Site de ''financiamento em massa'' reúne ajuda de anônimos a projetos inovadores
Eu vou admitir: às vezes eu fico surpreso com a reação das gerações mais antigas às novidades da Web. “Facebook? Por que eu desejaria que outras pessoas ficassem a par da minha vida privada?”. “Twitter? Quem tem tempo para essa besteira?”.
Por favor, pessoal. Vamos abrir a mente. Você não tem que participar, mas pelo menos deixe que os jovens se divirtam.
E quando comecei a ouvir pessoas falando entusiasmadamente sobre o kickstarter.com, eu fiquei deslumbrado pelo sucesso do site – e alarmado por não entendê-lo. Estaria eu sofrendo de um episódio precoce de caretice?
O Kickstarter é um site de “financiamento de massas”. Ele é o local para pessoas criativas obterem financiamento inicial suficiente para dar início aos seus projetos. Entre as categorias de projetos incluídos estão música, filme, arte, design, alimentos, publicações e tecnologia. Os projetos em busca de apoio podem se constituir na gravação de um CD, na apresentação de uma peça teatral, na produção de um curta metragem ou no desenvolvimento de um novo e interessante produto tecnológico.
Suponha que um indivíduo precise de financiamento. Ele descreverá o seu projeto com um vídeo, um texto e uma meta de orçamento em dólares. Descrever o projeto não custa nada.
Se os cidadãos da Web se comprometerem a fornecer financiamento suficiente para cobrir o orçamento no prazo estabelecido, o indivíduo receberá o dinheiro e dará início ao projeto. O Kickstarter cobra 5% de juros, e o indivíduo que recebeu o dinheiro paga juros de 3% a 5% pelo serviço de cartão de crédito da Amazon.com.
Se o candidato a empresário não obtiver o dinheiro até o prazo estabelecido, o negócio é desfeito. Os investidores ficam com o dinheiro deles, e o Kickstarter não leva nada.
Mas eis aqui a parte que eu tive dificuldade para entender: não estamos falando de investimentos. Quem se comprometer a pagar jamais voltará a ver o dinheiro investido, mesmo se a peça, o filme ou o novo aparelho desenvolvido tornar-se um grande sucesso. Ele receberá algum souvenir relacionado ao seu envolvimento financeiro – por exemplo, uma camiseta, um CD ou uma oportunidade de encomendar antecipadamente o aparelho que estiver sendo desenvolvido –, mas nada de concreto. Nem mesmo uma dedução de impostos.
Além do mais, não há nenhuma garantia de que o projeto será concretizado. Todos os tipos de problemas ocorrem entre as fases de inspiração e produção. As pessoas perdem o interesse, casam-se, mudam-se, esbarram em dificuldades para montar uma fábrica. O projeto inteiro morre, e tudo foi em vão.
Dinheiro anônimo
Portanto, eu não posso deixar de me perguntar por que alguém participaria? Quem forneceria dinheiro para ter tão pouco retorno?
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Quem, como eu, é colunista de produtos tecnológicos, recebe e-mails todos os dias de profissionais de relações públicas que desejam a publicação de avaliações sobre produtos dos seus clientes. Mas, nos últimos meses, eu comecei a receber na minha caixa de e-mail algo de muito estranho: mensagens sobre produtos do Kickstarter. Produtos que não são sequer produtos, mas apenas conceitos. E o mais estranho é que essas mensagens não estão sendo enviadas pelos criadores desses produtos. Elas são mandadas por pessoas comuns.
Eu comecei a ler as mensagens sobre esses projetos. O que parece estar gerando mais interesse ultimamente é o chamado Elevation Dock. Ele consiste simplesmente de um carregador para iPhone. Mas, que carregador! Ele é elegantemente construído em alumínio sólido, no estilo dos produtos da Apple. Não é necessário retirar o iPhone (ou iPod Touch) da capa para encaixá-lo nesse carregador. E o artefato é tão sólido que é possível desencaixar o telefone celular com apenas uma mão. O carregador permanece firmemente plantado sobre a mesa.
O engenheiro responsável pelo projeto, Casey Hopkins, precisava obter US$ 75 mil para transformar a ideia em um produto real. Mas a sua propaganda mostrou-se tão popular que ele obteve o dinheiro em apenas oito horas. “Em 24 horas, eu tinha US$ 168 mil”, me disse Hopkins por e-mail. “Foi impressionante. Eu não consegui comer nem dormir durante três dias. A euforia durou cerca de uma semana. Depois disso, eu arregacei as mangas para começar a fabricar o produto e cuidar de mais um milhão de outros detalhes”.
Hoje, faltando 16 dias para a expiração do prazo, ele conseguiu US$ 700 mil. Tudo bem, essa é uma história de sucesso do Kickstarter.
