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Com ascensão de smartphones, iPod corre risco de "extinção"

Guilherme Tagiaroli

Do UOL, em São Paulo

17/02/2014 06h01

Todo encanto um dia acaba. E a bola da vez no mercado de tecnologia são os revolucionários  iPods, da Apple. Lançado em 2001, o produto virou sinônimo de tocador de música pelo design e simplicidade. No entanto, os resultados do último trimestre de 2013 (temporada de Natal) do toca-MP3 não foram nada bons: a empresa vendeu 6 milhões de aparelhos, comparados a 12,6 milhões em 2012.

Apesar da queda nas vendas, desde 2009 a Apple já está ciente de que os próprios produtos da marca acabariam matando o iPod. “Esperamos que nossos tocadores MP3 tenham suas vendas reduzidas com o tempo, pois estamos nos canibalizando com produtos como o iPod Touch e o iPhone”, disse Peter Oppenheimer, diretor de operações financeiras da Apple, durante apresentação de resultados a investidores em junho daquele ano.

Evolução de venda de iPods ano a ano

  • Arte UOL

    iPod estreou em 2001; após consolidação do mercado de smartphones, venda caiu.  Dados obtidos por meio da soma de unidades vendidas divulgada pela Apple a cada trimestre

O problema da “canibalização” não é algo específico do iPod, mas de toda a categoria de tocadores portáteis de música. Por que comprar um tocador, sendo que essa é apenas uma das múltiplas funções de um smartphone?

“De uns quatro anos para cá, cada vez mais pessoas estão comprando smartphones”, disse Camila Santos, analista da consultoria de mercado GFK. Para ela, um dos fatores determinantes para a redução massiva da venda de tocadores é o barateamento dos telefones inteligentes.

A título de curiosidade, os preços de tocadores multimídia podem variar em varejistas entre R$ 50 e R$ 1.600. Um smartphone, dependendo das configurações, tem preços que começam em R$ 260 e podem chegar até R$ 3.600.

  • Beck Diefenbach/Reuters

    iPod nano (16 GB) custa R$ 759; com valor, é possível comprar um smartphone intermediário

Segundo a analista, caso não haja alguma mudança significativa na área de tocadores, essa categoria pode não se sustentar na competição com os smartphones. De acordo com dados da GFK, o mercado de tocadores portáteis no Brasil teve uma redução de 50% nas vendas em 2013, enquanto o de smartphones cresceu 92,3%. – a companhia não divulga números absolutos.

  • Reprodução/Instagram/claudinhastoco

    Blogueira de moda Cláudia Stoco, 26, comprou, recentemente, um iPod shuffle para ouvir música enquanto pratica exercícios

Com esse cenário, o mercado de portáteis tende a ser algo voltado para fãs ou fins específicos. “O usuário que gosta muito de tocador vai continuar comprando, pois ele já teve uma boa experiência com essa categoria. Mesmo assim, esse dispositivo acaba sendo de uso secundário,” disse.

Mercado de nicho

As razões que envolvem a compra de um tocador multimídia portátil são diversas. Na maioria das vezes tem relação com um uso específico ou apego por parte do usuário. Recentemente, por exemplo, a blogueira de moda Cláudia Stoco, 26, comprou um iPod shuffle, da Apple, durante uma viagem internacional.

“Decidi comprar para ouvir música somente na academia. O iPhone 5s é grande para a pulseira que costumo usar e estava com receio de estragar o aparelho. Além disso, às vezes gosto de correr na rua e não acho muito seguro sair por aí com um celular pendurado no braço”, afirmou.

Usuário antigo de iPod, o designer gráfico Marko Mello, 32, prefere usar o tocador portátil ao smartphone pelo armazenamento robusto. Ele é dono de um iPod Classic de 160 GB – o iPhone com mais espaço para arquivos é o de 64 GB.

  • Arquivo Pessoal

    Designer gráfico Marko Mello, 32, teve iPod antes de smartphone e afirma que não tem aparelho melhor que o tocador portátil pela capacidade

“É um aparelho sensacional. Não conseguiria centralizar minhas músicas no iPhone pela falta de capacidade. No iPod cabe dez vezes mais arquivos, pois não há aplicativos ocupando espaço”, disse.

Mesmo assim, diz, ele mantém algumas playlists de música em seu iPhone para ouvi-las durante as corridas que faz.

Pesa ainda contra a maioria dos tocadores digitais a ascensão de serviços de assinatura de música, como Rdio e Deezer. Essas plataformas, a partir de uma mensalidade, permitem que o usuário ouça música de forma ilimitada. Porém, para poder escutar os arquivos, é necessário que o dispositivo se conecte à internet. Tarefa fácil para os smartphones e algo impossível para quase todos os tocadores.