Estudo alerta sobre ameaça às espécies raras e seu papel ecológico essencial
Paris, 9 Out 2020 (AFP) - As espécies de animais raras estão cada vez mais ameaçadas pelas mudanças climáticas e pela atividade humana. Seu papel é fundamental para a preservação dos ecossistemas, segundo um estudo publicado nesta semana.
O sagui-de-cabeça-amarela do Brasil, o canguru australiano de Queesland, o kakapo (o único periquito do mundo que não voa), fazem parte das mais de 4.600 espécies de mamíferos terrestres e das 9.287 aves classificadas como "ecologicamente raras" por este estudo inédito, publicado na quinta-feira na revista Nature Communications.
Os autores deste trabalho gigantesco, que se apoia na análise de dados em escala mundial ("big data"), realizaram também um mapeamento preciso que leva em consideração o critério de raridade geográfica e, pela primeira vez, o de "raridade funcional".
É único o papel que alguns animais desempenham no funcionamento de um ecossistema devido às suas características, como o tamanho, a alimentação, o habitat. Por exemplo, o Ariane de Lucy, um colibri endêmico de Honduras, que só existe em quatro áreas do país, contribui substancialmente para a polinização quando se alimenta de néctar.
Por sua vez, o macaco preto da ilha indonésia de Sulawesi - famoso desde que um espécime tirou uma selfie em 2014 com uma câmera - tem uma dieta (mais de 145 espécies de frutas) crucial para a dispersão de sementes das árvores.
"Tendemos a pensar que uma espécie pouco abundante contribui de maneira pouco significativa para o funcionamento de um ecossistema, ao contrário das que são mais numerosas, o que chamamos de efeitos de massa", explica à AFP Nicolas Mouquet, pesquisador do Centro Nacional de Pesquisas Científicas da França, também responsável pelo estudo.
"Mas, na verdade, o funcionamento dos ecossistemas é muito mais complexo. É como um motor com algumas peças raras, mas que são essenciais para seu funcionamento", afirma este ecologista, que preside o Centro francês de Síntese e Análise sobre a Biodiversidade.
- Emergência ecológica -Os resultados desta pesquisa realizada por uma equipe internacional reunida na Universidade de Montpellier (sul francês), indicam que esses fenômenos se concentram nos trópicos e no Hemisfério Sul para os mamíferos, especialmente nas ilhas indonésias, em Madagascar e na Costa Rica. No caso das aves, estão principalmente nas regiões tropicais e subtropicais, em particular Nova Guiné, Indonésia e os Andes.
Com base nos modelos climáticos do IPCC - grupo de especialistas da ONU sobre o clima -, o estudo estima que as "espécies raras serão mais impactadas do que as comuns" a partir de 2050, segundo Mouquet.
Trata-se de uma "dupla penalidade", porque seu papel ecológico tão original também será perdido. As aves serão as mais afetadas e muitas delas podem ser extintas em 40 anos.
As espécies raras também são as mais afetadas pela atividade humana em todos os países, independentemente de seu índice de desenvolvimento e do número de conflitos.
As conclusões do estudo levam, por enquanto, a uma hipótese estatística, que ainda deve ser verificada empiricamente, segundo Mouquet.
"É um trabalho de longo prazo, mas a emergência ecológica nos leva a defender que é preciso fazer todo o possível para proteger essas espécies".
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