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A próxima grande novidade não está na CES deste ano

CES 2015: Sony apresentou TV de 4,9 mm de espessura; para articulista da "Bloomberg", faltam revoluções que façam os consumidores trocarem os aparelhos que têm em casa - Jae C. Hong/AP
CES 2015: Sony apresentou TV de 4,9 mm de espessura; para articulista da "Bloomberg", faltam revoluções que façam os consumidores trocarem os aparelhos que têm em casa Imagem: Jae C. Hong/AP

Leonid Bershidsky

Da Bloomberg

07/01/2015 15h28

No Salão Internacional de Eletrônica de Consumo (CES) deste ano, que ocorre em Las Vegas, o que se fala é que os fabricantes de hardware estão em busca de novos impulsores de receita. O setor da eletrônica de consumo registrou um ganho de apenas 1 por cento no ano passado, depois de ter encolhido 1 por cento em 2013. Sem novos aparelhos, como o laptop no final da década de 1980, ou o iPod em 2001, ele mercado está estagnando. Qual poderia ser o próximo dispositivo revolucionário?

Um vídeo apresentado pelo laboratório de inovação de Harvard mostra como algumas engenhocas fenomenais mudaram nossas vidas, ou, pra ser mais exato, nossos escritórios físicos. As coleções de discos físicos morreram do mesmo jeito. A tecnologia desentulhou nosso ambiente e facilitou o transporte de nossa riqueza cultural e social - ou o acesso a ela em qualquer lugar.
 
As empresas que fornecem tais soluções já amadureceram. A Sony pode tentar reinventar o Walkman como um reprodutor de áudio de alta resolução que custe US$ 1.200, e a Apple ainda consegue vender smartphones e laptops com preços altos. No entanto, os aparelhos que usamos comumente agora são como 'commodities'. 
 
O smartphone se tornou uma em 2014, quando fabricantes chineses como Lenovo, Huawei e Xiaomi apresentaram um desafio crível ao duopólio da Apple e da Samsung. 
 
Um dispositivo pode custar US$ 300 se os gastos com publicidade forem baixos e, principalmente, como no caso da Xiaomi, se o fabricante desenvolver um negócio de conteúdos e serviços em sua plataforma, para reduzir a dependência das margens de hardware. Essa startup agora está cotada em US$ 45 bilhões, mais do que a Uber, justamente porque se adaptou a um mercado de commodity.

A sobrevivência em mercados maduros implica aspectos entediantes, como administração da cadeia de fornecimento, otimização de custos e, às vezes, o marketing bem-sucedido de melhorias irrelevantes. 

Televisores

Os fabricantes de TVs inteligentes estão fazendo muito disso no CES deste ano: aparelhos com definição ultra-alta têm sido um nicho de crescimento. No entanto, apenas 6,4 milhões de unidades foram despachadas: uma TV é só uma TV, uma commodity - quer dizer, um produto produzido em massa.

A próxima grande novidade só vai deslanchar se ajudar a desentulhar ainda mais nossas vidas, se nos deixar jogar fora alguma coisa ou parar de fazer algo entediante que detestamos. Este é o teste para saber se as tecnologias apresentadas no CES vão impulsionar o crescimento. A maioria delas não passa.

Internet das coisas e eletrônicos vestíveis

A internet das coisas é importante em Las Vegas. Algo chamado "alto-falante sinfônico de luz" - basicamente, uma luminária conectada que pode servir de alto-falante - está recebendo críticas positivas. Mas ele, ou qualquer outro objeto conectado, reduz ou aumenta o atulhamento? 

Comprar esses aparelhos vai implicar a compra de dispositivos especiais para proteger as redes ampliadas. O que significa mais aparelhos incomuns e enigmáticos que precisam de manutenção, conserto ou reconexão, além de acompanhamento pelo celular. 
 
Há uma infinidade de projeções que vendem a internet das coisas como a próxima grande revolução, além de muitos números grandes. Contudo, esses aparelhos aumentam a complexidade do cotidiano, ao invés de simplificá-lo.
 
Dá para dizer a mesma coisa sobre a maioria dos aparelhos de vestir modernos - outro campo que está chamando muita atenção no CES -. Apesar da propaganda, só uns 52 milhões de aparelhos foram vendidos em 2014. É menos que a quantidade de smartphones vendidos pela Xiaomi. Isso porque esses aparelhos só entulham mais: eles precisam ser usados com um smartphone, que por si só já faz tudo o que eles podem fazer. É provável que o Apple Watch se saia bem quando chegar ao mercado neste ano, mas só porque é um objeto bonito, de um fabricante cultuado, e não por ser realmente útil.
 
Depois, estão os carros autônomos: eles também são destaque no CES. A pergunta a fazer, no entanto, é se dirigir é um fardo ou um prazer. Se a maioria das pessoas gosta de dirigir - e muitos dos que têm carros gostam -, então os veículos autônomos são só mais um produto de nicho.
 
É provável que a próxima grande novidade não esteja sendo exibida no CES, mas não tem problema: revoluções não acontecem todos os anos.