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Huawei: um guia simples para entender por que a gigante chinesa é alvo de tanta polêmica

A empresa é alvo de uma grande polêmica comercial envolvendo os Estados Unidos - Aly Song/Reuters
A empresa é alvo de uma grande polêmica comercial envolvendo os Estados Unidos Imagem: Aly Song/Reuters

28/04/2019 09h20

Uma das principais fabricantes do segmento de telefones celulares está sofrendo escrutínio em diversos países sob suspeita de espionagem do governo chinês.

Muita gente está falando sobre a Huawei - e não é porque eles lançam elogiados celulares com tecnologia de ponta.

A empresa chinesa está sob escrutínio em diversos lugares depois que foram levantadas suspeitas de que seus equipamentos seriam usados pelo governo da China para espionar as pessoas ao redor do mundo. A Huawei nega com veemência essa acusação.

Nos EUA há um processo judicial em curso e outros países estão com problemas de confiança na gigante de tecnologia.

Na direção contrária (em parte), o Reino Unido deu luz verde à Huawei para fornecer equipamentos para a rede de dados 5G do país.

A empresa chinesa participará da construção de peças "não essenciais", como antenas, mas foi impedida de produzir partes "centrais" do sistema que poderiam abrir brecha para o acesso a informações confidenciais.

A decisão do Conselho Nacional de Segurança de permitir a participação parcial da Huawei foi revelada pelo jornal britânico Daily Telegraph, e o vazamento dessa informação sigilosa deve resultar em uma investigação envolvendo parlamentares que estavam presentes na reunião do conselho.

A BBC preparou um guia simples para entender o que está acontecendo com a Huawei e o 5G.

O que é a Huawei?

Em primeiro lugar, o nome da empresa é pronunciado como "uá-uei".

No mercado global de telefones celulares, a companhia chinesa está em segundo lugar, atrás da líder da sul-coreana Samsung e à frente da americana Apple.

Suas vendas no Reino Unido tiveram um grande salto em 2018 com o lançamento do modelo P20 Pro.

De acordo com especialistas, o P20 Pro está no mesmo patamar dos concorrentes.

A Huawei também fornece tecnologia para outras empresas para fabricarem seus próprios aparelhos e redes wi-fi.

Basicamente, os produtos da empresa estão por todo lugar.

Por que todo mundo está falando da Huawei?

Há diversas preocupações em torno do que a empresa chinesa vem fazendo com seus milhões de celulares vendidos.

Alguns países temem que ela esteja sendo usada pelo governo da China para espionar as pessoas.

O fundador, Ren Zhengfei, era engenheiro do Exército de Libertação do Povo Chinês no início dos anos 1980 - um dos aspectos que preocupam empresas e governos que já desconfiam dos líderes políticos da China.

O Exército Popular de Libertação da China é a força armada do Partido Comunista da China, que governa a República Popular da China desde 1949.

A Huawei afirma ser uma empresa independente, sem vínculos com o governo chinês.

"Não vamos arriscar ser alvo do desprezo do nosso país e de nossos consumidores no mundo todo por algo assim. Nossa empresa nunca vai participar de qualquer atividade de espionagem. Se tivermos esse tipo de atividade, então eu fecharei a empresa."

Mas há suspeitas nos EUA desde 2012 de que os equipamentos da empresa representam uma ameaça à segurança.

No Reino Unido, um relatório em 2018 disse que tinha "apenas uma garantia limitada" de que os equipamentos móveis e de banda larga da Huawei não eram uma ameaça à segurança nacional - o que não é exatamente um endosso que tranquilize e encerre a questão.

Que países adotaram medidas contra a Huawei?

Em 2018, tanto a Austrália quanto a Nova Zelândia excluíram a empresa chinesa do envolvimento em sua futura rede 5G - novamente porque acham que a empresa pode estar tentando espioná-los.

Em janeiro de 2019, a Vodafone "congelou" o uso de equipamentos dela na Europa (especificamente na Espanha) porque eles tinham as mesmas preocupações acerca da privacidade e da segurança.

Há um processo judicial em curso nos Estados Unidos no qual a Huawei é acusada de fraude bancária, obstrução de Justiça e roubo de tecnologia da rival T-Mobile - nada a ver com espionagem de pessoas.

Algumas das acusações dizem respeito a supostos negócios entre a empresa e o Irã. Segundo o presidente americano Donald Trump, companhias que negociam com iranianos não podem negociar com os EUA.

Meng Wanzhou, diretora financeira da Huawei e filha do fundador Ren Zhengfei, foi presa no Canadá. Ela e a empresa são alvo de 23 acusações, divididas em dois inquéritos que correm no Departamento de Justiça dos EUA.

O primeiro abarca acusações de que a Huawei teria negócios secretos com o Irã - país que é alvo de sanções econômicas dos EUA. O segundo inclui a acusação de que a empresa chinesa teria tentado roubar segredos tecnológicos de companhias americanas.

A empresa chinesa nega todas as acusações.

O que é o 5G?

A rede 5G é a próxima (quinta) geração de conectividade móvel com a internet, que promete velocidades de download e upload de dados muito mais rápidos, maior cobertura e conexões mais estáveis.

Bandas de espectro existentes estão ficando congestionadas, levando a falhas - especialmente quando muitas pessoas em uma área estão tentando acessar serviços ao mesmo tempo, como estádios ou Carnaval.

O 5G também é muito melhor em lidar com milhares de dispositivos simultaneamente, de telefones a sensores de equipamentos, câmeras de vídeo e luzes de rua inteligentes.

As atuais redes móveis 4G podem oferecer velocidades de aproximadamente 45mbps (megabits por segundo) em média. Especialistas dizem que o 5G - que está começando a ser implementado no Reino Unido este ano - pode conseguir navegação e downloads até 20 vezes mais rápido.

A implementação do sistema 5G na América Latina deve andar a passos mais lentos. Especialistas estimam que até 2025 cerca de 8% dos aparelhos estarão conectados à nova rede.

O Brasil, que ainda tem diversas áreas sem cobertura 2G (voz sem dados), planeja fazer um leilão das faixas de frequência ao 5G em março de 2020. Somente a partir daí haveria investimentos nessa nova infraestrutura (como antenas), sem previsão precisa do início do funcionamento.

Não há nenhuma decisão do governo brasileiro sobre a participação ou não da Huawei na construção da nova rede.

E se você estiver lendo isso em um aparelho da Huawei?

Grande parte das preocupações relacionadas à Huawei está ligada ao envolvimento da empresa chinesa em redes de outras companhias, e não à utilização de detalhes pessoais de consumidores que compraram um P20, por exemplo.

É importante lembrar que não há acusações formais de espionagem contra a empresa, mesmo no processo em andamento nos EUA. Ninguém da Huawei foi, até o momento, considerado culpado de nenhuma das suspeitas levantadas.