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Serviço Spotify oferece acesso gratuito e irrestrito à música na web

Popular na Europa, serviço de música Spotifya estreou nos Estados Unidos no dia 14 de julho - Jeff Chiu/AP
Popular na Europa, serviço de música Spotifya estreou nos Estados Unidos no dia 14 de julho Imagem: Jeff Chiu/AP

David Pogue

Do The New York Times

29/07/2011 17h26

Todo mundo parece achar que os executivos das companhias gravadoras não passam de grandes e gananciosos idiotas. “Como é que eles ousam cobrar pela música”, dizem os universitários. “A música quer ser gratuita!”.

Bem, os executivos das gravadoras podem ser de fato grandes e gananciosos idiotas. Mas, no decorrer dos anos, pouco a pouco, eles têm procurado fazer com que as vendas de música online sejam mais justas e convenientes.

Atualmente, os serviços de música na Web podem ser encontrados em todos os níveis de uma escala de combinações de preço, conveniência e permanência. Alguns oferecem música gratuita e legal, mas não é possível escolher exatamente a música que se quer (Pandora.com). Outros deixam que o consumidor baixe arquivos musicais e que tenha posse permanente deles por um preço que varia de 79 centavos de dólar a US$ 1,30 por música (iTunes e Amazon.com). Há ainda aqueles que alugam músicas para o consumidor – ou seja, o consumidor ouve tudo o que desejar por uma mensalidade fixa, mas ao deixar de pagar ele perde todas as músicas (rdio.com, Napster.com, Rhapsody.com).

E alguns serviços são simplesmente ilegais.

Neste mês, porém, o mundo deu um grande passo à frente rumo ao Santo Graal: música gratuita, legal, específica e conveniente. Após passar anos arrancando os seus cabelos corporativos enquanto negociava com as companhias de música, o Spotify finalmente trouxe o seu serviço para os Estados Unidos.

Quem não entendeu o significado disso está nitidamente desconectado da realidade europeia. Há três anos os europeus andam eufóricos com o Spotify, que consiste de um programa semelhante ao iTunes, bonito e bem acabado, que proporciona acesso integral a 15 milhões de músicas – um catálogo maior do que os da Napster, do Rhapsody, do Mog ou do Rdio. Todas as grandes companhias gravadoras assinaram contrato com essa experiência maluca: a Sony, a Warner, a Universal e a EMI (as bandas vinculadas ao usual “temos medo da Internet”, como Beatles, Metallica e Led Zeppelin, não estão incluídas).

A qualidade sonora é excelente (o formato é Ogg Vorbis de 160 kbps, caso isto signifique alguma coisa para você). A música começa a ser tocada quase que instantaneamente. Com um clique, o ouvinte pode compartilhar as suas listas de músicas com amigos no Twitter ou Facebook, ou verificar o que eles mais ouvem. De repente surgiu todo um ecossistema de websites, no qual as pessoas são capazes de compartilhar, avaliar e recomendar músicas e listas de músicas.

E há uma grande atração a mais. Vejamos... o que é? Ah, sim – é tudo gratuito.

  • Jeff Chiu/AP

    Usuário acessa o Spotify pelo smartphone no dia da estreia do serviço para usuários dos EUA

É verdade. Pela primeira vez na história da Internet, o indivíduo poderá ouvir qualquer faixa, qualquer álbum, neste exato momento, legalmente, sem pagar nada. Não é de se admirar que tenha demorado um pouco para que as companhias de gravação se deixassem convencer.

Grátis só para quem é convidado

No entanto, existem algumas restrições. A maior diz respeito às propagandas: a aproximadamente cada 15 minutos, ouve-se uma propaganda inserida entre as músicas (geralmente de planos especiais do Spotify, que serão descritos daqui a pouco). E há também uma coluna com propagandas no software do Spotify. Quem assinar agora, poderá escutar todas as músicas que quiser desta forma durante os próximos seis meses – mas, após esse período, o internauta ficará limitado a dez horas de música gratuita por mês.

A condição final para essa fantasia de música gratuita é a seguinte: é necessário um convite para participar. Isso, obviamente, é um “quebra-molas” para impedir que os computadores do Spotify explodam quando 300 milhões de norte-americanos enlouquecidos chegarem simultaneamente ao site.

É possível obter um convite no site Spotify.com, ou ainda de alguém que possua um dos planos pagos da empresa. Vários patrocinadores corporativos também distribuirão convites para o serviço gratuito (Coca-Cola, Motorola e Reebok, por exemplo).

Mesmo assim, para milhões de pessoas, esse ainda será um negócio melhor do que qualquer outro que já lhes foi oferecido. Você gostou de uma nova música que ouviu no rádio? Vá para casa e escute o álbum inteiro, ou o catálogo completo da banda. Está cansado de ouvir o seu amigo bem informado do Facebook falar sobre a última banda da moda, sem que você tenha a menor ideia do que ele está falando? Use o Spotify para ouvir as listas de música dele. Está cogitando assistir a um musical? Ouça primeiro o álbum.

