Por que George Soros está pedindo que Mark Zuckerberg deixe o comando do Facebook
Bilionário acusa rede social de ter um 'acordo informal' com Trump para ajudá-lo na reeleição e assim sustentar seu modelo de negócios; na Europa, Zuckerberg defende regulamentação em prol da democracia.
O bilionário George Soros intensificou suas críticas ao Facebook, defendendo que os dois principais executivos da rede social — o criador Mark Zuckerberg e a executiva-chefe de operações Sheryl Sandberg — sejam removidos de seus postos.
Soros, que é conhecido por fazer fortuna no mercado financeiro e doar dinheiro a causas progressistas (e também ao Partido Democrata americano), fez suas críticas em uma carta publicada nesta terça-feira (18/2) no jornal britânico Financial Times e em um artigo de opinião publicado em 31 de janeiro no The New York Times.
Seu argumento, nos textos, é que a recusa do Facebook em excluir publicidade política de sua plataforma está "ajudando (Donald) Trump a se reeleger" e que parece estar em curso "um acordo ou operação informal de assistência mútua entre Trump e o Facebook".
"Repito minha proposta, Mark Zuckerberg e Sheryl Sandberg devem ser removidos do controle do Facebook (nem preciso dizer que apoio uma regulamentação do governo sobre as plataformas de redes sociais)", escreveu o bilionário no FT.
"O Facebook não precisaria esperar pela regulamentação do governo para parar de aceitar qualquer anúncio publicitário político em 2020, até depois das eleições (presidenciais americanas) de 4 de novembro. Se há qualquer dúvida quanto a se um anúncio é político, ele (Facebook) deveria pecar pelo zelo e recusar-se a publicá-lo. É improvável que o Facebook siga esse caminho."
No New York Times, Soros defendeu que a "assistência mútua entre Trump e Facebook" se dá na forma de "o Facebook ajudar Trump a se reeleger e Trump, em troca, defender o Facebook contra reguladores e a mídia".
Soros e Facebook têm uma relação turbulenta há tempos. Em janeiro de 2018, durante o Fórum Econômico Mundial, o bilionário afirmou que o Facebook era uma "ameaça à sociedade".
No final daquele ano, segundo reportagem do New York Times, funcionários da rede social admitiram que haviam contratado a empresa de relações públicas Definers, que tem ligações com o Partido Republicano americano, para promover uma campanha — coletando informações e passando-as a repórteres, pressionando-os para que publicassem o material — a respeito do patrocínio de Soros a grupos ativistas críticos ao Facebook.
Quando isso veio à tona na imprensa, o Facebook anunciou ter rompido contrato com a empresa de relações públicas. A plataforma também foi acusada de fazer circular ataques antissemitas contra Soros.
Sheryl Sandberg inicialmente negou ter conhecimento da contratação da Definers, mas depois afirmou que havia sido informada sobre a empresa, só que não sabia seu nome.
Na época, ela negou, porém, acusações de que o Facebook tenha tentado colocar Soros sob os holofotes para deixá-lo vulnerável a teorias conspiratórias antissemitas.
"Nunca foi a intenção de ninguém estimular uma narrativa antissemita contra Soros ou qualquer outro. Ser judia é uma parte central de quem sou e nossa empresa se posiciona firmemente contra o ódio", ela escreveu.
Regulamentação na Europa
As críticas de Soros ocorrem no momento em que Zuckerberg faz uma viagem à Europa para se reunir com autoridades e argumentar em favor do que chama de "boa" regulamentação para as redes sociais.
"Acredito que a boa regulamentação pode prejudicar os negócios do Facebook no curto prazo, mas será melhor para todos, nós inclusive, no longo prazo. Há problemas que precisam ser corrigidos e que afetam nossa indústria como um todo. Se não criarmos padrões que as pessoas consideram legítimos, elas não confiarão nas instituições ou na tecnologia", escreveu Zuckerberg também no Financial Times na segunda-feira (17).
"Para deixar claro, não se trata de transferir as responsabilidades. O Facebook não está esperando pela regulamentação; estamos continuamente progredindo nessa questão. Mas acho que regras mais claras beneficiariam todos. A internet é uma força poderosa para o empoderamento social e econômico. A regulamentação que protege as pessoas e apoia a inovação pode garantir que ela permaneça assim."
Foi em reação a esse artigo de Zuckerberg que Soros mandou a carta ao jornal afirmando que o executivo-chefe do Facebook "ofusca os fatos ao defender a regulamentação governamental".
Zuckerberg defende que a regulamentação externa sobre conteúdo nocivo em plataformas de internet seja diferente das regras impostas pelos governos sobre a imprensa e sobre o setor de telecomunicações.
Para muitos analistas, a iniciativa de Zuckerberg ocorre em um momento em que a regulamentação sobre as gigantes de tecnologia parece inevitável, ao menos no continente europeu, à medida que legisladores da União Europeia avançam na discussão sobre leis que regulem uso de dados e da inteligência artificial.
Em resposta aos pedidos de Zuckerberg, o comissário europeu Thierry Breton afirmou que "não cabe a nós nos adaptarmos a essa empresa (Facebook), mas sim à empresa se adaptar a nós".
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