Topo

Como a luta de uma policial contra boatos de WhatsApp salva vidas na Índia

Superintendente da polícia Rema Rajeshwari treina colegas para atuar em povoados - Reprodução/Facebook
Superintendente da polícia Rema Rajeshwari treina colegas para atuar em povoados Imagem: Reprodução/Facebook

Iain Marlow

03/07/2018 04h00

Músicos locais já estavam cantando sobre os malefícios das notícias falsas quando o comboio da superintendente da polícia Rema Rajeshwari chegou à empoeirada praça de um dos povoados mais pobres da Índia. "Não acreditem nessas coisas", gritou um artista para a multidão.

De gorro azul escuro e uniforme cáqui engomado, Rajeshwari, 39, subiu em um palco improvisado diante de centenas de pessoas. Ela estava lá para tentar impedir a disseminação de mensagens falsas enviadas por WhatsApp alertando para sequestradores de crianças e assassinos errantes em seu distrito.

Em toda a Índia, boatos nas redes sociais fizeram com que moradores de pequenos povoados rurais formassem grupos de patrulha à procura de estranhos. Essas multidões mataram muita gente.

Em toda a Índia, boatos fizeram moradores de povoados rurais matar pessoas - Reprodução/Facebook - Reprodução/Facebook
Em toda a Índia, boatos fizeram moradores de povoados rurais matar pessoas
Imagem: Reprodução/Facebook

Só em maio e junho, pelo menos seis pessoas morreram por ataques de multidões relacionados a notícias pelo WhatsApp em Assam, no leste do país, em Maharashtra, no oeste, e em Tamil Nadu, no sul. Há também tensões latentes relacionadas a grupos de vigilantes hindus que têm atacado e matado muçulmanos.

"Você vê mensagens, fotos e vídeos, mas não verifica se são reais ou falsos, simplesmente repassa", diz Rajeshwari:

Não divulgue essas mensagens. E quando aparecerem estranhos em sua cidade, não faça justiça com as próprias mãos. Não matem eles

Com uma eleição marcada para 2019, existe o temor de que uma onda de mensagens falsas com teor político possa gerar mais violência, estimulando tensões maiores entre hindus e muçulmanos e desencadeando distúrbios religiosos. Há muito em jogo -- o partido nacionalista hindu do primeiro-ministro Narendra Modi está perdendo apoio e os partidos da oposição planejam unir forças para enfrentá-lo.

Ele previu o infocalipse, agora teme pela democracia

Leia a entrevista

Rajeshwari afirma ter visto um aumento de mensagens perto das eleições estaduais recentes no estado vizinho de Karnataka e teme que surjam mais mensagens desse tipo quando estiverem perto das eleições nacionais.

Mas está acontecendo algo surpreendente ali. A campanha educativa de Rajeshwari parece estar funcionando.

Não houve mortes relacionadas a notícias falsas em mais de 400 cidades sob o controle dela no estado de Telangana, no sul do país. Em um momento em que governos de todo o mundo lidam com notícias falsas, os esforços de Rajeshwari oferecem um antídoto local para um fenômeno global.

No distrito de Rajeshwari, fotos e vídeos macabros espalhados por meio de smartphones baratos criaram uma histeria em massa, levando os moradores a formarem patrulhas com bastões para acossar estranhos.

Frente a isso, Rajeshwari ordenou sessões de treinamento para mais de 500 policiais. "Tivemos que educar os nossos oficiais antes de enviá-los às cidades para educar as pessoas."

Além disso, ela conversou com centenas de líderes de pequenos povoados. Eles enviaram músicos para cantar sobre notícias falsas antes de a equipe dela iniciar o trabalho.

Dissemos aos moradores — vejam, olhem para as pessoas que estão nesses vídeos, elas nem parecem indianas. Alguns dos vídeos são da América do Sul, do Sri Lanka, de Bangladesh e de Mianmar

Os esforços de Rajeshwari geraram pedidos de policiais de outros estados, como Punjab, Maharashtra e Tamil Nadu, que esperam replicar essa campanha.

Apesar do esforço, é difícil ignorar completamente as mensagens assustadoras.

"Depois que a polícia disse que os vídeos não eram reais, percebi que eram falsos", disse Mohammed Mahaboob, um vendedor de sapatos de 24 anos. "Mas mesmo assim, há medo no meu coração."

WhatsApp: como aproveitar bem seu mensageiro preferido

Clique aqui