Por que estudo do sexo no espaço é fundamental para futuro da humanidade
Grupo de especialistas canadenses argumenta que missões espaciais devem passar a discutir sexo no espaço para sobrevivência e bem-estar humanos.
O amor e o sexo precisam acontecer no espaço se esperamos viajar longas distâncias e nos tornar uma espécie interplanetária. Mas as organizações espaciais não estão pensando nisso.
As agências espaciais nacionais, como a Nasa (agência espacial dos EUA), e as empresas privadas que atuam no setor, caso da SpaceX, por exemplo, têm como objetivo colonizar Marte e enviar humanos ao espaço para missões de longo prazo.
Mas, para viabilizá-las, será preciso lidar com as necessidades íntimas e sexuais dos astronautas ou futuros habitantes fora da Terra.
Em outras palavras: se esperamos estabelecer novos mundos e continuar nossa expansão no cosmos, teremos que aprender a nos reproduzir com segurança e a construir vidas íntimas agradáveis no espaço.
No entanto, isso requer que essas organizações adotem uma nova perspectiva sobre a exploração espacial: uma que veja os humanos como seres com necessidades e desejos.
Como pesquisadores que exploram a psicologia da sexualidade humana e estudam os aspectos psicossociais dos fatores humanos no espaço, acreditamos que é hora dos programas espaciais abraçarem uma nova disciplina: a sexologia espacial, o estudo científico abrangente da intimidade e da sexualidade extraterrestre.
A fronteira final e íntima
Amor e sexo são fundamentais para a vida humana.
Apesar disso, organizações espaciais nacionais e privadas estão avançando com missões de longo prazo para a Estação Espacial Internacional (ISS), à Lua e a Marte, sem qualquer pesquisa concreta e planos para abordar o erotismo humano no espaço.
Uma coisa é aterrissar sondas espaciais em outro planeta ou lançar bilionários em órbita; outra é enviar humanos para viver no espaço por longos períodos.
Na prática, a ciência espacial pode nos levar ao espaço sideral, mas serão as relações humanas que determinarão se sobreviveremos e prosperaremos como uma civilização espacial.
Nesse sentido, acreditamos que limitar a privacidade no espaço pode colocar em risco a saúde mental e sexual dos astronautas, juntamente com o desempenho da tripulação e o sucesso da missão.
Por outro lado, permitir o erotismo espacial pode ajudar os humanos a se adaptarem à vida no espaço e melhorar o bem-estar de seus futuros habitantes.
Afinal, o espaço ainda é um ambiente hostil, e a vida a bordo de espaçonaves, estações ou assentamentos apresenta desafios significativos para a intimidade humana.
Isso inclui exposição à radiação, mudanças gravitacionais, isolamento social e o estresse de viver em habitats remotos e confinados.
Em um futuro próximo, a vida no espaço também pode limitar o acesso a parceiros íntimos, restringir a privacidade e aumentar as tensões entre os membros da tripulação em condições perigosas nas quais a cooperação é essencial.
Por outro lado, até hoje os programas espaciais omitiram quase completamente o assunto "sexo no espaço".
Os poucos estudos relacionados a esse tema enfocam principalmente os impactos da radiação e da microgravidade ou hipergravidade na reprodução animal (roedores, anfíbios e insetos).
Prazer e tabu
Mas a sexualidade humana vai além da reprodução. Inclui dinâmicas psicológicas, emocionais e relacionais complexas.
Amor e sexo também são procurados para diversão e prazer. Como tal, a exploração espacial requer coragem para atender às necessidades íntimas dos humanos de forma honesta e holística.
A abstinência não é uma opção viável. Por outro lado, facilitar a masturbação ou o sexo com o parceiro pode ajudar os astronautas a relaxar, dormir e aliviar a dor.
Também pode ajudá-los a construir e manter relacionamentos românticos ou sexuais e a se ajustar à vida espacial.
É importante ressaltar que abordar as questões sexológicas da vida humana no espaço também pode ajudar a combater o machismo, a discriminação e a violência ou assédio sexual, que infelizmente continuam presentes nas esferas científica e militar, dois pilares dos programas espaciais.
Devido a tabus e visões sexuais conservadoras, algumas organizações podem escolher ignorar as realidades da intimidade espacial e da sexualidade.
Elas também podem pensar que isso não é um problema ou que há questões mais urgentes a serem atendidas.
Mas essa atitude carece de visão de longo prazo, pois produzir ciência de qualidade exige tempo e recursos, e a saúde sexual, incluindo o prazer, é cada vez mais reconhecida como um direito humano.
Isso significa que agências espaciais e empresas privadas podem ser responsabilizadas pelo bem-estar sexual e reprodutivo daqueles que voam para o espaço.
Assim, as organizações espaciais que se dobram ao conservadorismo de seus financiadores provavelmente pagarão o preço por sua inação de uma forma muito pública e alimentada pela imprensa quando ocorrer um desastre.
O fardo pode recair particularmente sobre as organizações que nem mesmo tentaram abordar o erotismo humano no espaço, ou quando o mundo descobrir que elas falharam conscientemente em conduzir a pesquisa adequada ou tomar as precauções necessárias que os cientistas vêm pedindo por mais de 30 anos.
Intimidade além da terra
Para avançar, as organizações espaciais devem parar de evitar temas sexuais e reconhecer plenamente a importância do amor, sexo e relacionamentos íntimos na vida humana.
Consequentemente, nós as encorajamos a desenvolver a sexologia espacial como um campo científico e programa de pesquisa ? um que visa não apenas estudar sexo no espaço, mas também projetar sistemas, habitats e programas de treinamento que permitem que a intimidade tenha lugar além de nosso planeta natal, a Terra.
Além disso, acreditamos que, devido à sua experiência e ao clima sócio-político do Canadá, a Agência Espacial Canadense está idealmente posicionada para se tornar um líder mundial em sexologia espacial.
Temos o que é preciso para pavimentar o caminho para uma jornada espacial ética e agradável, à medida que continuamos a audaciosamente ir onde nenhuma pessoa jamais esteve.
*Artigo assinado por Simon Dubé, candidato a doutorado, Psicologia da Sexualidade Humana, Erobótica e Sexologia Espacial, Universidade Concordia; Dave Anctil, pesquisador afiliado ao Observatório Internacional dos Impactos Sociais da Inteligência Artificial e Digital (OBVIA), Université Laval; Judith Lapierre, Professora, Faculdade de Ciências de Enfermagem, Université Laval; Lisa Giaccari, assistente de pesquisa, Concordia Vision Laboratory, Universidade Concordia; Maria Santaguida, candidata ao Doutorado em Psicologia pela Universidade Concordia.
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