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2020: o ano em que as grandes de tec tiveram seu modelo de negócio ameaçado

Google, Apple, Facebook e Amazon são conhecidas nos EUA pela sigla Gafa - Damien Meyer/AFP
Google, Apple, Facebook e Amazon são conhecidas nos EUA pela sigla Gafa Imagem: Damien Meyer/AFP

Em Paris

16/12/2020 10h24

A pandemia da covid-19, que acelerou a transição digital, aumentou o poder dos gigantes do setor tecnológico, mas também os colocou na mira dos Estados por sua crescente influência.

Reuniões pelo Zoom, buscas no Google, compras na Amazon, troca de mensagens no WhatsApp e noites com a Netflix. Embora já tivessem uma posição dominante antes da pandemia, os Gafam americanos (Google, Amazon, Facebook, Apple e Microsoft) e os Batx chineses (Baidu, Alibaba, Tencent e Xiaomi) se tornaram hegemônicos em 2020.

Essas "superestrelas" do capitalismo digital "deram a impressão, neste mundo onde tantas coisas que pareciam sólidas estão desabando hoje, de terem decolado e até (de serem) invencíveis", resume a economista Joëlle Toledano, professora da Universidade Paris-Dauphine.

Mais do que econômico, seu sucesso é financeiro.

Enquanto os Estados gastam bilhões para evitar falências em série e desemprego em massa, os preços das ações dos Gafa não param de subir desde janeiro: Facebook (+35%), Amazon (+67%), Apple (+68%). E o que dizer do Zoom, criado em 2011 por um engenheiro californiano, cuja ação disparou 600% em 2020?

Sem falar nos aplicativos chineses que, há muito estabelecidos no mercado local, espalharam-se pelo mundo: TikTok, SHEIN (roupas), ou Likee (vídeos).

Reação aos Gafa

A pandemia não apenas reforçou os Gafa, como aumentou a consciência sobre a necessidade de se regulamentar esses conglomerados 2.0, cuja expansão continua, a golpe de aquisições. Ainda assim, não se vê um questionamento, na prática, deste modelo econômico.

"Até 2017, pensava-se que as vantagens que traziam, em particular em termos de inovação, eram superiores aos danos que causavam", mas agora o vento sopra em outra direção, afirma Joëlle Toledano.

Após fracassos passados - processos longos e tardios, multas pouco dissuasórias -, Bruxelas gerou uma artilharia de novas regras que vão desde a concorrência até o ódio online, passando pela transparência dos algoritmos.

Os processos também se multiplicam nos Estados Unidos contra o Google e o Facebook. Este último, por exemplo, é alvo de uma ação judicial da Comissão de Concorrência (FTC) e de 48 estados por abuso de posição dominante.

Obrigados a prestar contas, os CEOs das "Big Tech", como é conhecido o setor, tiveram de comparecer diversas vezes ao Congresso americano. Na China, as autoridades vêm, há vários meses, endurecendo a regulamentação de conteúdo de várias plataformas e se anunciou uma nova regulamentação para o comércio online.

Além disso, o poder das "Big Tech" também recebe fortes críticas da sociedade civil.

Nos Estados Unidos, por exemplo, o Facebook sofreu em julho o boicote de mais de 100 marcas, em meio à mobilização do movimento "Black Lives Matter" - sem, no entanto, prejuízos econômicos significativos.

Na Califórnia, as plataformas VTC Uber e Lyft, que se recusam a contratar seus milhares de motoristas como exige a legislação estadual, conquistaram uma importante vitória, que validou seu modelo econômico, em referendo realizado em 3 de novembro.

Na França, a Amazon cristaliza esse descontentamento, acusada de destruir pequenos negócios, de explorar funcionários, de estimular o consumo excessivo em detrimento do meio ambiente. Na "Black Friday", porém, a subsidiária francesa da empresa de Jeff Bezos registrou vendas sem precedentes.