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Dispositivo no queixo gera eletricidade com mastigação de chiclete

Aparelho precisa ser 20 vezes mais eficiente para ser aplicado comercialmente - A Denalvaz/J Voix
Aparelho precisa ser 20 vezes mais eficiente para ser aplicado comercialmente Imagem: A Denalvaz/J Voix

Jonathan Webb

BBC News

17/09/2014 11h19

Engenheiros canadenses construíram um aparelho que, por meio de uma correia presa ao queixo, transforma em eletricidade a força usada em movimentos de mastigação.

Seus inventores esperam que ele possa tornar desnecessário o uso de baterias em aparelhos auditivos e outros aparelhos eletrônicos pequenos usados no dia a dia.

Feito de um material "inteligente" que é carregado com energia elétrica quando esticado, o protótipo ainda precisa passar por melhorias na eficiência e gerar pelo menos 20 vezes mais energia para poder ser aplicado comercialmente.

Os pesquisadores afirmam que podem fazer isso ao adicionar mais camadas do material ao aparelho.

Candidato promissor

Os engenheiros mecânicos Aidin Delnavaz e Jeremie Voix, da Escola de Tecnologia Superior, em Montreal, no Canadá, indicam no estudo, publicado no periódico científico Smart Materials and Structures, que o movimento feito com a mandíbula durante a mastigação é um candidato promissor para geração de energia elétrica.

Eles trabalham no desenvolvimento de tecnologia auditiva, como aparelhos para surdez e implantes cocleares, e buscam uma forma de dispensar o uso de baterias descartáveis nestes dispositivos eletrônicos.

"Avaliamos todas as fontes de energia possíveis", disse Voix à BBC. Isso inclui o calor gerado no interior do canal auditivo e os movimentos feitos com a cabeça, que poderiam ser usados para fornecer energia como ocorre com os movimentos do pulso em relógios automáticos.

Em outros experimentos, eles também testaram os movimentos criados pela mandíbula no interior do próprio canal auditivo.

"Mas percebemos que, quando movemos a mandíbula, o movimento gerado no queixo é maior. Então, se você estiver usando algum tipo de proteção, uma correia neste local pode gerar muita energia", afirmou Voix.

Efeito 'piezoelétrico'

Os dois cientistas decidiram, então, tirar proveito do chamado efeito piezoelétrico: quando certos tipos de materiais são pressionados ou esticados ("piezo" vem da palavra grega para "apertar"), eles acumulam carga elétrica.

Nos testes, o ato de mastigar um chiclete por 60 segundos gerou até 18 microwatts de eletricidade. Para fazer funcionar um aparelho auditivo, seria necessária uma quantidade de energia 20 vezes maior.

"Podemos adicionar mais camadas deste tipo de material à faixa presa ao queixo para criar uma carga elétrica maior", disse Delnavaz.

O pesquisador explica que, mesmo com 20 camadas, a correia ainda teria apenas 6mm de espessura. Ele acrescenta que usou o protótipo por "várias horas" em testes e não sentiu nenhum incômodo ao falar e mastigar com a faixa acoplada ao queixo.

"Mostramos no estudo que não é preciso ter uma faixa presa muito firmemente ao queixo para gerar energia."

Limitações

A equipe de cientistas também investiga como usar outros materiais mais eficientes. No entanto, mesmo com melhorias, a ideia nunca poderá ser aplicada a aparelhos que consomem muita eletricidade.

"Não funcionaria para um celular ou algo do tipo", comentou Steve Beeby, da Universidade de Southampton.

Voix concorda. Ele acredita que seu invento poderá ser usado por pessoas que já usam algum tipo de correia de queixo, como soldados que usam capacetes e precisam se comunicar por sistemas de microfones e fones de ouvido, ou ciclistas.

"Pedalo para o meu trabalho todos os dias e uso um capacete. Por que meu fone de ouvido sem-fio não pode ser carregado usando a energia gerada por uma faixa?"

Por enquanto, estes usos ainda são uma possibilidade distante, apesar dos inventores já terem sido abordados por empresas interessadas em aplicar a tecnologia.

"Apenas provamos que a ideia funciona", enfatizou Voix. "A energia gerada ainda é muito limitada."