O método de ensino com o qual estudaram os criadores da Amazon, do Google e da Wikipedia
Jeff Bezos, Sergey Brin, Larry Page e Jimmy Wales, entre outros, estudaram sob um sistema de aprendizagem que estimula a criatividade num ambiente colaborativo, sem notas ou provas.
O que algumas das pessoas mais bem-sucedidas do mundo têm em comum?
Comecemos pelo homem mais rico do planeta: o americano Jeff Bezos, cuja fortuna está avaliada em US$ 140,2 bilhões, segundo a revista Forbes. Ele é dono de 16% da Amazon, gigante do e-commerce, que fundou em uma garagem em Seattle em 1994 e se tornou um sucesso estrondoso no mercado.
Sergey Brin e Larry Page, por sua vez, são dois outros empreendedores que souberam moldar sua criatividade para criar o mecanismo de busca da internet por excelência: o Google. Eles também estão entre as pessoas mais ricas do globo, nas posições 12 e 13, respectivamente. Somadas, as fortunas de ambos ultrapassam os US$ 96 bilhões.
Outros empreendedores criativos e bem sucedidos são Jimmy Wales, fundador da Wikipedia, e Will Wright, designer de videogames e criador do popular jogo SimCity.
Num setor muito diferente, encontramos Beyoncé, uma artista que soube cativar o público, tornando-se uma estrela da música e uma referência feminista - além de ser uma das mulheres mais bem pagas da indústria.
E, por último, destacamos o Prêmio Nobel de Literatura Gabriel García Márquez, morto em 2014.
Apesar das diferenças entre esses personagens, suas trajetórias se cruzam em um ponto: desde pequenos, todos estudaram sob o mesmo sistema educacional, o método Montessori.
O que é o método Montessori?
É um processo de aprendizagem fundado pela médica e educadora italiana Maria Montessori (1870-1952), que enfatiza um ambiente colaborativo onde notas e provas não existem.
Além disso, as salas de aula são formadas por estudantes de várias idades que oscilam principalmente entre 2 anos e meio e 7 anos (embora existam programas que incluam jovens de até 18 anos), onde a aprendizagem e a descoberta são processos individuais e acontecem durante longos períodos de tempo.
"Nossa principal preocupação deve ser educar a humanidade, os seres humanos de todas as nações, a fim de orientá-la para a busca de objetivos comuns", diz um texto da Associação Montessori Internacional (AMI, na sigla em italiano), publicado em seu site.
"Devemos fazer da criança nossa principal preocupação. Os esforços da ciência devem se concentrar nela, porque ela é a fonte e a chave dos enigmas da humanidade", continua o artigo.
"O que se destaca na educação Montessori é o desenvolvimento individual das pessoas. Ele não cria um sistema centrado no professor, mas no desenvolvimento das necessidades do indivíduo. E não é apenas acadêmico, mas também físico, social e emocional", diz Scott Akridge, proprietário da Academia Riverstone Montessori, na Geórgia, nos Estados Unidos.
Trata-se, segundo seus defensores, de um sistema baseado em habilidades.
"Não ensinamos só o acadêmico, também ensinamos habilidades para empreender. É o que se chama de habilidades de função executiva, que é prestar atenção, organizar, planejar, iniciar tarefas e se concentrar nelas, controlar emoções e auto-observação", explica Akridge.
"E é por isso que graduados Montessori se tornam grandes líderes, porque todas as funções executivas para serem bem-sucedidos foram aprendidas na pré-escola e no ensino fundamental", acrescenta.
Atualmente, existem cerca de 25 mil escolas Montessori em todo o mundo - embora Associação Montessori Internacional reconheça que é difícil saber o número exato, porque as instituições não são obrigadas a se registar na associação.
Em primeira pessoa
Quando tinha apenas 2 anos, Jeff Bezos frequentou uma escola Montessori em Albuquerque, nos Estados Unidos, durante um ano e meio. "É incrível", Jeff Bezos disse à revista Montessori Life em 2000. "Que programa bom."
