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Fim do domínio do Google? Como a IA pode mudar radicalmente a pesquisa online

Campo de busca do Google em tela de computador - Nathana Rebouças/Unsplash
Campo de busca do Google em tela de computador Imagem: Nathana Rebouças/Unsplash

17/05/2023 09h45Atualizada em 18/05/2023 08h41

As buscas na internet, dominadas pelo Google nos últimos 25 anos, se tornaram tão cotidianas quanto as chamadas telefônicas, mas a atual onda de inteligência artificial (IA) generativa pode transformá-las radicalmente.

As consultas formuladas com palavras-chave e as listas de links para sites parecem obsoletas diante das interações que milhões de usuários já têm com interfaces como o ChatGPT da OpenAI, capaz de conversar com humanos e gerar todo tipo de texto após uma simples solicitação.

"As pessoas estão percebendo o quanto usam o Google não para encontrar uma página da web, mas para responder uma pergunta", disse Stefan Sigg, diretor de produtos da Software AG, sediada na Alemanha.

A Microsoft, há muito tempo considerada o 'tiozão' das grandes empresas de tecnologia, abraçou corajosamente a ideia de integrar um robô conversacional (inspirado no ChatGPT) ao Bing, seu mecanismo de busca.

O novo Bing, lançado em todo o mundo após três meses de testes, responde diretamente a uma consulta em vez de fornecer uma página cheia de links para o usuário navegar e clicar.

Com um comando, o Bing pode elaborar tabelas comparativas entre dois produtos, propor um calendário de atividades, redigir uma avaliação ou ajudar na preparação de uma entrevista de emprego, por exemplo.

"Trabalho pesado"

"Agora, o mecanismo de busca faz o trabalho pesado por você", definiu Cathy Edwards, vice-presidente de engenharia do Google, durante a conferência anual de desenvolvedores I/O da empresa na Califórnia na semana passada.

O usuário não precisa mais "analisar todas as informações e juntar as coisas", explicou ela ao apresentar a nova versão do Google Search.

Para acompanhar seu concorrente, Bing, o Google atualizou sua busca com IA, que será testada por usuários nos Estados Unidos nas próximas semanas, segundo a companhia.

"O que estamos tentando fazer é torná-la mais natural e intuitiva, tão fácil quanto perguntar a um amigo que tem respostas sobre todas as áreas", afirmou Elizabeth Reid, vice-presidente de Buscas do Google, à AFP.

O Google e a Microsoft também começaram a adicionar ferramentas de inteligência artificial generativa em seus diversos serviços, da nuvem ao processamento de textos.

Esses robôs conversacionais são apresentados como "copilotos", conforme o termo utilizado pela Microsoft.

Na conferência, o Google anunciou que o Bard, sua interface no estilo ChatGPT, será aberto a 180 países.

"Gênio" pessoal

"Acredito que a busca será dividida em um milhão de peças e integrada em todo tipo de interface, e não apenas em um local monolítico centralizado, que é o que o Google se tornou", apontou John Battelle, jornalista e empresário de mídia.

No entanto, se cada site e aplicativo interagir com os usuários por meio de um chat de IA que se expressa como um profissional humano e convincente, será ainda mais difícil do que é hoje distinguir as boas informações das ruins, advertiu ele.

"Você confiaria em um agente de viagens para encontrar a opção mais vantajosa? Não", observou Battelle. "Por isso, quero que meu próprio 'gênio', meu agente pessoal, negocie com o site", continua.

Aplicativos como Replika e Anima já oferecem "companheiros" de IA, ou seja, chatbots que atuam como amigos virtuais.

Mas Battelle sonha em ter um "gênio" que colete suas informações em todos os lugares - em seu smartphone, computador, televisão, carro - para responder às suas perguntas e realizar tarefas.

Esse robô, alimentado por dados pessoais, compraria, por exemplo, o melhor aspirador de pó para o usuário com base em suas preferências e hábitos, além das promoções vigentes, poupando-lhe uma longa e tediosa busca online.

"Papel fundamental"

No futuro imediato, o Google não vai desaparecer, afirmou Jim Lecinski, professor na Escola de Administração Kellogg.

"Há quatro anos, com a chegada dos assistentes de voz, como Google, Alexa (Amazon) e Siri (Apple), pensávamos que as pessoas apenas iriam falar com as máquinas", disse ele.

Porém, a IA generativa poderia desafiar o modelo econômico da internet, permitindo aos usuários encontrar o produto que desejam "sem ter que clicar em um anúncio", ressaltou Lecinski.

O especialista acredita, no entanto, que as empresas envolvidas, como o Google e o Meta (controladora do Facebook, Instagram e WhatsApp), encontrarão soluções.

Na nova versão do Google Search apresentada na quarta-feira, os anúncios continuam aparecendo de acordo com a pergunta feita.

"Não podemos prever o futuro, mas acreditamos que os anúncios seguirão desempenhando um papel fundamental", indicou Reid, do Google.