Ataque na Ucrânia evidencia onipresença do ciberespaço em crises geopolíticas
Os ataques cibernéticos contra a Ucrânia nesta sexta-feira (14) confirmam a importância dessas ações nas crises geopolíticas contemporâneas.
Mesmo antes de as evidências serem coletadas, a Rússia — suspeita pelos ocidentais de planejar a invasão de seu vizinho — está na mira após bloquear sites do governo ucraniano.
"O ataque não pode ser imputado, porque não há provas, mas você pode imaginar" quem está por trás dele, disse Josep Borrell, chefe da diplomacia europeia, na sexta-feira, convocando "uma reunião de emergência dos embaixadores do comitê político e de segurança da UE".
A Otan anunciou pouco depois a assinatura de um acordo com a Ucrânia para fortalecer sua cooperação contra ataques cibernéticos.
Quem está por trás do ataque?
Sua atribuição é altamente complexa. É possível identificar um método, uma linguagem, um computador e eventualmente sua localização. Mas como sabemos quem realizou e a mando de quem?
John Hultquist, analista de inteligência da empresa de segurança cibernética Mandiant, acredita que "esse incidente pode ser causado por agentes do governo ou membros independentes da sociedade civil".
A operação é tecnicamente bastante simples de realizar, "embora um incidente que afete vários objetivos ao mesmo tempo possa parecer à primeira vista uma operação complexa e avançada", explica à AFP, convidando "a não superestimar" a capacidade necessária para realizar o ataque.
Em um relatório publicado em junho passado, o Instituto Internacional de Estudos Estratégicos (IISS) de Londres observou que a maioria dos Estados permaneceu no controle de suas capacidades ciberofensivas.
Mas, acrescentou, "alguns governos - Rússia e Irã em particular - são mais tolerantes com 'hackers patrióticos' e grupos cibercriminosos que operam em seu território, às vezes até em coordenação com eles".
A ascensão do ciberespaço
As reações imediatas da UE e da Otan mostram que, em todas as chancelarias e estados-maiores do mundo, o ciberespaço é considerado um elemento importante da nova ordem mundial.
Em seu relatório, o IISS também observou que o ciberespaço se tornou, "talvez inevitavelmente, um novo ambiente-chave e arriscado para a política e a concorrência entre Estados no século 21".
Especialmente porque "um ataque cibernético pode preceder um ataque de alta intensidade, mas também pode ser combinado com meios mais convencionais durante as operações", apontou Julien Nocetti, pesquisador do Geode, instituto de pesquisa digital da Universidade Paris 8.
De fato, a digitalização do mundo tem sido mais rápida do que a instalação de defesas adaptadas.
"É a nova realidade, um mundo onde o hacking - e todas as outras formas de ataques não cinéticos, da desinformação à subversão — são combinados com um conflito cinético ou são uma alternativa", destaca à AFP Mark Galeotti, pesquisador especializado na Rússia.
"O que está em jogo é que, como na Ucrânia hoje, muitas vezes será ignorado — até que seja tarde demais — se esses métodos são usados ou não no âmbito de uma operação militar."
E é justamente porque um ciberataque é difícil de atribuir que permanece a confusão sobre as intenções de seu autor.
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