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A 'espaguetificação' de uma estrela por um buraco negro acompanhada em tempo real

12/10/2020 13h06

Paris, 12 Out 2020 (AFP) - Pela primeira vez, astrônomos puderam acompanhar com riqueza de detalhes e proximidade incomparável a "espaguetificação" de uma estrela, parcialmente devorada por um buraco negro - de acordo com um estudo publicado nesta segunda-feira (12).

A estrela, com uma massa equivalente à do nosso Sol, aventurou-se muito perto de um ogro supermassivo, com massa um milhão de vezes maior.

Quando isso acontece, a maioria é literalmente engolida pela fenomenal força de atração do buraco negro, que impede até mesmo a luz de escapar.

Algumas experimentam, no entanto, um deslocamento gradual, no que os astrônomos chamam de "efeito macarrão", ou "espaguetificação". No caso observado, a estrela perdeu cerca de metade de sua massa no espaço de seis meses.

"Isso é exatamente o que acontece em um evento de ruptura por efeito de maré", ou TDE, disse o astrônomo britânico Matt Nicholl, da Universidade de Birmingham, principal autor do estudo.

À medida que se aproxima, a estrela começa a se achatar e depois se esticar sob o efeito das forças das marés, devido ao buraco negro, tomando a forma de uma cigarra, relatou à AFP Stéphane Basa, diretor de pesquisa do laboratório de astrofísica de Marselha.

"Quando essas forças excedem a força coesiva da estrela, esta perde pedaços que correm para o buraco negro", completou.

Uma das principais contribuições do estudo, publicado nas Monthly Notices da Royal Astronomy Society, é entender melhor como a matéria é absorvida - neste caso, na forma de filamentos finos.

- "Glutão do espaço" -A ingestão desse macarrão cósmico é acompanhada por uma poderosa radiação eletromagnética, um sinal luminoso que atesta a fama de glutão do espaço.

O fenômeno foi detectado em setembro de 2019 por uma série de instrumentos que detectam as mudanças repentinas na luminosidade de objetos celestes, a cerca de 215 milhões de anos-luz de distância, na galáxia de Eridan.

"Nós imediatamente apontamos uma série de telescópios terrestres e espaciais nesta direção para analisar a fonte de luz", disse Thomas Wever, coautor do estudo, em um comunicado do Observatório Europeu Austral (ESO).

Esse brilho costuma ser obscurecido pela cortina de matéria, o que dificulta a observação do fenômeno, segundo os cientistas.

Desta vez, a velocidade da reação e a relativa proximidade do acontecimento possibilitaram levantar parte do véu.

"Fomos capazes de observar uma cortina de poeira e detritos se erguendo, enquanto o buraco negro lançava um poderoso jato de matéria a velocidades de até 10.000 km por segundo", disse a astrônoma Kate Alexander do Northwestern University, citada pelo ESO.

Outra observação inédita, segundo Basa, é que parte do material da estrela é ejetada do outro lado do buraco negro.

O astrônomo valida a analogia da "Pedra de Roseta", que permitiu decifrar os hieróglifos egípcios, usado pela equipe do professor Nicholl, para qualificar sua descoberta: "É um caso para as observações futuras".

Especialmente, acrescenta, porque os TDEs não são um fenômeno comum. Estima-se que ocorram apenas uma vez a cada dez mil anos em uma única galáxia.

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