Quando a troca de mensagem pelo celular entre jovens lembra o vício do jogo
Seu filho adolescente manda mensagens de texto em excesso?
Os adolescentes usam mensagens de texto mais do que qualquer outra forma de comunicação, então talvez seja difícil dizer quando é demais. Mas os jovens que checam o celular sem parar, perdem a calma quando são interrompidos ou ficam tão preocupados com as mensagens que chegam a perder o sono e a deixar de fazer a lição de casa podem ter se tornado usuários compulsivos, de acordo com um novo estudo. No caso das meninas, o envio compulsivo de mensagens representa mais do que uma distração -- é um hábito associado ao baixo desempenho acadêmico.
O estudo envolvendo mais de 400 alunos do oitavo ano do fundamental ao terceiro do ensino médio nos EUA revelou que muitos adolescentes têm características similares à de jogadores compulsivos, incluindo a perda do sono em decorrência das mensagens de texto, problemas para eliminar o hábito, além de contar mentiras para tentar esconder o tempo que passam trocando mensagens.
"A compulsão representa mais do que o número de textos enviados pelos adolescentes", afirmou Kelly M. Lister-Landman, principal autora do estudo e professora assistente no curso de Psicologia do Delaware County Community College, em Media, Pensilvânia, EUA. "Qual é o relacionamento deles com o telefone? Eles se sentem ansiosos quando estão longe do aparelho? Quando se sentam para jantar com a família, ficam conferindo o celular sem parar? Eles conferem o telefone a qualquer momento, ou só quando recebem uma nova mensagem?
No geral, as meninas enviam textos de forma compulsiva com muito mais frequência que os meninos. E ao contrário das meninas, os meninos que apresentavam comportamento compulsivo em relação às mensagens de texto não tinham o desempenho escolar prejudicado.
O estudo, publico no dia 5 de outubro na edição on-line da revista científica "Psychology of Popular Media Culture", não é o primeiro a encontrar uma relação entre o uso excessivo de mídias sociais e notas mais baixas na escola. Um estudo publicado em 2014 revelou que quanto mais tempo jovens negros e hispânicos passam no Facebook, mais baixas são suas notas em matemática. Outros estudos apontam que estudantes universitários que enviam mensagens enquanto fazem a lição de casa tiram notas mais baixas e que estudantes que enviam mensagens de texto durante a aula fazem anotações menos detalhadas e se lembram menos dos assuntos tratados em aula. Um experimento com universitários mostra que os alunos que não enviam mensagens de texto durante as aulas absorviam mais informações e obtinham notas mais altas nos testes.
O uso excessivo de internet também está ligado a problemas do sono, já que os estudantes se conectam tarde da noite e o hábito interfere com a lição de casa, obrigando-os a ficar acordados até mais tarde para terminar a tarefa. Os estudos também ligaram o envio excessivo de mensagens de texto com problemas do sono, provavelmente porque os adolescentes são acordados pelas notificações de mensagens.
O novo estudo destaca a correlação entre o envio compulsivo de mensagens de texto e problemas na escola, embora não explique se as mensagens são causas diretas do mau desempenho escolar, ou se outros problemas como depressão ou o uso de drogas lícitas ou ilícitas pode ser o causador desse tipo de comportamento.
"Eu não acredito que as mensagens de texto sejam a causa do mau desempenho escolar -- me parece que é um problema de atenção", afirmou Kimberly Young, psicóloga e fundadora do Centro de Tratamento do Vício na Internet, que fez pesquisas sobre o tema, mas não estava envolvida no estudo. "Se você não para de conferir o telefone, como vai fazer para estudar para a escola? Eu tenho filhos que não conseguem ficar em uma aula de uma hora sem olhar o celular nenhuma vez".
O envio de textos se tornou o modo dominante de comunicação entre os adolescentes, de acordo com dados publicados em 2012 pelo Pew Internet & American Life Project. O relatório destacou que 75 por cento dos adolescentes têm aparelhos celulares e 63 por cento afirmam que enviam mensagens de texto diariamente, um percentual muito superior ao dos que falam ao telefone, se encontram pessoalmente ou enviam e-mails diariamente. Os adolescentes enviam em média 60 mensagens de texto por dia, sendo que meninas mais velhas enviam cerca de 100 mensagens ao dia e meninos enviam uma média de 50 mensagens.
O novo estudo sobre as mensagens de texto observou inúmeros elementos sobre o desempenho escolar, incluindo notas, engajamento, "amizade" e a percepção dos alunos a respeito de suas próprias competências acadêmicas.
Os autores realizaram um questionário com 211 alunos do oitavo ano e 192 alunos do primeiro ano do ensino médio em uma cidade semirrural do Meio-Oeste americano para avaliar se eles enviavam textos de forma compulsiva. As 14 questões do questionário faziam parte de uma escala criada para avaliar jogadores compulsivos e adaptada para identificar o uso patológico da internet. Os autores do novo estudo modificaram as questões com o objetivo de identificar o envio excessivo de mensagens de texto.
Algumas das questões eram: "Você deixa de lado os afazeres domésticos para enviar mensagens de texto?"; "Você passa mais tempo do que gostaria enviando mensagens de texto?"; "Você estoura ou fica irritado quando alguém interfere enquanto você envia mensagens de texto?". Outras questões buscavam identificar se os adolescentes perdem o sono por causa do envio de mensagens de texto, ou se eles mentem para esconder quanto tempo passam se comunicando por meio de mensagens de texto.
Dos 403 estudantes que participaram do estudo, 47 afirmaram que não enviam mensagens todos os dias. Esses jovens foram eliminados da análise.
Entre os 356 estudantes restantes, as meninas apresentavam comportamentos compulsivos com maior frequência. Cerca de 12 por cento das meninas enviavam mensagens de texto de forma compulsiva, ao passo que apenas três por cento dos garotos tinham o mesmo problema. A maioria dos jovens compulsivos envia mais de 100 mensagens ao dia.
Muito embora as meninas avaliadas no estudo fossem mais engajadas com a vida escolar e tivessem médias mais altas, o envio compulsivo de mensagens estava ligado ao mau desempenho acadêmico das meninas, ao contrário dos meninos, de acordo com os pesquisadores. Quando os especialistas questionaram os jovens compulsivos e os de hábitos normais sobre suas notas, 14 por cento das meninas compulsivas obtinham nota 5, em média, comparadas com apenas 4 por cento das jovens que enviavam um volume médio de mensagens de texto diariamente. Os meninos com hábitos compulsivos apresentavam média 7 ou superior.
Kelly M. Lister-Landman levantou a hipótese de que as garotas se concentram mais em relacionamentos e em assuntos emocionais, o que causaria mais ansiedade. Estudos mostram que conversar no celular sobre problemas e sentimentos negativos é mais comum entre mulheres jovens do que entre homens jovens.
Todavia, os pesquisadores destacam que o desempenho acadêmico dos estudantes foi relatado por eles mesmos. Segundo os pesquisadores, as meninas que participaram da pesquisa tinham notas mais altas que os meninos em média, independentemente do envio de mensagens de texto.
Para reduzir o tempo dedicado ao envio de mensagens de texto, os pais podem insistir para que seus filhos desliguem o celular durante a hora da lição de casa, além de criar áreas onde os aparelhos eletrônicos são proibidos na casa, como a sala de jantar ou a cama.
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