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Clubhouse: por que nova rede social de áudios já provoca polêmica na China

Usuários do aplicativo relatam interrupções em seu funcionamento na China - Reuters
Usuários do aplicativo relatam interrupções em seu funcionamento na China Imagem: Reuters

08/02/2021 15h17

Rede social foi usada para fomentar discussões que desagradaram governo chinês. Dias depois se popularizar no país, o aplicativo de bate-papo em áudio ficou fora do ar, gerando acusações de censura.

Usuários do aplicativo de bate-papo em áudio Clubhouse têm relatado interrupções em seu funcionamento na China, gerando temores de que o app esteja sendo bloqueado pelo chamado "Grande Firewall" do Estado chinês.

A rede social usa áudio em vez de texto para permitir que as pessoas conversem nas salas.

Até recentemente, ele tinha sido usado principalmente por entusiastas de tecnologia no Vale do Silício, mas explodiu em popularidade na China nas últimas semanas.

Ao contrário de muitos aplicativos chineses, ele não era censurado — abrindo espaço para discussões sobre tópicos raramente debatidos na internet do país.

As autoridades chinesas mantêm um controle significativo sobre o que é publicado na internet, censurando os resultados de pesquisas e limitando a visibilidade das postagens sobre muitos tópicos.

Mas o áudio dos bate-papos dos usuários no aplicativo Clubhouse não é gravado, permitindo alguma medida de privacidade — algo que foi explorado no último fim de semana antes dos indícios de bloqueio.

Enquanto o Clubhouse estava ativo, ele hospedava um tipo de conversa raramente visto online na China.

Repórteres da BBC encontraram uma sala com milhares de participantes, da China e de Taiwan, discutindo educadamente muitos tópicos delicados para o governo chinês. Pequim considera Taiwan uma província separatista, mas Taiwan se vê como um Estado soberano.

Os tópicos discutidos no aplicativo incluíam os prós e os contras da democracia; discussões polêmicas sobre a política de Hong Kong; conversas sobre o grupo étnico uigur no oeste do país, que tem parte de sua população confinada forçadamente em campos de "reeducação" e sujeita, segundo investigação da BBC, a abusos de direitos humanos; bem como a unificação de Taiwan e China.

Mas participantes de ambos os lados também compartilharam histórias sobre visitar as terras natais uns dos outros pela primeira vez.

A popularidade crescente da rede social — e o fato de ser apenas para convidados — fez com que os convites fossem vendidos por até US$ 77 (cerca de R$ 410) cada, relatou o jornal Financial Times.

Mas muitos observadores da China, que entraram na rede social durante o fim de semana, questionaram por quanto tempo essas conversas abertas e sem censura poderiam continuar.

Nesta segunda-feira (8/2), milhares de usuários de mídia social relataram simultaneamente que o aplicativo foi desligado.

O aplicativo não se pronunciou oficialmente sobre o suposto bloqueio nem sobre seu potencial futuro na China.

"O Clubhouse deve ter criado uma dor de cabeça para os censores chineses, que não são especialmente ativos durante o período anual de férias do Festival da Primavera", explica Kerry Allen, analista de mídia na China.

"Aplicativos estrangeiros geralmente não estão disponíveis para visualização no momento em que começam a ganhar impulso na China, mas muitos usuários chineses conseguiram conversar com pessoas no exterior por dias, antes de ficarem offline repentinamente."

Allen explica que ainda não está claro se o Clubhouse foi bloqueado como medida de censura, mas mais de 100 mil usuários do Weibo, uma das redes sociais mais populares do país, viram na segunda-feira postagens contendo a hashtag #ClubhouseBlocked. Depois, subitamente a plataforma passou a mostrar "nenhum resultado" para buscas com essas palavras — uma clara evidência de censura.

Usuários de toda a China compartilharam fotos de suas contas no Clubhouse congeladas, antes que os censores do governo passassem a bloqueá-las.

O jornal governista Global Times contesta a sugestão de que o aplicativo tenha se tornado um "paraíso da liberdade de expressão" para os usuários baseados na China e, em vez disso, afirma que os usuários "expressaram preocupação com a plataforma sendo usada para propaganda anti-China".

No entanto, o jornal acrescenta que "a plataforma ainda se encontra nas fases iniciais de desenvolvimento", sugerindo que poderá regressar, desde que mantenha "um ambiente de comunidade amigável".