passagem de ida e volta à ISS custa US$ 90 milhões por passageiro na Starliner, de acordo com um relatório do Escritório do Inspetor-Geral da Nasa.
A viagem no Crew Dragon é estimada em US$ 55 milhões por passageiro.
Atualmente, a agência americana paga à Rússia mais de US$ 80 milhões por astronauta.
Bridenstine e Boeing rejeitaram esses números, alegando que foram inflados porque foram obtidos de uma divisão do total do investimento da Nasa para cada uma das futuras viagens estipuladas, sem considerar fatores que resultam em um menor custo por viagem.
O chefe da Nasa também se referiu à crise de confiança pela qual a Boeing está passando. "As pessoas que desenvolvem naves espaciais não são as mesmas que desenvolvem aviões", disse ele.
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