O polêmico tuíte que levou Elon Musk e a Tesla a serem investigados nos EUA
Os 280 caracteres do Twitter foram suficientes para que o multimilionário sul-africano Elon Musk se envolvesse em polêmicas e criasse problemas para si e seus negócios duas vezes nos últimos dois meses.
Em julho, ele usou a rede social para chamar de "pedófilo" um dos mergulhadores que ajudavam no resgate do treinador e dos 12 meninos presos em caverna na Tailândia. A postagem veio depois que o mergulhador tinha dito que a proposta do empresário de usar um minissubmarino no regate se tratava de "golpe de marketing". Diante das críticas, Musk pediu desculpas.
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Na terça-feira da semana passada, o empresário tuitou que está planejando tirar da bolsa de valores a Tesla, empresa automotiva e de armazenamento de energia com sede nos EUA. A mensagem, publicada em 7 de agosto, foi retuitada 16 mil vezes e ganhou mais de 86 mil curtidas. Cerca de seis mil pessoas comentaram a publicação.
Na segunda-feira, 13, Musk precisou publicar uma nota para esclarecer o tuíte e explicar que havia um fundo árabe interessado em financiar a saída da empresa da Bolsa de Nova York.
Isso não impediu, contudo, que o tuíte continuasse repercutindo negativamente.
A dor de cabeça de Musk, que também é fundador do Space X - empresa de sistemas aeroespaciais -, começou na semana passada, quando ele digitou 61 caracteres no Twitter. No texto, disse que considerava transformar a Tesla em empresa privada e que já tinha "financiamento assegurado". Ele ainda respondeu a alguns comentários defendendo a ideia.
Foi suficiente para provocar uma alta nas ações da Tesla e, também, gerar polêmica. Muita gente questionou se ele poderia fazer um anúncio desse tipo pela rede social.
Processo legal
Na sexta-feira passada, vários investidores apresentaram reclamações contra Musk por considerar o anúncio "fraudulento e enganoso", já que a avaliação foi de que o empresário buscava apenas provocar uma turbulência no mercado financeiro.
A Comissão de Valores Mobiliários dos EUA (SEC, na sigla em inglês), agência reguladora do mercado de capitais, abriu um procedimento para investigar se de fato Musk pretende fechar o capital da companhia e se divulgou a notícia em primeira mão pelas redes sociais, em vez de usar as fontes oficiais - o que poderia ser considerado uma violação da legislação americana.
Uma lei de 1934 proíbe que empresas com ações na bolsa anunciem planos para comprar ou vender títulos se seus respectivos executivos não têm a real intenção de fazê-lo, não tiverem os meios para fechar o negócio ou se, simplesmente, querem manipular o preço das ações.
A SEC permite que as empresas usem as redes sociais desde que avisem os acionistas com antecedência de seus planos. No entanto, não está claro se Musk comunicou seus planos previamente - muitos grupos de investimentos dizem que houve comunicado prévio ao tuíte do multimilionário.
Além disso, o fato de Musk ter escrito que a fonte de financiamento estava garantida levantou muitas dúvidas e colocou a empresa sob pressão.
Membros do conselho da Tesla já vinham pedindo que o empresário não falasse sobre o acordo nas redes sociais. Mas o multimilionário falou do plano de sair do mercado de ações no blog da Tesla e no Twitter, mesmo quando a SEC disse que estava monitorando a situação.
Musk não teve alternativa senão revelar quem seria o financiador por trás da possível saída da Tesla do mercado de ações.
Um fundo saudita
O empresário escolheu o próprio blog para publicar um comunicado, na tentativa de acalmar o mercado e justificar o tuíte.
"Por que eu fiz um anúncio público? A única maneira através da qual eu poderia ter discussões significativas com os nossos maiores acionistas era comunicá-los sobre o meu desejo de fechar o capital da empresa. No entanto, não seria correto compartilhar informações apenas com nossos maiores investidores, sem compartilhar as mesmas informações com todos os investidores ao mesmo tempo. Como resultado, ficou claro para mim que a coisa certa a fazer era anunciar minhas intenções publicamente", escreveu ele no blog.
No mesmo texto, ele revelou que um fundo saudita poderá financiar a saída da Tesla da bolsa. Segundo Musk, esse fundo já possuiu 5% das ações da companhia. Numa reunião recente, segundo o empresário, o responsável pelo fundo lamentou não ter conseguido fazer avançar negociações prévias para o fechamento do capital da empresa e reiterou o apoio para financiar esse processo.
Musk afirmou no comunicado no blog da empresa que as estimativas de que seriam necessários US$ 70 bilhões para tirar a Tesla da bolsa foram "dramaticamente superestimadas".
Nos últimos anos, esse fundo saudita tem movimentado montantes bilionários e optado por diversificar os investimentos. Tem se afastado de negócios relacionados ao petróleo e investido em ativos que vão desde compra de ações de empresas como a Tesla até a criação de museus.
O desejo do fundo de diversificar os investimentos está relacionado a um programa do governo saudita chamado Visão 2030, que tem como objetivo acabar com a dependência do país dos dividendos gerados pelo petróleo.
A saída da Bolsa
Se Musk tirar a Tesla da Bolsa de Valores, ele poderia continuar desenvolvendo seus produtos sem precisar passar pelo escrutínio trimestral exigido a todas as empresas que abrem seu capital.
Em uma carta enviada na semana passada a seus empregados, Musk, que também criou o Paypal, assegurou que "ter capital aberto significa ter um grande número de pessoas motivadas a atacar a empresa".
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