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Coletes táteis fazem surdos sentirem música com vibrações

Intérprete de linguagem de sinais (esq.) interage com pessoa vestindo colete háptico (dir.); acessório conta com vários mecanismos que vibram conforme a música, fazendo com que pessoas surdas possam "sentir" a música - Angela Weiss/AFP
Intérprete de linguagem de sinais (esq.) interage com pessoa vestindo colete háptico (dir.); acessório conta com vários mecanismos que vibram conforme a música, fazendo com que pessoas surdas possam "sentir" a música Imagem: Angela Weiss/AFP

27/07/2023 15h24

Os violinos reverberam na caixa torácica, o violoncelo e o baixo são sentidos um pouco mais abaixo, os trompetes nos ombros e, na maioria das vezes, os solistas nos punhos.

Essa é uma das formas na qual o especialista em áudio Patrick Hanlon programa os trajes táteis, desenhados para que os surdos ou pessoas com problemas de audição possam sentir a música, mas sem ouvi-la.

Em um recente concerto de música clássica no Lincoln Center de Nova York, alguns participantes vestiram esses coletes sem fio com 24 pontos de vibração que "traduziam" a música tocada pela orquestrada.

"Envolve o corpo", disse Hanlon à AFP antes do espetáculo, oferecendo aos participantes uma "experiência envolvente em 3D por meio das vibrações".

Hanlon é cofundador do Music: Not Impossible, uma filial do Not Impossible Labs, que emprega a tecnologia para tentar diminuir as barreiras sociais, incluindo as que envolvem a deficiência.

Homem usa colete háptico criado para que pessoas surdas possam sentir a música, durante concerto na cidade de Nova York - Angela Weiss/AFP - Angela Weiss/AFP
Homem usa colete háptico criado para que pessoas surdas possam sentir a música, durante concerto na cidade de Nova York
Imagem: Angela Weiss/AFP

Até agora, as pessoas surdas ou com dificuldades auditivas recorriam a outros métodos para desfrutar da música ao vivo, como pôr as mãos nos alto-falantes ou segurar um balão para sentir as vibrações nas pontas dos dedos.

O objetivo dos coletes - ao lado de faixas nos pulsos ou nos tornozelos - é permitir uma experiência corporal completa, criando sensações que reproduzem os sentimentos que a música pode evocar.

"Ninguém espera que seja tão atrativo", disse Hanlon sobre os coletes. Mas "quando se vê os olhos das pessoas, é mágico".

Para Jay Zimmerman, um compositor que perdeu capacidade auditiva por causa dos atentados terroristas de 11 de setembro de 2001, os coletes são um exemplo de uma nova tecnologia que oferece mais flexibilidade e dinamismo ao que existia até agora.

"Minha esperança é que podemos conseguir que as crianças surdas vivam experiências com vibrações e materiais reais, para que comecem a construir esta biblioteca de memória auditiva, ainda que não seja auditiva pelos seus ouvidos, mas com sensações diferentes", disse à AFP.

"Acredito que se pudermos juntar tudo, teremos verdadeiras oportunidades".

O Lincoln Center, um prestigioso complexo cultural de Upper West Side em Manhattan, começou trabalhando com Music: Not Impossible em 2021, tanto para os espetáculos de orquestra como para sua popular série de concertos ao ar livre.

Em sua colaboração mais recente foram oferecidos 75 coletes durante o concerto ao ar livre da Semana das Artes Coreanas, na qual se interpretou música folclórica coreana e a Ópera nº 2 de Mozart.

Flavia Naslausky, responsável pelo negócio do Music: Not Impossible, descreveu como durante os primeiros testes, Mandy Harvey - uma cantora que perdeu a audição após uma doença - foi capaz de igualar o som da música após sentir a vibração que a traduzia.

"Foi então que soubemos que estávamos certos, porque se alguém que não ouve pode igualar essa nota com uma vibração... estamos na direção correta", disse Naslausky.

Os coletes dessa companhia não se limitam a um tipo de música. Hanlon explica que os pontos de vibração podem ser ajustados para se adaptar ao ambiente do espetáculo, desde o rock até a música disco.

Esses coletes já foram utilizados em shows de Greta Van Fleet e Lady Gaga.

© Agence France-Presse