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Falta de água nas nuvens torna impossível a presença vida em Vênus

Um dia lá dura mais que um ano! Vênus leva 243 dias terrestres para completar uma rotação em seu próprio eixo e 225 dias para dar uma volta ao redor do Sol. É o dia mais longo do Sistema Solar - Nasa
Um dia lá dura mais que um ano! Vênus leva 243 dias terrestres para completar uma rotação em seu próprio eixo e 225 dias para dar uma volta ao redor do Sol. É o dia mais longo do Sistema Solar Imagem: Nasa

De Paris

28/06/2021 12h47

A vida como é conhecida na Terra é impossível em Vênus, devido à falta de água suficiente em sua atmosfera, segundo um estudo, que traz uma nova objeção aos cientistas que revelaram a detecção de um gás provavelmente relacionado a uma forma viva.

"Não há vida ativa possível" nas nuvens de Vênus, declarou em coletiva de imprensa o microbiologista John Hallsworth, principal coautor do estudo publicado na revista científica Nature Astronomy.

O planeta mais próximo da Terra é semelhante ao nosso de várias maneiras, incluindo seu tamanho e massa. Mas difere por uma temperatura de superfície infernal, 470C°, e uma atmosfera de gás carbônico a 97%, condições não muito propícias à vida.

O planeta também é coberto por uma espessa camada de nuvens formadas por gotículas de ácido sulfúrico. Em setembro, a astrônoma britânica Jane Greaves anunciou que havia descoberto fosfina precisamente nessas camadas de nuvens.

Como na Terra, a fosfina (ou fosfano) provém da atividade humana, ou microbiana. Sua descoberta abalou a comunidade científica. Rapidamente, no entanto, os especialistas questionaram a observação e o método usado para estabelecer a presença desse gás.

Desta vez, a objeção vem da possibilidade de que um organismo vivo possa existir nessas condições. Um dos temas de estudo de John Hallsworth, da Queen's University de Belfast, é "a quantidade mínima de água que é suficiente para que os micróbios mais extremos (os mais resistentes) da Terra permaneçam ativos e se desenvolvam".

"Distância intransponível". Sua resposta é contundente: a quantidade de água disponível nas nuvens de Vênus é "mais de 100 vezes inferior" ao nível propício à sobrevivência dos microrganismos mais resistentes.

Ou seja, há "uma distância intransponível do que a vida requer para funcionar".

"O micróbio mais tolerante à seca não teria tido uma única chance nas nuvens de Vênus, e o mais tolerante a um ambiente ácido, menos ainda", conclui o cientista.

Embora a equipe da professora Greaves tenha revisado a quantidade de fosfina que havia dito ter detectado, "não há um consenso firme na comunidade científica de que o sinal detectado é fosfina", acrescenta o coautor do estudo apresentado nesta segunda-feira, o astrofísico da NASA Chris McKay.

Este especialista da NASA afirma que a atmosfera de Vênus é bastante conhecida, graças às sondas que a sobrevoaram desde os anos 1960 e às observações da Terra.

"Assim, podemos dizer se há água suficiente para a vida" e, "em Vênus, esse não é o caso, nem perto disso", assegura.

As três sondas que estão programadas para explorar Vênus até 2030 confirmarão os dados existentes de temperatura, pressão e água. E talvez nos permitam recriar a história deste planeta vizinho, que "poderia ter sido habitável há 3 bilhões de anos".

Mas poderia Vênus abrigar outra forma de vida? A esta questão "filosófica", Chris McKay responde que "deixamos a biologia como a conhecemos, e entramos no reino da imaginação".

Também é difícil para Hallsworth acreditar, pois, na escala celular, ele diz que não conhece "um argumento convincente de que a vida possa ser baseada em qualquer coisa que não seja água".