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Brasileiro adora falar de eleição nas redes, mas não diferencia fake news

Getty Images/iStockphoto
Imagem: Getty Images/iStockphoto

Patricia Lara e Felipe Saturnino

12/04/2018 12h37

As redes sociais terão papel relevante no sentido de direcionar os temas em debate nas eleições, mas ainda é incerto se as plataformas digitais terão impacto a ponto de mudar o jogo eleitoral no Brasil. O risco de manipulação com notícias não-factuais é um ponto importante, ainda mais em um país tão plugado em plataformas digitais, disseram Mirella Sampaio e Felipe Tâmega, economistas da Itaú Asset Management, em entrevista no escritório da Bloomberg na última quinta-feira.

Estudo elaborado pela equipe de Tâmega e Mirella mostrou que 57% do eleitorado brasileiro tem acesso à Internet e não são apenas os jovens. Com isso, o desafio das fake news é muito grande, tanto para os candidatos quanto para o próprio Tribunal Superior Eleitoral. "E os eleitores não sabem onde buscar para saber se notícias são verdadeiras ou falsas", segundo Mirella.

"Brasileiro gosta de notícias, interage mais, compartilha com amigos. A impressão que nos dá, principalmente colocando WhatsApp na análise, é que o potencial para notícias falsas ou verdadeiras ecoarem mais fora das câmaras de ressonância parece maior no caso do Brasil", disse Tâmega. O brasileiro está exposto a mais notícias e mais interações, mas, normalmente, com pessoas que pensam iguais a eles, as chamadas câmaras de ressonância, disse Mirella.

Para as eleições de outubro, será importante monitorar o quanto das informações vão vazar das chamadas câmaras de ressonância, onde estão determinados grupos polarizados, para influenciar o chamado eleitor do meio, o que está no centro do espectro político e segue muito indeciso em meio a um quadro fragmentado de candidatos.

Economistas constataram ainda que pessoas extremistas têm mais interesse em política, considerando vários estudos analisados. Um dos estudos observados pelos economistas foi feito pela FGV, que mostrou que contas automatizadas motivam até 20% de debates em apoio a político no Twitter.

A partir dessa eleição, o TSE autorizou que partidos e candidatos possam contratar o impulsionamento de conteúdos, como é chamado o uso de ferramentas para ter maior alcance nas redes sociais. Enquanto as redes sociais estão fazendo mídias clássicas perderem espaço, relativamente, a aparição na tela de TV ainda é bastante relevante para influenciar a eleição neste ano, disse Tâmega. Principalmente, as rápidas inserções de propaganda política ao longo da programação. "Inserções podem ser mais efetivas, pois ninguém desliga a TV quando aparecem", disse Tâmega, referindo-se ao hábito de alguns brasileiros de desligarem a tela quando começa o horário eleitoral obrigatório.

Quanto às pesquisas online, Mirella citou que ainda falta prova social e há desconfiança quanto às metodologias usadas. Por isso, os economistas dão mais relevância às pesquisas clássicas.

A próxima pesquisa será a que o Datafolha divulgará em 15/abril. A lista de candidatos avaliados em diversos cenários inclui Henrique Meirelles, Michel Temer, os petistas Fernando Haddad e Jaques Wagner, o ex-ministro do STF Joaquim Barbosa e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que iniciou em 7/abril o cumprimento de pena em prisão após condenação em segunda instância.