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O que se sabe do 'apagão do CNPq' que deixou cientistas sem acesso ao currículo Lattes

Sistemas essenciais para o andamento das pesquisas e das bolsas acadêmicas geraram estão fora do ar há quatro dias - CNPq
Sistemas essenciais para o andamento das pesquisas e das bolsas acadêmicas geraram estão fora do ar há quatro dias Imagem: CNPq

André Biernath - @andre_biernath - Da BBC News Brasil em São Paulo

Da BBC News Brasil em São Paulo

27/07/2021 16h17

Todos os serviços de órgão do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação apresentam sérios problemas nos últimos dias. Paralisação afeta diretamente a Ciência brasileira.

Desde 24 de junho, cientistas brasileiros relatam dificuldade para acessar o currículo Lattes e diversos sistemas de informática do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

O órgão, vinculado ao Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), está entre as principais agências de fomento à pesquisa no país e suas plataformas online são essenciais para a concessão de bolsas aos estudantes e para a coordenação de estudos entre diferentes grupos espalhados pelo Brasil e pelo mundo.

Nas redes sociais, os cientistas estão usando o termo "apagão do CNPq" para se manifestar sobre a situação e contar como o trabalho deles é prejudicado por essa indisponibilidade.

O neurocientista Stevens Rehen, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), por exemplo, disse no Twitter que a situação representa "uma metáfora cruel para o que vive toda a comunidade científica brasileira diante de um governo que não acredita em ciência".

Em nota enviada à BBC News Brasil na terça-feira (27/07), o CNPq já havia informado que tinha identificado a causa da pane e que está tomando as providências para resolvê-la.

Na manhã de quarta-feira (28/7), o ministro de Ciência, Tecnologia e Inovação, Marcos Pontes, esclareceu durante uma transmissão ao vivo pelas redes sociais que um componente dos computadores onde estão hospedados os sistemas pifou e precisará de reposição.

"Mas isso não ocasionou prejuízo nos dados que estavam armazenados. E o pagamento de todas as bolsas não será prejudicado", disse.

A promessa foi reiterada algumas horas depois pelo presidente do CNPq, Evaldo Ferreira Vilela, que fez um pronunciamento em vídeo.

Qual o tamanho do problema?

No vídeo postado nas redes sociais do conselho, ao lado do diretor de Gestão e Tecnologia da Informação do órgão, Thales Marçal, Vilela explicou que a peça que pifou chama-se controladora e que isso afeta a comunicação com a base de dados.

"Duas empresas fizeram o diagnóstico, e o componente com falhas será substituído", relatou Vilela.

Pontes, por sua vez, comparou o apagão dos sistemas com um carro que quebra de forma inesperada. "Essa é uma falha que não dá pra prever. É como um pneu que fura. Você precisa simplesmente trocá-lo, o que gera um certo atraso."

Já o presidente do CNPq reconheceu os transtornos que uma paralisação dessa magnitude provoca.

"Sabemos da pressão que essa indisponibilidade podia causar e o quão importante são as plataformas para a comunidade científica. Também temos ciência de como era urgente dar um posicionamento para tranquilizar a todos, mas não tínhamos ainda informações confiáveis para dar mais detalhes", justificou.

https://www.instagram.com/p/CR3t1-bpKmc/b

Segundo as informações divulgadas, a pane ocorreu num momento em que o CNPq estava fazendo a migração dos sistemas de informática, que costuma demorar alguns dias para ser concluída.

"Já estava em andamento a atualização de nossa estrutura e foi no meio desse processo que o equipamento antigo apresentou o problema", informou Marçal.

"Como é uma base de dados imensa, só na Plataforma Lattes temos 7 milhões de currículos cadastrados, é algo que demora, mas a migração já foi iniciada e levará cerca de 48 horas para finalizar", completou.

O sumiço dos currículos

Entre todos os sistemas afetados, aquele que vem gerando a maior comoção entre os especialistas é a indisponibilidade da Plataforma Lattes.

Descrita genericamente como um "Linkedin dos cientistas", trata-se de um site que reúne toda a trajetória acadêmica dos pesquisadores brasileiros (ou de estrangeiros que têm alguma relação com nosso país).

Professores e estudantes cadastram ali as informações sobre a produção acadêmica, as pesquisas em andamento ou finalizadas, os artigos publicados, as bolsas conquistadas, entre muitos outros detalhes.

Ter esse currículo atualizado costuma ser uma das primeiras exigências a todos que integram a área acadêmica, especialmente na hora de se candidatar a projetos e vagas de iniciação científica, mestrado e doutorado.

Vale lembrar que estamos no meio do ano, período em que muitas instituições abrem as seleções de novos estudantes de pós-graduação, em que geralmente são avaliados os currículos Lattes dos candidatos.

O nome da plataforma é uma homenagem ao cientista brasileiro César Lattes, que fez importantes descobertas no campo da Física Atômica e foi um dos criadores do CNPq na década de 1950.

Mas o currículo não é o único sistema a sair do ar. A Plataforma Carlos Chagas, que reúne informações de grupos de pesquisa e bolsistas do CNPq, também está indisponível.

O mesmo vale para o Diretório dos Grupos de Pesquisa no Brasil, outra base de dados importante para conhecer quais especialistas estão trabalhando em cada área.

Há outros sistemas internos do CNPq que parecem ter sido atingidos, mas ainda não há confirmação oficial desse fato.

Será que tinha backup?

Outro ponto que tem afligido os cientistas brasileiros é o risco de perder todas as informações armazenadas nas plataformas durante as últimas décadas ? boatos compartilhados em redes sociais e grupos de WhatsApp diziam que não havia backup, ou uma cópia segura, dos arquivos.

A BBC News Brasil questionou o CNPq sobre a extensão do problema e se há previsão de retorno à normalidade.

Em nota, o CNPq informou que já diagnosticou o problema que causou a pane nos sistemas e "os procedimentos para reparação foram iniciados".

Isso envolve a troca da peça que pifou e que, de acordo com Vilela, já foi comprada uma nova, que será instalada.

Ele ainda reforçou que existem, sim, backups de todas as informações e que não aconteceram perdas.

Não se sabe, porém, quando toda a situação será 100% regularizada e voltará ao normal.

"É só uma questão de tempo. Daqui a alguns dias, estará sanado", afirmou Pontes, que também prometeu que vai melhorar os sistemas usados pela comunidade científica brasileira.

Os dois também fizeram questão de afirmar que a pane não tem nada a ver com a falta de orçamento do CNPq, que vem sofrendo sucessivos cortes e diminuído a oferta de bolsas de pesquisa nos últimos anos.


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