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Consciente, hiperconectado e solitário: quem é o jovem da geração Z

Getty Images
Imagem: Getty Images

05/09/2021 04h00

Eles se consideram cidadãos do mundo, acreditam que seus feitos repercutem em instituições e empresas, são conscientes dos problemas da sociedade e que cada um deve ajudar a resolvê-los e são hiperconectados, mas se sentem solitários. Assim é resumido o perfil dos integrantes da chamada geração Z.

A rede global de agências de publicidade McCann entrevistou 32 mil jovens nascidos depois da mudança do milênio em 26 países dos cinco continentes e divulgou os resultados em "A verdade sobre a geração Z".

Trata-se de um estudo realizado durante a pandemia de covid-19, que deixou ainda mais evidente que os humanos podem ser afetados pelo que acontece em qualquer lugar do mundo, assim como pensam os "Z", disse à Agência Efe o diretor regional de estratégia do McCann Worldgroup para a América Latina e o Caribe, Josafat Solís. Os resultados indicam que não há grandes diferenças por regiões.

"Há muita consistência na geração Z", ressaltou Solís em entrevista em Miami ao apresentar o relatório feito para ajudar as marcas a alcançarem esses jovens.

Dívida das marcas

Solís mencionou que, para os "Z", tão importante como o produto ou serviço é o que as empresas que os fabricam ou fornecem fazem ou não pelo que lhes interessa, seja o ambiente, a diversidade ou a sustentabilidade.

"A dívida das marcas para com eles é cada vez maior", disse Solís, que alertou para o risco de as marcas ficarem "fora do jogo" se não se juntarem aos "Z" nos esforços para tornar o mundo um lugar melhor.

Entre as principais características desta geração está o fato de não ter um forte sentido de pertencimento ao lugar e ao país onde nasceu, ao mesmo tempo que tem uma "consciência global".

Cerca de 48% de todos os entrevistados disseram que sentiam que não pertenciam a um país ou a uma cultura em particular. Índia (56% sem sentimento de pertencimento) e México e Filipinas (31% cada) são os dois extremos neste aspecto. Nos Estados Unidos, este índice também é de 48%.

Solís destacou que os jovens latino-americanos demonstram mais apego ou orgulho à própria cultura: "Há uma consciência de ser colombiano ou argentino, mas isso não está acima de se sentir como cidadão do planeta", analisou.

Conscientes e preocupados

O "grande foco" de preocupação da geração Z é o sentimento de que a sociedade de hoje está em um ponto crítico e que o futuro é incerto, mas, mesmo assim, o receio de que as coisas se mantenham como estão é maior do que o de uma mudança drástica.

Em nível mundial, 50% dessas pessoas temem a possibilidade de não haver mudanças, mas nos EUA a porcentagem sobe para 66%. No Brasil e na Alemanha, essa preocupação foi compartilhada por 60% dos entrevistados.

De acordo com Solís, em vez de pessimistas, estes jovens são conscientes das falhas da nossa sociedade, e a maioria (64%) acredita que a melhor forma de resolver um problema é juntar pessoas que parecem diferentes e pensam de forma diferente.

Esta é a opinião de 81% dos "Z" colombianos, 75% dos mexicanos, 70% dos porto-riquenhos e americanos, 69% dos argentinos, 68% dos peruanos, 66% dos chilenos, 65% dos brasileiros e 64% dos espanhóis.

"É uma geração disposta a fazer a sua parte para que as coisas mudem, não estão à espera que outra pessoa o faça por eles", comentou.

Além disso, estão conectados mais do que qualquer outra geração e recebem muita informação em tempo real, incluindo, obviamente, notícias falsas.

A solidão dos hiperconectados

Para a maioria da Geração Z, o principal benefício de estar nas redes sociais é o acesso a novas ideias, de acordo com 50% dos entrevistados.

Paradoxalmente - o que "impressionou realmente" os pesquisadores, segundo Solis -, 66% se sentem frequentemente sozinhos, apesar de estarem rodeados de família e amigos. No Brasil e em Porto Rico, 75% desses jovens sentem a solidão dos hiperconectados.

Além disso, 76% concordam que "as ligações emocionais são mais fracas hoje do que no passado". No Peru, por exemplo, nove a cada dez pessoas se sentem assim.

Quando questionados sobre o que pensam poder fazer para melhorar o próprio bem-estar, 36% disseram que preferem se afastar dos outros para se concentrarem em si mesmos.

O chefe de estratégia recomenda que as marcas tenham o cuidado de compreender como se comportam, o que sentem e o que exigem esses jovens que se movem de "forma compacta" e que levam em consideração as opiniões dos "influenciadores" e as críticas online ao escolherem um produto ou serviço.

Eles exigem qualidade e outros atributos de produto de uma marca, como qualquer outro consumidor. Mas os jovens da Geração Z dão tanta ou mais importância ao compromisso das marcas com a sociedade e ao que fazem em prol do avanço, explicou Solís.