O que explica a atual ofensiva da China contra big techs do país?
Com a rivalidade com os Estados Unidos como pano de fundo e por uma questão de "segurança nacional", Pequim ataca as empresas digitais chinesas, incluindo Didi, o "Uber chinês", embora tal estratégia possa enfraquecer uma indústria dinâmica.
Didi, que domina o mercado chinês de reserva de carros com motorista e é dona da brasileira 99, está sob investigação como resultado de sua coleta de dados privados.
Por ordem das autoridades, o aplicativo não pode mais ser baixado, mas ainda pode ser usado por usuários que já o tenham em seus telefones.
Qual é o problema?
As empresas relacionadas à internet são especialmente dinâmicas na China, onde uma legislação de dados até agora relativamente frouxa e a ausência de concorrentes estrangeiros permitiram o surgimento de gigantes locais.
Desta forma, o setor de tecnologia tem conseguido coletar grandes quantidades de dados pessoais sobre os chineses (hábitos de viagens, refeições, tipos de compras, pagamentos...), através dos inúmeros aplicativos usados por eles diariamente.
Pequim primeiro temeu pelos consumidores, preocupando-se com a possibilidade de levar a abusos em um setor que já afeta todos os aspectos da vida (comércio, saúde, finanças, entre outros).
Por que subiu o tom?
Nos últimos meses, o governo tem mostrado mais firmeza e instaurado processos contra várias empresas, pedindo-lhes que "corrijam" práticas até então toleradas.
Em maio, mais de 100 aplicativos foram identificados com problemas de coleta de dados, incluindo o Douyin, a versão chinesa do TikTok, especialista em vídeos curtos.
No caso da Didi, porém, a autoridade chinesa de segurança cibernética justifica sua investigação em nome da "segurança nacional".
"Violou gravemente a regulamentação sobre a coleta de dados dos usuários", estima o órgão regulador, que não forneceu mais detalhes sobre os fatos alegados.
Existe algum outro motivo?
Pequim há muito incentiva suas empresas a se tornarem globais, e muitas delas levantam fundos nos Estados Unidos para se desenvolver.
O recorde para uma empresa chinesa é detido pela gigante do comércio on-line Alibaba, que levantou US$ 25 bilhões após sua chegada a Wall Street em 2014.
Em um contexto de crescente rivalidade com Washington, especialmente no campo da tecnologia, Pequim agora teme que os dados cruciais acumulados por suas gigantes escapem para o exterior.
Por esse motivo, a China deseja tornar mais rígidas as condições de IPO (sigla em inglês para Oferta Pública Inicial) de suas empresas em outros países, agora cobradas a garantir que sua atividade de segurança cibernética seja irrepreensível.
O Partido Comunista Chinês (PCC) "abomina coisas que fogem ao seu controle", afirma a analista Kendra Schaefer, da consultoria Trivium, especializada em China.
Qual será o próximo passo?
Por causa do atual contexto, "extremamente volátil e incerto", as empresas chinesas provavelmente optarão por fazer a IPO em seu território, onde os riscos são menores, avalia Schaefer.
A Bolsa de Valores de Hong Kong e, em menor medida, a de Xangai, já estão esfregando as mãos.
Por enquanto, os especialistas em aluguel de bicicletas Hello Inc. e a empresa de podcast Ximalaya suspenderam seus planos de abrir seu capital nos Estados Unidos, de acordo com a agência Bloomberg.
E, na quarta-feira, a fabricante de veículos elétricos XPeng, rival chinesa da Tesla, fez sua estreia em Hong Kong, onde arrecadou US$ 1,7 bilhão. No entanto, a marca já está listada desde o verão passado nos Estados Unidos.
Schaefer acredita, porém, que essa tendência não se manterá no longo prazo.
A startup Bianlifeng, dona de lojas de conveniência, espera arrecadar US$ 500 milhões nos Estados Unidos, de acordo com a Bloomberg.
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