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Facebook bane anúncio de Trump: o que é o símbolo usado pelos nazistas que motivou remoção

Donald Trump, presidente dos Estados Unidos, na Casa Branca - POOL / GETTY IMAGES NORTH AMERICA / Getty Images via AFP
Donald Trump, presidente dos Estados Unidos, na Casa Branca Imagem: POOL / GETTY IMAGES NORTH AMERICA / Getty Images via AFP

19/06/2020 13h58

O Facebook informou que removeu anúncios da campanha de reeleição do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que apresentavam um símbolo usado na Alemanha nazista.

A rede social disse que a propaganda continha um triângulo vermelho invertido semelhante ao usado pelos nazistas para identificar oponentes. Eram costurados nos uniformes de prisioneiros em campos de concentração; os triângulos invertidos vermelhos identificavam prisioneiros comunistas e, mais tarde, todos os outros prisioneiros políticos.

A Alemanha nazista tinha um método específico de identificação dos prisioneiros nos campos de concentração durante a Segunda Guerra Mundial. Eles eram marcados com triângulos invertidos de cores diferentes.

Segundo o Museu do Holocausto dos Estados Unidos, os criminosos eram marcados com triângulos verdes invertidos, prisioneiros políticos com vermelhos, "associais" (incluindo ciganos, não conformistas, indigentes e outros grupos) com pretos ou - no caso dos ciganos em alguns campos - triângulos marrons. Os homossexuais eram identificados com triângulos rosa e as Testemunhas de Jeová com roxos.

Já os prisioneiros não alemães eram identificados pela primeira letra do nome alemão de seu país de origem. Os dois triângulos que formam a estrela judaica seriam amarelos, a menos que o prisioneiro judeu fosse incluído em uma das outras categorias de prisioneiros. Um prisioneiro político judeu, por exemplo, seria identificado com um triângulo amarelo abaixo de um triângulo vermelho.

Postagem de Trump removida pelo Facebook - Getty Images - Getty Images
Postagem de Trump removida pelo Facebook
Imagem: Getty Images

Os nazistas exigiam que os judeus usassem a estrela de Davi amarela não só nos campos de concentração, mas também por toda a Europa ocupada.

Por outro lado, o comitê de campanha de Trump alegou que os anúncios faziam alusão ao movimento ativista de extrema esquerda Antifa, que usaria o símbolo.

Segundo o Facebook, as postagens violavam as políticas da casa de conter o "ódio organizado".

"Não permitimos símbolos que representem organizações odiosas ou ideologias odiosas, a menos que sejam contextualizados ou condenados", disse o chefe de política de segurança da rede social, Nathaniel Gleicher, na quinta-feira (18 de junho).

Ele acrescentou: "Foi o que vimos neste caso com este anúncio e, em qualquer lugar que esse símbolo seja usado, tomaríamos as mesmas ações".

Os anúncios, que foram publicados em páginas pertencentes ao presidente Trump e ao vice-presidente, Mike Pence, permaneceram online por cerca de 24 horas e receberam centenas de milhares de visualizações antes de serem retirados do ar.

"O triângulo vermelho invertido é um símbolo usado pela Antifa, por isso foi incluído em um anúncio sobre o Antifa", disse Tim Murtaugh, porta-voz da campanha de Trump, em comunicado.

"Observamos que o Facebook ainda possui um emoji de triângulo vermelho invertido em uso, que parece exatamente o mesmo", acrescentou.

Recentemente, Trump acusou o Antifa de estar por trás de protestos violentos nos EUA em decorrência da morte de George Floyd.

Floyd, um homem negro de 46 anos, foi morto por um policial branco após ser algemado e ter seu pescoço prensado por quase nove minutos.

No mês passado, Trump disse que designaria o grupo antifascista como "organização terrorista doméstica", embora especialistas em direito tenham questionado sua autoridade para fazê-lo.

Antifa é um movimento de protesto de extrema esquerda que se opõe a neonazistas, fascismo, supremacistas brancos e racismo. É considerado um grupo pouco organizado, sem uma liderança única.

Muitos integrantes do movimento criticam o que consideram políticas nacionalistas, anti-imigração e antimuçulmanas de Trump.

No início deste mês, funcionários do Facebook se manifestaram contra a decisão da gigante de tecnologia de não remover ou sinalizar um post polêmico de Trump relacionado aos protestos contra a morte de Floyd.

O presidente postou um comentário na rede social dizendo que "enviaria a Guarda Nacional" e alertou que "quando os saques começarem, o tiroteio começará". Mas o Facebook disse que a postagem não violou a política da empresa.

Trump havia tuitado os mesmos comentários, mas o Twitter colocou um aviso sobre o conteúdo, que dizia "violência glorificada".

Alguns funcionários do Facebook disseram estar "envergonhados".

Uma decisão que provavelmente enfurecerá o presidente

Por James Clayton, repórter de tecnologia da BBC nos Estados Unidos

Esta é o último capítulo de um relacionamento cada vez mais difícil entre as gigantes da tecnologia e a Casa Branca.

No mês passado, o Twitter colocou um aviso sobre um dos tuítes do presidente sobre os protestos em Minneapolis - dizendo que havia "glorificado a violência".

Trump reagiu falando sobre o "poder não controlado" da grande tecnologia. Ele disse que a Seção 230 - uma lei que protege as empresas de mídias sociais de serem legalmente responsáveis pelo conteúdo online dos usuários - deve ser revogada.

Mas o Facebook é a plataforma com a qual Trump realmente se importa. A rede social consome a maioria de seu orçamento de publicidade política on-line. A medida provavelmente enfurecerá o presidente. A decisão também pode ser vista como um aviso de que o Facebook modera - e irá - moderar algum conteúdo político.

À medida que a eleição de 2020 se aproxima, é provável que as atenções se voltem cada vez mais no que o Facebook vai remover ou não.