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Grupo de especialistas da ONU ressalta que luta contra a mudança climática é maior do que nunca

14/02/2022 09h50

Paris, 14 Fev 2022 (AFP) - O desafio da luta contra a mudança climática é maior do que nunca, advertiu nesta segunda-feira (14) o coordenador de um grupo de especialistas da ONU, que examinarão durante duas semanas as consequências do aquecimento global para estabelecer os detalhes de um relatório crucial.

"A necessidade do segundo relatório do grupo de trabalho nunca foi tão grande porque as apostas nunca foram tão elevadas", declarou em uma videoconferência Hoesung Lee, copresidente do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC).

Desta reunião virtual, que prosseguirá por duas semanas e terá a participação de 195 países, deve ser elaborado um relatório de 40 páginas orientado aos autores de políticas públicas que será divulgado em 28 de fevereiro.

Após mais de um século e meio de desenvolvimento econômico baseado em combustíveis fósseis, a temperatura do planeta subiu 1,1ºC desde a era pré-industrial, o que multiplica as ondas de calor, as secas, tempestades e inundações devastadoras.

Na primeira parte do relatório, publicado em agosto, os especialistas do IPCC calcularam que até 2030, dez anos antes do previsto, o planeta deve alcançar o limite de +1,5ºC, a meta mais ambiciosa apresentada no Acordo de Paris.

O segundo capítulo do relatório, que será discutido nas atuais negociações, se concentrará nas consequências do aquecimento e nas formas de preparação para enfrentá-lo, a adaptação necessária.

A terceira parte, que será publicada em abril, terá como tema as soluções para reduzir as emissões de gases do efeito estufa.

A extinção de espécies, o colapso de ecossistemas, as doenças transmitidas pelos mosquitos, as ondas de calor mortais, a seca e a redução das colheitas já são consequências concretas do aumento das temperaturas.

Em quase todos os continentes, o mundo sofre catástrofes, como os incêndios na região oeste dos Estados Unidos, na Grécia ou Turquia no ano passado, as inundações que afetaram Alemanha e China, assim como o calor de quase 50ºC no Canadá.

Quase "4,5 bilhões de habitantes do planeta sofreram alguma catástrofe ligada a um evento climático nos últimos 20 anos", afirmou o diretor da Organização Meteorológica Mundial (OMM). Ele destacou que os combustíveis fósseis "doparam" a atmosfera e intensificaram o efeito estufa.

Uma versão preliminar do texto, a qual a AFP teve acesso em junho do ano passado, mostrava que a vida como conhecemos será inevitavelmente transformada a curto prazo.

O relatório destaca a necessidade urgente de "adaptação", o que para os especialistas significa estar preparado para consequências devastadoras que não podem ser mais evitadas.

As consequências do aquecimento global afetarão todos os continentes e todos os aspectos: saúde, segurança alimentar, escassez de água, deslocamento de populações, destruição de ecossistemas.

- "Alerta" -"O aumento dos impactos climáticos supera amplamente nossos esforços de adaptação", destacou Inger Andersen, diretora do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA).

Para Andersen, o mundo já está informado sobre os resultados científicos que que os especialistas da ONU apresentam a cada ano e de década em década, mas ela ressaltou que "reconhecer as evidências é apenas o primeiro passo".

Diante da necessidade de reduzir as emissões em quase 50% até 2030 para não superar o limite de +1,5ºC, o mundo se comprometeu na COP26 de Glasgow, em novembro, a acelerar a luta contra o aquecimento.

Na ocasião, o secretário-geral da ONU ONU, Antonio Guterres, considerou o compromisso "insuficiente para adiar a catástrofe climática que ainda bate à porta".

Como os países foram instados a fortalecer suas metas até a COP27 do Egito, ainda este ano, o emissário do governo dos Estados Unidos para o clima, John Kerry, disse esperar que o relatório seja um "alerta para alguns".

O copresidente do IPCC destacou nesta segunda-feira que o relatório vai "integrar de maneira mais estreita as ciências econômicas e sociais, além de apresentar aos responsáveis por políticas públicas os conhecimentos para ajudá-los a elaborar diretrizes e tomar decisões".

Na comparação com o relatório precedente, publicado há sete anos, o atual documento se concentrar na adaptação, ou seja, as soluções para enfrentar os impactos dos desequilíbrios do clima.

"Não é apenas uma lista de coisas que podem ser feitas, mas também uma avaliação da eficácia e viabilidade das medidas", explicou a outra copresidente do IPCC, Debra Roberts, na semana passada.

"Mas há limites à adaptação", declarou à AFP O climatologista Laurent Bopp, um dos autores do documento.

"Em certas áreas, se as temperaturas ultrapassarem níveis muito elevados, a vida humana não será mais possível. Se em certas zonas costeiras o nível do mar subir mais de um metro, a proteção com diques não será mais possível", advertiu.

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