"Intuitivamente, acho que foi uma experiência muito formativa ter ido àquelas aulas, naquele ambiente e ter sido estimulado desde muito cedo", analisou Bezos sobre seu tempo na escola.
Em setembro, Bezos criou um fundo de caridade de US$ 2 bilhões para ajudar os sem-teto e estabelecer uma nova rede de escolas inspiradas por esse método educacional.
Os fundadores do Google também já destacaram a importância da educação primária que receberam para suas conquistas. "Nós dois fomos para a escola Montessori e acho que parte do treinamento de não seguir ordens e regras nos motivou a pensar o que estava acontecendo no mundo e a pensar em coisas diferentes", disse Larry Page, em entrevista à rede americana ABC, em 2004.
Gabriel García Márquez foi outro dos antigos alunos de Montessori, fato que o escritor destacou em seu livro autobiográfico "Viver para contar". "Eu não acho que há um método melhor do que o Montessori para sensibilizar as crianças para as belezas do mundo e para despertar a curiosidade sobre os segredos da vida", Márquez escreveu.
"É curioso que os empreendedores de sucesso que estudaram na Montessori falem sobre sua formação inicial quando perguntados sobre como se tornaram o que são", diz Akridge.
"Quando falamos de realizações (por causa das práticas) Montessori, às vezes é difícil, porque nosso método é apenas de primário. Então há uma lacuna desde (o momento em) que as pessoas deixam a escola (até começarem a trabalhar). Por isso, chama a atenção que esses empreendedores milionários o mencionem", diz.
Críticas
Mas nem todos os comentários são positivos quando se fala do método Montessori. Alguns críticos acreditam que o ambiente de sala de aula é livre demais, questionam as prioridades de ensino de Montessori ou o fato de que as crianças normalmente não terem dever de casa.
Há também aqueles que desaprovam a liberdade dos alunos de escolherem o que vão estudar, porque acreditam que isso os leva a não dominarem algumas áreas de conhecimento no futuro.
Como não há exames formais, há também aqueles que temem que a falta de uma estrutura mais rígida deixe a criança em desvantagem durante a transição entre a escola Montessori e a tradicional, de acordo com um artigo da Universidade Concordia em Oregon, nos Estados Unidos.
Akridge contesta essa visão. "As pesquisas mais recentes sobre educação refletem o que fazemos em termos de sucesso. Por exemplo: misturar idades na escola, dar menos lição de casa, focar nas necessidades emocionais da criança ...", diz. "Tudo isso, estamos fazendo há 100 anos", diz.
Em um estudo de 2017 publicado na revista Frontiers in Psychology, pesquisadores avaliaram o início da pré-escola para cerca de 70 alunos do método Montessori e para outros 70 de uma escola tradicional nos Estados Unidos. Todos eles iniciaram os estudos com pontuações semelhantes.
Nos três anos seguintes, as 70 crianças do método Montessori tiveram melhores resultados em testes de matemática e alfabetização. No final da pré-escola, os alunos da Montessori tiveram um desempenho significativamente melhor nessas áreas.
No entanto, na resolução de problemas de grupo, função executiva e criatividade, não houve diferenças significativas.
Outro estudo do ano passado publicado na revista Nature destacou que não há evidências de que os resultados em estudantes do método Montessori indiquem maior eficácia do método.
A pesquisa, do Departamento de Psicologia e Desenvolvimento Humano da University College of London, no Reino Unido, analisou estudos feitos sobre o sistema educacional e ressaltou que "não há elementos individuais do método Montessori que poderiam explicar algum dos efeitos positivos que eles afirmam encontrar" nos alunos.
O que fica claro é que medir o êxito de alguém é muito difícil. E atribuí-lo à educação primária, como nos casos de celebridades milionárias, também é.
"A história por trás do sucesso dos pessoaas de negócios é delas próprias. Se elas atribuem isso à sua educação em Montessori, também é uma decisão delas", respondeu a Associação Montessori Internacional à BBC.
"Todos eles são pessoas de negócios inspiradas na tecnologia e, nesse sentido, suas mentes são, naturalmente, curiosas, inquisitivas e motivadas pelo desejo de descobrir", afirmou a entidade.
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