Após polêmica envolvendo a Amazon, Europa fecha cerco às assistentes de voz
As autoridades responsáveis por privacidade na União Europeia estão se preparando para policiar assistentes digitais após revelações de que funcionários da Amazon espionaram conversas das pessoas com seus aparelhos equipados com a Alexa.
A Bloomberg noticiou pela primeira vez em abril que a Amazon tinha uma equipe de milhares de empregados em todo o mundo ouvindo pedidos feitos a dispositivos Alexa, com o objetivo de melhorar o software.
Questões semelhantes foram levantadas a respeito dos assistentes digitais do Google e da Apple, alimentando preocupações relativas a privacidade em todo o mundo, já que conversas íntimas nas residências de alguns usuários foram reveladas aos técnicos que calibravam a tecnologia.
Os reguladores da UE estão agora trabalhando em uma abordagem compartilhada para policiar a tecnologia, disse Tine Larsen, comandante da autoridade de proteção de dados em Luxemburgo, onde fica a sede europeia da gigante americana do varejo, com mais de 2 mil empregados.
"Por se tratar de uma questão de princípio, os membros do EDPB (Comitê Europeu de Proteção de Dados, da sigla em inglês) devem chegar a uma posição comum em consonância com o mecanismo de consistência para aplicar regras de proteção de dados de forma harmonizada para esse tipo de tratamento", afirmou ela, se referindo à sigla para o comitê regulatório do bloco de 28 países.
As revelações sobre espionagem nas casas das pessoas vieram à tona depois que autoridades reguladoras da Europa receberam mais poderes a partir do GDPR (Regulamento Geral de Proteção de Dados, da sigla em inglês), em maio de 2018, incluindo o direito de cobrar multas de até 4% do faturamento anual global de uma empresa para as violações mais graves. Contudo, a iniciativa para elaboração de diretrizes comuns para assistentes digitais significa que as empresas devem evitar multas — por enquanto.
Os comentários de Larsen são semelhantes aos de Helen Dixon, chefe do órgão irlandês responsável por supervisionar companhias como Apple e Google.
Ela disse à Bloomberg em novembro que o órgão regulador primeiramente precisa "descobrir se é verdade" o argumento das empresas de que precisam fazer transcrições das interações das pessoas com os assistentes digitais. É por isso que o foco inicial estará nas diretrizes e não em investigações ou inquéritos, segundo ela.
O Reino Unido, que sairá da UE no final do mês, publicará em breve os resultados de uma consulta sobre os recursos de segurança de alto-falantes inteligentes e outros dispositivos, com propostas de exigências para o setor que podem levar à elaboração de novos regulamentos, informou o secretário digital britânico, Nicky Morgan, à Bloomberg quarta-feira.
A Amazon preferiu não comentar apurações em torno dos assistentes digitais.
Alterações na Siri
A Apple, que embute a assistente virtual Siri nos sistemas operacionais de seus smartphones e microcomputadores, se referiu a uma postagem em um blog sobre o assunto em agosto.
"Sabemos que os clientes ficaram preocupados com relatos recentes sobre pessoas ouvindo gravações em áudio da Siri como parte do nosso processo de avaliação da qualidade da Siri que chamamos de classificação", afirmou o texto. "Escutamos suas preocupações, suspendemos imediatamente a classificação humana das solicitações à Siri e iniciamos uma revisão completa de nossas práticas e políticas. Decidimos fazer algumas alterações na Siri como resultado disso."
O Google, que oferece tecnologia semelhante, não retornou imediatamente os pedidos de comentário da reportagem.
A Amazon escapou de penalidades envolvendo o sistema Alexa, mas Luxemburgo investiga possíveis violações de privacidade pela companhia na Europa. A empresa informa que está "cooperando" com as autoridades.
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