Por que Apple, Google, Tesla e outras são acusadas de lucrar com trabalho infantil na África
Unicef estima que existam aproximadamente 40 mil crianças trabalhando em minas de cobalto no sul da República Democrática do Congo, que produz 60% da oferta mundial do minério.
Apple, Google, Tesla e Microsoft estão entre os nomes citados em uma ação judicial movida nos Estados Unidos que as acusa as empresas de "ter conhecimento" de que o cobalto usado em seus produtos pode estar relacionado à exploração do trabalho infantil.
O caso foi apresentado pela organização International Rights Advocates em nome de 14 famílias congolesas.
Os autores solicitam indenização pelas mortes e ferimentos de crianças nas minas de cobalto na República Democrática do Congo.
Segundo a associação, as mortes ocorreram nos túneis de extração ou por conta da queda de paredes das minas.
A República Democrática do Congo produz 60% do suprimento mundial de cobalto.
No entanto, a extração está há anos sob os holofotes da comunidade internacional, que aponta irregularidades diversas, como violações de direitos humanos, mineração ilegal e corrupção.
O Unicef, fundo das Nações Unidas para a infância, estima que existam aproximadamente 40 mil crianças trabalhando em minas no sul da República Democrática do Congo.
A International Rights Advocates argumenta que as empresas não regulam suas cadeias de suprimentos como deveriam.
Mineral essencial
O mineral é um componente essencial das baterias de íon-lítio que alimentam dispositivos eletrônicos, como computadores, smartphones e carros elétricos.
Também pode ser encontrado em motores de aviões, foguetes, usinas nucleares, turbinas, ferramentas de corte e até próteses de quadril.
É um mineral essencial da vida moderna.
A combinação com outros metais produz ligas extremamente resistentes e estáveis ??sob temperaturas extremas.
De 2016 a 2018, o preço do cobalto disparou de cerca de US$ 26 mil (cerca de R$ 105 mil) por tonelada para mais de US$ 90 mil (R$ 365 mil), embora em 2019 os preços tenham caído acentuadamente.
Além disso, a União Europeia e os Estados Unidos rotularam o cobalto como uma matéria-prima essencial.
Um dólar ou dois por dia
"O avanço tecnológico causou uma explosão na demanda por cobalto, mas em um dos contrastes mais extremos imagináveis dessa situação o cobalto é extraído na República Democrática do Congo - em condições extremamente perigosas - por crianças que recebem um ou dois dólares por dia ", diz o processo que corre na Justiça americana.
Essa extração serve "para fornecer cobalto para a fabricação de dispositivos de algumas das empresas mais ricas do mundo", acrescenta o texto.
Outras empresas listadas no processo são a fabricante de computadores Dell e duas empresas de mineração, a Zhejiang Huayou Cobalt e a Glencore, proprietárias dos campos onde as famílias congolesas afirmam que seus filhos trabalhavam.
A Glencore disse em comunicado ao jornal The Telegraph, no Reino Unido, que "não compra, processa ou comercializa qualquer mineral extraído artesanalmente".
Ela acrescentou que também "não tolera nenhuma forma de trabalho infantil, forçado ou obrigatório".
A BBC entrou em contato com a Zhejiang Huayou Cobalt, mas não recebeu uma resposta até a publicação desta reportagem.
Os documentos judiciais, aos quais o jornal britânico The Guardian teve acesso, dão vários exemplos de crianças que foram enterradas vivas ou que sofreram ferimentos durante os trabalhos de mineração.
As 14 famílias congolesas querem que as empresas as compensem pelo trabalho forçado, pelo estresse emocional e pela negligência na supervisão da cadeia de produção.
Em resposta ao Telegraph, a Microsoft afirmou estar comprometida com a compra responsável de minerais e que sempre investiga quaisquer violações de seus fornecedores e toma as medidas cabíveis.
A BBC também solicitou um posicionamento do Google, Apple, Dell e Tesla.
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