Ciberataque bloqueia distribuição e abastecimento de gasolina no Irã
O Irã foi alvo, nesta terça-feira (26), de um "ciberataque" sem precedentes por seu alcance, que paralisou a distribuição de gasolina no país, sem que, até o momento, os responsáveis tenham sido identificados.
Em uma nação onde o petróleo é abundante e os combustíveis são comercializados a preços irrisórios, os motoristas foram pegos de surpresa ao ver os postos fechando progressivamente, enquanto longas filas de espera iam se formando.
O Conselho Supremo de Segurança Nacional, a máxima instância de segurança da República Islâmica, afirmou que o problema foi causado por "um ciberataque contra o sistema de distribuição de gasolina", informou a emissora de televisão estatal, que já havia anunciado pouco antes "perturbações no sistema de computadores".
"Estão investigando os detalhes do ataque e sua origem", acrescentou a emissora, sem oferecer mais detalhes.
O incidente é de grande envergadura, pois bloqueou o sistema de computadores que permite aos iranianos comprar gasolina, graças a um cartão digital distribuído pelas autoridades.
O Irã dispõe da terceira maior reserva de petróleo do mundo e ocupava, em 2020, o quinto lugar como produtor dentro da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep).
"Não quero falar, estou muito irritado", disse à AFP uma motorista em seu carro em Teerã, enquanto esperava que a distribuição de combustível fosse retomada rapidamente. Nas redes sociais, outros motoristas também se queixavam da situação.
'Que desastre'
"Que desastre. Justo quando os sistemas foram hackeados, meu carro sofreu uma avaria no meio da estrada", tuitou Sabour, uma jovem internauta da cidade de Yazd, no leste do país.
A porta-voz da sociedade nacional do Irã para a distribuição de produtos derivados do petróleo, Fatemeh Kahi, declarou que uma reunião urgente foi convocada para solucionar o problema.
Em Teerã, técnicos do Ministério do Petróleo desativaram o sistema digitalizado em vários postos de gasolina para poder distribuir combustível manualmente, disse a mesma fonte.
Agora, resta saber quem está por trás do "ciberataque".
A agência de notícias conservadora Fars relacionou o colapso do sistema com a proximidade do segundo aniversário dos protestos de novembro de 2019, provocados por um aumento nos preços da gasolina.
"A campanha dos meios contrarrevolucionários, na medida em que se aproxima [o aniversário] dos fatos ocorridos em novembro de 2019, reforça a possibilidade de um ciberataque", afirmou a Fars.
Naqueles protestos, postos policiais foram atacados, houve saques em lojas, incêndios em bancos e postos de gasolina, e as autoridades impuseram o bloqueio da internet por uma semana.
'Sem aumento de preços'
Na época dos protestos de 2019, as autoridades iranianas informaram que 230 pessoas morreram. Contudo, um grupo de especialistas que trabalham para o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (Acnudh) contabilizou mais de 400 mortes.
Para tranquilizar a população, o ministro do Interior, Ahmad Vahidi, declarou nesta terça-feira (26), em entrevista televisionada, que o governo "não planeja aumentar o preço da gasolina e as pessoas não devem se preocupar".
Teerã também cogita a possibilidade de Estados Unidos ou Israel, seus principais inimigos, estarem envolvidos no ataque.
Em setembro de 2010, o programa nuclear iraniano foi alvo do vírus Stuxnet, o que desencadeou uma série de falhas em seu parque de centrífugas para enriquecer urânio.
Desde esse episódio envolvendo o vírus Stuxnet, o Irã, por um lado, e os Estados Unidos e Israel, por outro, se acusam mutuamente de ciberataques.
Em maio de 2020, o jornal Washington Post informou que um ciberataque israelense foi cometido contra um dos dois portos de Bandar Abbas, cidade iraniana no Estreito de Ormuz, em represália, segundo a publicação, de um ataque contra instalações hidráulicas civis em Israel.
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