Para quem gosta de economizar, esta forma fácil e gratuita de obter qualquer música, instantaneamente, se constitui em uma opção de entretenimento muito boa.

E, melhor ainda, o software Spotify instalado no seu Mac ou PC reconhece e mostra automaticamente a sua atual coleção de músicas armazenadas no iTunes ou Windows Media Player – e até mesmo a sua lista pessoal de músicas. Você pode administrar as suas próprias músicas, e incorporá-las às listas pessoais, juntamente com as 15 milhões músicas oferecidas pelo Spotify. Ele não traz tantos recursos (e também não é tão complicado) quanto o iTunes, mas conta com todos os detalhes essenciais: é possível procurar, classificar, organizar e obter recomendações de músicas.

Na Europa, 84% dos dez milhões de usuários do Spotify acessam as músicas gratuitamente, tolerando as propagandas ocasionais. Mas é fácil imaginar que algumas pessoas dirão: “Eu prefiro pagar US$ 5 por mês para me livrar das propagandas, do limite de dez horas e da fila de espera para receber um convite!”.

Planos de assinatura do Spotify

É por isso que o Spotify oferece um plano de US$ 5 por mês, sem propagandas, sem limites e sem convite (o plano chama-se Unlimited).

E certamente existe um outro grupo de amantes da música que dirá: “Isso é ótimo, mas eu pagaria ainda mais se pudesse ouvir as músicas no meu telefone. De preferência quando estivesse offline, como por exemplo em um avião ou no metrô”.

É por isso que o Spotify oferece o plano de US$ 10, sem propagandas, sem limites, sem convite, sincronizado com o telefone do usuário de forma a permitir que este baixe músicas pelo seu aparelho (plano Premium).

Com o plano Premium pode-se baixar músicas em até três computadores ou telefones, que poderão ser reproduzidas até mesmo quando o usuário não dispuser de uma conexão com a Internet – até 3.333 de cada vez (sim, 3.333. As companhias de música trabalham de uma forma estranha e misteriosa). Além disso, com o Premium, algumas das faixas estão disponíveis em um formato de qualidade ainda superior (320 Kbps).

O aplicativo de telefonia móvel (para iPhone, Android, Windows 7, Symbian ou Palm) pode reproduzir as 15 milhões de músicas, ou qualquer das listas pessoais de músicas do consumidor, por meio do telefone deste – no carro, no trabalho, durante a corrida, em qualquer situação. A música é captada por uma conexão celular 3G ou por uma conexão Wi-Fi (se tiver Wi-Fi, use-o; o Spotify esgotará rapidamente o tempo mensal de conexões disponível do seu celular).

A maior novidade disso tudo é o plano gratuito. E, mesmo assim, você dificilmente encontrará um outro serviço que se compare ao Spotify em termos de tamanho do catálogo, qualidade do som, elegância de design e integração à sua própria lista de músicas.

Música no celular? Só por listas

Se o Spotify tivesse uma caixa de sugestões para aprimoramento, ela não ficaria inteiramente vazia. De fato, não é possível modificar a ordem das listas. O fato de os membros do plano Premium poderem enviar música para o telefone para escutar as músicas quando não estiverem conectados é ótimo, mas só é possível fazer isso por listas de músicas, e não por músicas individuais ou por álbuns. Existe uma boa seleção de músicas clássicas, mas, como geralmente ocorre com os serviços de música online, nem sempre é fácil procurá-las, e não existe uma opção para “reprodução sem lacunas” entre os movimentos.

Mas todos os serviços de assinatura paga têm certas vantagens. Você não terá que ser submetido a apresentações prévias de 30 segundos de músicas, nem pagar uma taxa extra pelas músicas mais populares, nem esgotar a memória do seu telefone com arquivos enormes. E, como não há preço por música, desfruta-se de uma liberdade para explorar e descobrir novas músicas que é muito mais difícil de obter quando se compra uma música de cada vez.

Porém, o problema tradicional dos serviços de assinatura é o fato de se estar apenas alugando as músicas. Quando deixarmos de pagar a taxa mensal, ficamos sem música alguma.

A grande novidade do Spotify, portanto, é o fato de ele acabar com essa decepção. Você conta com todas as vantagens de um serviço por assinatura, mas não se sente como um idiota após desligar-se do serviço (ou quando as condições mudam, conforme já aconteceu antes). Afinal, o usuário não pagou um só centavo por todos os meses de prazer musical.

Quase todo mundo espera que o Spotify tenha sucesso. Se o Spotify, as companhias gravadoras e os músicos conseguirem ganhar dinheiro com essa estrutura do Spotify, tudo bem. Quem sabe? Pode ser que no fim das contas as gravadoras não sejam apenas grandes e gananciosos idiotas.