Censura e sanções dos EUA: os desafios da versão chinesa do 'ChatGPT'
A apresentação tímida na China de uma alternativa ao ChatGPT expõe as dificuldades enfrentadas pelas empresas do gigante asiático na corrida da Inteligência Artificial, em um contexto de rivalidade tecnológica com os Estados Unidos e de censura.
Na semana passada, em Pequim, a gigante chinesa da Internet Baidu apresentou o Ernie Bot, sua resposta ao chatbot americano ChatGPT, cujas proezas são acompanhadas de perto na China, apesar de estar bloqueado.
Lançado em novembro de 2022 pela startup californiana OpenAI, o ChatGPT é capaz de dar respostas detalhadas sobre um amplo leque de temas, redigir ensaios, ou criar conteúdos audiovisuais em questão de segundos por meio de Inteligência Artificial.
Na China, o ChatGPT não pode ser acessado sem um programa VPN que permite ocultar o local de onde o usuário se conecta.
O Baidu foi um dos primeiros grupos chineses a se posicionar para oferecer um equivalente ao popular chatbot americano. A apresentação do Ernie Bot à imprensa na última quinta-feira se limitou, no entanto, a mostrar imagens pré-gravadas e uma simples equação de álgebra.
Conteúdo sensível
Não houve qualquer interação ao vivo, em um país onde as empresas digitais estão sob constante pressão do governo para erradicar qualquer conteúdo considerado sensível, ou politicamente incorreto.
Após a apresentação, as ações da Baidu perderam quase 10%, recuperando-se no dia seguinte, após os comentários positivos de usuários e analistas.
Nenhuma data de lançamento público foi anunciada para o Ernie Bot, que funciona em mandarim e se dirige, exclusivamente, ao mercado chinês.
O desafio para os desenvolvedores na China é criar um chatbot que funcione bem, mas que não se desvie do rígido marco de conteúdos permitido. Quando um chatbot criado pela Universidade Tsinghua de Pequim é questionado, por exemplo, sobre se o presidente chinês, Xi Jinping, é um bom líder, ele pede para que se faça outra pergunta.
"A regulação e a censura de conteúdos na China" são claros obstáculos, diz Lauren Hurcombe, especialista em tecnologia do escritório de advocacia DLA Piper.
Como resultado, as empresas chinesas dispõem de "muito menos dados" do que seus concorrentes ocidentais para alimentar e treinar seus sistemas, explicou Hurcombe à AFP.
Chips
Outro desafio para as empresas chinesas é o acesso às tecnologias americanas, como os chips capazes de executar algoritmos dos chatbots, em um momento em que Washington endurece as restrições em nome da segurança nacional.
A China aspira a se tornar líder mundial em Inteligência Artificial até 2030, o que revolucionaria inúmeros setores, como a indústria automotiva e a medicina.
Mas "não terá mais acesso" aos chips mais potentes, insiste Lauren Hurcombe, que questiona a capacidade de encontrar alternativas chinesas similares.
Steven Miller, professor emérito de sistemas de informação na Universidade de Gestão de Singapura, observa: "Em 2016, a China já estava construindo supercalculadoras de primeiro nível mundial, usando seus próprios chips".
"Se era assim há sete anos, hoje eles certamente têm mais capacidade de projetar chips de última geração", disse Miller à AFP.
Todos os gigantes chineses de tecnologia afirmam estar preparando um chatbot, como a Tencent, peso-pesado da Internet e dos jogos, ou os campeões do comércio eletrônico Alibaba e JD.com.
O mesmo acontece nos Estados Unidos, onde o Google lançou na terça-feira seu chatbot Bard, de acesso público, com o objetivo de melhorar a qualidade de suas respostas por meio de uma maior interação com os usuários.
Na corrida pela IA, os Estados Unidos tiveram, em 2021, o dobro de startups que a China e o triplo do investimento privado nessa área, segundo dados da Universidade de Stanford.
© Agence France-Presse
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