Da mesma forma que a do TikTok Watchband, que transforma um iPod Nano em um computador/relógio de pulso. A meta era US$ 15 mil, mas o idealizador do projeto obteve US$ 942.578. Agora esse é um produto concreto que está à venda na Apple Store.
Os criadores da máquina de café expresso PID-Controlled Espresso Machine, um novo design que traz a consistência características das caras máquinas profissionais de café expresso para uma máquina barata, desejavam US$ 20 mil – e, ao final do prazo estabelecido, na semana passada, eles tinham obtido US$ 369.569. A caneta eletrônica grossa Cosmonaut para tablets atingiu a meta estabelecida em abril do ano passado. O vídeo sobre o produto diz que, para uma superfície de baixa resolução, na qual o usuário não pode apoiar a mão, uma caneta espessa faz mais sentido do que uma em formato de lápis.
Mesmo assim, esses são investimentos de risco. Muitos dos projetos são oferecidos por empresários que são marinheiros de primeira viagem, que não fazem ideia de como é complicado inserir um produto novo no mercado. Nesse período econômico difícil, por que pessoas comuns forneceriam dinheiro a tais empresários novatos, sabendo que tudo o que obterão será uma camiseta?
Yancey Strickler, cofundador do Kickstarter, me disse que tudo diz respeito à experiência. “Existe uma jornada entre o momento que você apoia um projeto e ele chega pronto à sua porta. Pode ser necessário algum tempo para que as ideias gerem frutos, e os apoiadores podem observar diretamente o processo. Às vezes esse processo é empolgante (momentos do tipo “eureca”, grandes realizações, etc...). Mas em outras ocasiões ele é desencorajante devido a obstáculos e outros imprevistos. Essa jornada faz parte da experiência Kickstarter.
Ele observa também que o fato de apoiar um projeto faz com que o indivíduo tenha o “direito de se gabar”. “A pessoa não está apenas comprando algo, ela está também criando, participando desde a etapa inicial. Ter uma visão ampla do que está sendo feito é empolgante”. Boa observação. Ele explica por que pessoas que não fazem parte de nenhum grupo específico e que não possuem nenhuma ideologia particular estão escrevendo para jornalistas de tecnologia a fim de promover projetos do Kickstarter.
Quem ajuda?
Para entender por que as pessoas financiam projetos do Kickstarter, eu escolhi aleatoriamente uma pessoa. Esse indivíduo, Michael Critz, é identificado no site como sendo o apoiador de cinco projetos, e eu lhe perguntei como foi que ele se envolveu com o Kickstarter.
“O Kickstarter está para a Amazon assim como o Craiglist está para a eBay”, me disse ele. “Eu geralmente acabo conhecendo um pouco as pessoas envolvidas na transação. A plateia participa com os provedores, não se trata apenas de pessoas tentando elevar as suas classificações de vendas”.
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Ele observou ainda que os projetos do Kickstarter são um ótimo assunto para iniciar conversas. “É divertido quando as pessoas me perguntam sobre o meu relógio iPod ou sobre a camiseta com um mapa de Boston e eu digo que consegui isso no Kickstarter. Eu vejo frequentemente um brilho nos olhos delas, que dizem: 'Então isso funciona! Existe um novo mercado para a minha ideia'”.
Mesmo se você não investir, é fascinante ler sobre os projetos das pessoas. Uma delas deseja US$ 20 mil para fazer uma fotografia de Machu Picchu de 30 mil megapixels. “Usando suportes robóticos para câmeras, lentes enormes, softwares avançados e câmeras digitais de alta resolução, nós pretendemos tirar milhares de fotos, e depois agregá-las em um a única imagem”, diz o site. “A imagem resultante será uma das maiores fotos panorâmicas do mundo, com 30 bilhões de pixels, o que é mais de 2.500 vezes a resolução de uma câmera digital comum”.
Dois programadores desejam criar o Mail Pilot, um novo e engenhoso serviço de e-mail. Ele se baseia nas contas de e-mail existentes, mas apresenta cada mensagem como um item “a fazer” que a pessoa pode descartar depois de lidar com ela.
Outros projetos que buscam o apoio dos internautas: o Jaja, uma caneta de desenho para tablets iPad e Android que é sensível a pressões (ela faz linhas mais grossas quando o usuário a pressiona com mais força); os LED Side Glow Hats (bonés de beisebol com abas iluminadas para que se possa trabalhar em locais escuros); o Eye3 (um aeromodelo barato para tirar fotografias aéreas), e assim por diante.
Nem todos os projetos atingirão as metas financeiras estabelecidas (apenas 44% as atingem). E uma percentagem ainda menor chega às prateleiras das lojas.
Mas, em um período econômico difícil como este, o Kickstarter proporciona uma espécie de “voyeurismo idealista”: nós podemos ler sobre os grandes sonhos das pessoas comuns. E é possível dar aos artistas de valor um pequeno voto financeiro de confiança – e desfrutar a jornada junto com eles.
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