'Quem perde é o usuário', diz diretor da Adobe sobre obstáculos da Apple ao Flash
A Apple divulgou nesta semana que mais de 25 milhões de iPads foram vendidos desde o lançamento do produto, há 14 meses. Somando todos os produtos que usam a plataforma iOS, para dispositivos portáteis (iPhone, iPad, iPod touch), o número chega a 200 milhões. Uma das principais críticas em relação a esses dispositivos é o fato de seu navegador nativo, o Safari, não rodar aplicações em Flash – na prática, o usuário não pode ver animações na web como vídeos, infográficos e anúncios publicitários produzidos no formato deste software da Adobe – que é, em outras áreas, parceira da Apple. Como Steve Jobs não deve dar o braço a torcer e seus portáteis insistem em vender muito, o UOL Tecnologia conversou com Fabio Sambugaro, gerente regional da Adobe Brasil, sobre essa incompatibilidade entre os dois gigantes.
“No final quem perde não é o fabricante X ou Y, quem está em jogo aqui é o usuário. Ao adquirir um dispositivo, ele busca liberdade de utilização e uma limitação acaba criando algo ruim para o usuário [...] Quem perde com tudo isso, sempre, é o usuário. E o desenvolvedor, que tem de fazer conteúdo para os diversos dispositivos”, afirmou. Acompanhado de Marta Clarck, vice-presidente da Adobe para América Latina e Caribe, o principal executivo da empresa no Brasil – que usa um iPad -- também falou sobre o futuro do Flash e HTML5.
Confira abaixo os principais trechos da entrevista.
UOL Tecnologia – Uma das principais críticas em relação aos portáteis da Apple é o fato de eles não rodarem conteúdo em Flash. Qual é a posição da Adobe em relação a esse empecilho?
Fabio Sambugaro – Não há conflito nenhum, cada empresa tem sua estratégia dentro de sua área de atuação. A Apple tem uma estratégia muito focada para o iTunes, a venda deles é muito centralizada. A estratégia da Adobe é um pouco mais aberta.
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UOL Tecnologia – Então vocês não acham que isso seja um obstáculo para a tecnologia da Adobe?
Sambugaro - A única limitação que existe é o browser. No iOS [sistema operacional da Apple para portáteis], se eu rodo o [navegador] Safari não terei o plugin do Flash. Esse é o limitador. Mas na iTunes existem outros navegadores que permitem a visualização [de conteúdo desenvolvido em Flash]. A gente não enxerga essa incompatibilidade como um grande problema, como um obstáculo. A Apple sempre foi uma grande parceira da Adobe. A plataforma Flash é completamente aberta, se eles abrirem muito o Flash podem por em risco o modelo de negócios: estão tentando manter o negócio deles. A gente não tem do que reclamar.
UOL Tecnologia – A Apple anunciou nesta semana ter vendido 25 milhões de iPads em 14 meses. Essa popularização dos dispositivos da Apple não é uma ameaça ao Flash?
Sambugaro - Não, em hipótese alguma. Muito pelo contrário. Hoje a tendência para iPad é usar cada vez menos o browser e cada vez mais as aplicações. O grande sucesso da Apple são as aplicações, e a mesma coisa acontece nos tablets que rodam Android. O desenvolvedor pode então criar o que quiser em Flash e portar, ou fazer a transformação, para o iOS. O mesmo acontece para Android e poderá ser portado para outras plataformas [essa transformação é feita com o Flash Builder, que oferece uma base de códigos comuns na criação de aplicativos para Android, iOS e Blackberry Tablet OS].
UOL Tecnologia – E o que a Apple perde ao não rodar Flash em seus portáteis?
Sambugaro – No final quem perde não é o fabricante X ou Y, quem está em jogo aqui é o usuário. Ao adquirir um dispositivo, ele busca liberdade de utilização e uma limitação acaba criando algo ruim para o usuário. A médio e longo prazo, se a Apple continuar desenvolvendo produtos atraentes para o público, pode continuar tendo essa mesma estratégia e o pessoal vai se adaptar. Se não conseguir ter a demanda da tecnologia, eles podem perder. Quem perde com tudo isso, sempre, é o usuário. E o desenvolvedor, que tem de fazer conteúdo para os diversos dispositivos.
UOL Tecnologia – É o que acontece hoje?
Sambugaro – É o que acontece hoje. Esses 25 milhões de tablets têm de usar alguma alternativa para ver algo que hoje é padrão dentro da web [conteúdo em Flash].
“Única limitação que existe é o browser”, diz Sambugaro sobre Apple não rodar Flash nos portáteis
UOL Tecnologia – E o Flash em relação ao HTML5 [linguagem de programação para páginas de internet]?
Sambugaro – O Flash surgiu para atender às limitações do HTML, e a tendência vai ser sempre essa. A função da Adobe é estar sempre na frente em tecnologia pra suprir aquilo que o HTML não consegue. A Adobe faz parte do W3C, comitê que define as diretrizes do HTML. Hoje, quando se desenvolve algo no Dreamweaver [software de criação e edição na web], por exemplo, existe a opção de exportar automaticamente o conteúdo para HTML5. Ainda existem e sempre vão existir necessidades que o HTML5 não consegue entregar, onde a Adobe pode focar.
UOL Tecnologia – Por exemplo?
Sambugaro – Hoje temos a parte de streaming, e todo mundo foca no usuário final, que não tem controle de acesso [sobre o conteúdo]. Mas as publicações, por exemplo, não podem distribuir sem proteger seu conteúdo. O HTML5 não tem a parte de DRM [digital rights management ou gerenciamento de direitos digitais], que é onde a Adobe consegue focar bastante. Há diversos caminhos onde a Adobe procura complementar o que pode ser feito com o HTML5.
UOL Tecnologia – De nenhuma forma o crescimento do HTML5 ameaça o Flash?
Sambugaro - Não ameaça, porque o Flash surgiu para atender às deficiências ou alguns pontos que o HTML não solucionava. Quando falamos na plataforma de conteúdo da Adobe, que é o que a gente realmente vende, o importante é quem fez o conteúdo: o artista que gerou aquela interface, aquele conteúdo. A partir daí, ele pode, no próprio ferramental da Adobe, escolher se quer usar aquilo em HTML ou em Flash. A adobe tem claro que precisa trabalhar com standards [padrões]. HTML5 é um standard, então é o standard que a gente vai usar. Para mantermos o Flash ativo, ele tem de estar sempre na frente do HTML.
UOL Tecnologia –Qual o futuro do Flash?
Sambugaro - O futuro ainda é promissor, desde que a Adobe continue entregando tecnologia na forma como vem entregando.
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