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O laboratório de Wuhan e a 'improvável' teoria sobre a covid-19

29/03/2021 10h18

Wuhan, China, 29 Mar 2021 (AFP) - A equipe da Organização Mundial da Saúde (OMS) que investigou a origem do coronavírus em Wuhan em janeiro concluiu que é "extremamente improvável" que o patógeno tenha-se originado no laboratório de segurança máxima da cidade chinesa.

Um relatório da OMS, obtido pela AFP antes de sua publicação, considera que a covid-19 provavelmente passou de um morcego para humanos por meio de um animal intermediário, praticamente descartando a teoria de um vazamento de laboratório.

Isso pode, no entanto, ser insuficiente para acabar com a teoria promovida pelo então presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e por outros, que ganhou peso com o governo chinês mantendo segredos e sua incapacidade de determinar a origem.

Aqui estão alguns fatos importantes sobre o laboratório do Instituto de Virologia de Wuhan.

- Alta segurança -O instituto abriga o Centro de Cultura de Vírus, o banco de vírus mais importante da Ásia onde mais de 1.500 variedades estão preservadas e é capaz de lidar com patógenos de classe 4 (P4, a mais alta possível), ou seja, vírus perigosos que são transmitidos de pessoa para pessoa, como o do ebola.

O laboratório P4 custou 300 milhões de iuanes (US$ 42 milhões). Foi concluído em 2015 e inaugurado em 2018.

O instituto também possui um laboratório de nível P3, que inclui vários coronavírus e que está em funcionamento desde 2012.

- Investigações -O instituto estuda algumas das doenças mais perigosas do mundo e já investigou a relação entre morcegos e surtos de doenças na China.

Seus cientistas ajudaram a lançar luz sobre o patógeno da covid-19 no início do surto em Wuhan.

Em fevereiro de 2020, um grupo de pesquisadores publicou um trabalho que concluiu que a composição genética do novo vírus era 80% semelhante ao coronavírus SARS, e 96%, idêntica ao coronavírus encontrado em morcegos.

Muitos cientistas pensam que o vírus que causa a covid-19 se originou em morcegos e pode ter passado para os humanos por meio de um mamífero desconhecido no final de 2019, no mercado de alimentos de Wuhan. Nesta feira, espécies selvagens eram vendidas para consumo humano.

O chefe dos cientistas chineses da missão da OMS, Liang Wannian, disse no final da missão que a transmissão animal continua sendo a hipótese mais provável, mas que "o hospedeiro reservatório ainda não foi identificado".

- Vazamento do laboratório - Antigos telegramas diplomáticos americanos, ecoados pelo jornal The Washington Post, revelaram preocupações em Washington com as medidas de segurança no laboratório de Wuhan.

Shi Zhengli, uma das maiores especialistas da China em coronavírus de morcego e vice-diretora do laboratório P4, disse em uma entrevista ao American Scientific Journal em junho de 2020 que inicialmente temeu que o vírus tivesse escapado de seu laboratório.

Verificações posteriores revelaram, no entanto, que a sequência genética difere dos vírus de seu laboratório, e Shi declarou que "apostaria sua vida" que não escapou de lá, de acordo com a mídia estatal chinesa.

Essa teoria foi, porém, amplamente alimentada por Trump nas redes sociais. Seu então secretário de Estado, Mike Pompeo, insistiu no ano passado que havia "evidências significativas" de que o vírus vinha do laboratório, embora nunca as tenha apresentado.

Publicações como Le Monde e Wall Street Journal, bem como cientistas de Harvard e Stanford, mantiveram a teoria viva, publicando artigos e relatórios afirmando que era uma possibilidade.

- Conclusões da OMS -A missão da equipe da OMS em Wuhan incluiu uma parada no instituto de virologia, onde se encontraram com cientistas chineses, incluindo Shi.

O líder da equipe, Peter Ben Embarek, disse no final da missão que a teoria de um vazamento de laboratório era "altamente improvável" e que não estaria entre as "hipóteses" que eles sugerirão "para estudos futuros".

A missão não encontrou nada para reverter o consenso geral na comunidade científica sobre a origem natural do patógeno.

- Dúvidas -Ainda assim, as perguntas sobre o laboratório persistem. Os críticos dizem que a equipe da OMS esteve de mãos atadas pelos rígidos protocolos impostos pelos anfitriões chineses.

Os membros da equipe passaram quatro horas no instituto de virologia e apenas uma hora no mercado, depois de terem passado duas semanas em seu hotel em quarentena sem conseguir colocar os pés na cidade.

Em uma entrevista à AFP, Ben Embarek expressou sua "frustração" com a falta de acesso a dados brutos durante sua estada na China.

O conselheiro de Segurança Nacional dos EUA, Jake Sullivan, expressou "profunda preocupação" sobre a forma como a missão foi realizada e instou a China a disponibilizar "seus dados dos primeiros dias do surto".

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