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Nerds e tatuagens unem culturas que um dia já foram marginalizadas

Ana Ikeda

Do UOL, em São Paulo

31/01/2014 21h01Atualizada em 12/05/2014 12h32

Preconceito contra quem tem tatuagem ainda existe (“coisa de bandido”, pensam alguns), embora sua popularização tenha ajudado a amenizar esse cenário. A cultura nerd, por sua vez, também já teve dias piores (quem não era zoado no colégio por ser nerd que atire a primeira pedra). Mas, quando os temas em outros tempos marginalizados se unem hoje, são capazes de produzir verdadeiras obras-primas, deixando nerds -- e não nerds -- fascinados.

O assunto reuniu cinco palestrantes na Campus Party nesta sexta (31). Entre os nerds tatuados estavam o vlogger PC Siqueira, do ''Mas Poxa Vida'', o professor e empresário Edney Souza e o também professor e podcaster, Gustavo Guanabara. Tatuador há 17 anos, Fabio Satori comentou aspectos técnicos e de escolha do desenho. Já Otávio Albuquerque, do canal ''Rolê Gourmet'' no YouTube, representou os nerds não tatuados.

Siqueira comentou que a meta é chegar ao “corpo fechado” (coberto todo por tatuagens). “Quanto mais tatuagens, mais me sinto confortável, mais fico seguro com meu próprio corpo.” As primeiras tattoos que ele fez, quando tinha 20 anos, foram de personagens de jogos do Atari.

Ele também criticou pessoas que se sentem na obrigação de ter uma tatuagem, seja para estar "na moda" ou se encaixarem em um grupo. “Geralmente são essas pessoas que se arrependem depois. A tatuagem tem que ter um sentido para você”, alertou o vlogger, que disse ficar contrariado ao ver cópias das tattoos que tem em outras pessoas – às vezes até feitas na mesma posição no corpo.

Já Souza é dono de uma tatuagem impressionante com o mapa inspirado na saga “O Senhor dos Anéis” nas costas. “Eu tinha receio de me tatuar, por ser professor e executivo. Mas com o tempo isso passou e fiz o mapa nas costas. Para mim, ele representa transformação e marcou a passagem entre duas fases da minha vida”, conta. O trabalho foi do tatuador Fabio Satori, que se diz “nerd desde criancinha” e bastante influenciado pela arte dos quadrinhos.

Para quem tem dúvida sobre qual tema escolher, Souza aconselha cautela. “A vida marca a gente de tantas maneiras sem você poder escolher. Então, a tatuagem tem que ser algo muito importante para você, uma escolha com significado.”

Guanabara, também professor, disse que tinha receio do que poderia acontecer se seus alunos ou pais deles visse uma tatuagem que fez – já em lugar estratégico para não aparecer muito.

Mas depois percebeu que a curiosidade era positiva: as pessoas se interessavam em saber mais sobre o desenho. “Hoje tenho em um braço as engrenagens, que representam minha relação com tecnologia, tatuadas com efeito 3D. No outro, Kratos, do game ‘God of War’.”

Ele lembra que, ao contar para o tatuador que pretendia ter o desenho de Kratos no braço, o artista -- não nerd -- pesquisou ''a fundo'' o personagem. ''Ele ficou uma semana jogando 'God of War' e pegou detalhes de Kratos no desenho que eu não tinha imaginado para a tatuagem."

Albuquerque foi categórico ao dizer que “não tem nem gosta da ideia de ter” uma tatuagem. “Para o nerd, fazer uma tatuagem é até mais fácil, ele já está à margem da sociedade”, brincou.

No caso dele, não querer ter algo “eternizado” no corpo reflete nada mais do que sua personalidade – ele não gosta da ideia de permanência. “Essas coisas como emprego de carteira assinada, casamento, filhos. Será que eu quero algo que fique no meu corpo para sempre?”, explicou.