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Professor faz vaquinha por planetário

Salvador Nogueira - Mensageiro Sideral

Folha de S. Paulo

19/02/2014 16h16

Vejam como é estranho o Brasil. Enquanto criminosos condenados conseguem doações instantâneas para pagar multas milionárias, um dedicado professor pena para arrecadar recursos suficientes para a aquisição de um planetário digital inflável, destinado a capacitar docentes e alunos do Ensino Fundamental e Médio espalhados pelos mais distantes rincões de nosso país. E quanto você imagina que custaria uma máquina dessas? R$ 1 milhão? R$ 2 milhões? Não. Apenas R$ 50 mil.

Planetário inflável serviria para capacitar professores de ciências

Planetário inflável serviria para capacitar professores de ciências

É um triste retrato do pouco valor que se dá ao ensino de ciência no patropi. O professor João Batista Garcia Canalle, da UERJ (Universidade Estadual do Rio de Janeiro), se dedica desde 1998 a organizar a muito bem-sucedida Olímpiada Brasileira de Astronomia e Astronáutica (OBA), com números superlativos de participação entre alunos de escolas públicas e particulares. Ele também coordena a realização dos Encontros Regionais de Ensino de Astronomia (EREA), dedicados à capacitação itinerante de professores de ciências do nosso sistema escolar. “Já foram realizados 45 desses encontros, capacitando mais de 4.500 professores”, conta Canalle.

Para esses eventos, o planetário digital inflável teria importância capital. “Atualmente, utilizamos o céu real — nem sempre disponível devido às nuvens — ou uma projeção do céu através de uma simples apresentação de PowerPoint”, afirma o professor. É evidente que se trata de um investimento importante, e ínfimo no grande esquema das coisas. Canalle reconhece o apoio federal nas iniciativas, mas lamenta a decisão de não haver financiamento para o equipamento.

“O Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e o Ministério de Ciência e Tecnologia (MCTI) sempre foram grandes parceiros da olimpíada. Essas instituições financiam a OBA há anos”, diz. “Porém, não conseguimos recursos para comprar o planetário inflável digital no edital de Feira de Ciências e Mostras Científicas de 2013.”

Resultado: o professor decidiu promover uma “vaquinha”, uma campanha de arrecadação similar à promovida pelos mensaleiros. Contudo, embora tenha uma vasta rede de contatos no ramo do ensino, Canalle não tem o “toque de Midas” de certos políticos. Até agora, em 11 dias de esforço, ele conseguiu reunir R$ 7.952 — o equivalente a 15,9% do total necessário. Nem é preciso dizer que o Mensageiro Sideral recomenda fortemente que você, se puder, colabore. Vá até o site que arrecada os recursos clicando aqui.

Aproveito a deixa para lembrar ao pessoal do poder público que os planetários fixos espalhados pelo Brasil merecem mais atenção. Os dois em São Paulo, no Carmo e no Ibirapuera, estão fechados “por motivos operacionais”, com a promessa de reabertura ainda no primeiro semestre de 2014. É surreal que, num país em que mais de três quartos da população não sabem sequer que a Terra gira em torno do Sol, essas instalações não estejam operando a pleno vapor. Pena que a Fifa não exija planetários, em vez de estádios, para a realização da Copa do Mundo…

Há quem diga que a astronomia é uma ciência diletante, que merece atenção menor. Nem entrarei nesse mérito, mas gostaria de lembrar que o fascínio pelos astros é a porta de entrada, no mundo infantil, para todas as outras ciências. Basta checar com médicos, engenheiros, físicos, químicos e biólogos o quanto eles se interessaram pelo Sistema Solar e pelos mistérios do Universo quando eram crianças. Quantos deles sonharam visitar outros mundos em sua tenra infância? Precisamos urgentemente multiplicar esse sentimento, se quisermos construir desenvolvimento de verdade para as gerações futuras.

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